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Uruguai decreta luto nacional por morte de Mujica e velório no Palácio Legislativo

O presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, decretou luto nacional de três dias em homenagem ao ex-presidente José “Pepe” Mujica, que morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos. A partir desta quarta-feira, 14, as cerimônias de despedida ocorrerão no Parlamento uruguaio até o dia 16 de maio.

“Sentiremos muito a sua falta, velho querido”, declarou Orsi, que acompanhou o traslado do corpo do ex-presidente desde sua residência até o centro de Montevidéu. Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, Mujica optou por cuidados paliativos nos últimos dias, após o avanço da doença. Sua esposa, Lucía Topolansky, também ex-vice-presidente, confirmou que ele vinha sendo assistido em casa para o controle da dor.

A notícia de sua morte foi divulgada nas redes sociais pelo próprio presidente Orsi, que exaltou o legado de Mujica como líder, ativista e inspiração para gerações. O velório no Parlamento se tornou um ponto de encontro para milhares de uruguaios que, entre flores, bandeiras e lágrimas, prestam a última homenagem.

Biografia

Nascido em uma família humilde em 20 de maio de 1935, nos arredores de Montevidéu, Uruguai, Mujica entrou na política desde jovem. Na década de 1960, ingressou no movimento guerrilheiro dos Tupamaros, fundado por Raúl Sendic, que lutava contra a ditadura militar no Uruguai e tomou o poder em um golpe em junho de 1973. Foi preso quatro vezes, fugiu duas, passando cerca de 14 anos na prisão, muitas vezes sendo torturado e em solitária. Com o fim do regime militar, em 1985, foi libertado graças à anistia.

Nos anos seguintes, Mujica ajudou a fundar a coalizão Frente Ampla (FA), tornando-se uma das principais vozes da esquerda uruguaia. Em 2005 foi eleito senador e em 2009 foi eleito presidente do Uruguai, derrotando Luis Alberto Lacalle, pai do atual presidente Lacalle Pou, de centro-direita. Após ser empossado, em 2010, tornou-se o presidente mais velho da História do país.

Durante seu mandato, Mujica recusou-se a morar no palácio presidencial, que foi oferecido para se tornar um refúgio de desabrigados. Morava com sua companheira (também ex-tupamara) — que, ao contrário do ex-presidente, pertenceu a uma família de classe alta — e seu cachorro de três patas em sua chácara, Rincón del Cerro, na zona rural da capital, onde construiu uma vida simples desde que foi libertado. Uma casa simples, cheia de livros e potes de vegetais para conserva, e onde ele cultivava crisântemos havia décadas.

— Quando estou no campo trabalhando com o trator, às vezes paro para ver como um passarinho constrói seu ninho. Ele nasceu com o programa. Ele já é arquiteto. Ninguém o ensinou — disse Mujica ao NYT, ao falar sobre a complexidade da natureza. — Eu admiro a natureza. Eu quase tenho uma espécie de panteísmo. Você tem de ter olhos para vê-la.

Vida política

No poder, foi responsável por um governo mais progressista, com a descriminalização do aborto e da maconha, além da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O político também doou grande parte de seu salário na Presidência por considerar que no Uruguai “vivem muitas pessoas pobres”.

Foi sucedido no cargo por Tabaré Vázquez, reassumindo a sua cadeira no Senado. Em 2018, quando renunciou ao Senado pela primeira vez, disse em uma carta estar “cansado da longa viagem” e que iria se “refugiar na aposentadoria”. Menos de um ano depois, no entanto, candidatou-se novamente e foi eleito. Ocupou o cargo até o ano de 2020, quando decidiu renunciar definitivamente e se aposentar da vida política por motivos de saúde.

— Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado — disse Mujica na entrevista ao NYT. — Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido.

Fonte: Exame

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