A Hong Kong University of Science and Technology (HKUST), na China, fez um convite público nesta sexta-feira, 23, para que alunos de graduação e pós-graduação de Harvard se transfiram para lá.
Nesta semana, o governo de Donald Trump retirou a autorização de Harvard para receber alunos estrangeiros. Com isso, novos estudantes de fora não conseguirão obter vistos, e atuais alunos e pesquisadores ficarão sob risco de expulsão do país. A universidade recorreu da proibição na Justiça, com o argumento de que a medida vai contra a Constituição americana.
A HKUST promete admissão facilitada, transferência de créditos e apoio acadêmico para os alunos interessados, em áreas como moradia e obtenção de vistos.
“A diversidade alimenta a criatividade e o progresso”, disse Gou Yike, reitor da HKUST, em nota. “Estamos preparados para receber os estudantes de Harvard em nossa comunidade, oferecendo-lhes os recursos e o ambiente vibrante necessários para prosperar em suas áreas.”
A HKUST fica em Hong Kong, território que pertence à China, mas possui sistema político e financeiro diferenciado. A península é uma dos principais centros financeiros da Ásia.
Crise entre Harvard e Trump
Nesta semana, o governo Trump impediu Harvard de receber alunos estrangeiros. A universidade anunciou que entrará na Justiça contra a medida. No processo, a entidade diz que a medida ameaça cerca de 7.000 estudantes e pesquisadores e que a ação da Casa Branca vai contra a Constituição do país.
“Com uma canetada, o governo busca apagar um quarto do corpo de estudantes de Harvard. São estudantes internacionais que contribuem significativamente para a universidade e sua missão”, disse a entidade, no processo contra o governo, obtido pela EXAME. “Sem os estudantes internacionais, Harvard não é Harvard.”
Estudantes e pesquisadores estrangeiros que atualmente estão na universidade poderão ser expulsos do país, pois a validade de seus vistos será suspensa. A situação ocorre às vésperas do período de formatura, que ocorre em junho nos EUA.
Com a medida, projetos de pesquisa em áreas como saúde, IA e energia serão paralisados. Novos estudantes para os cursos que começam este ano não conseguirão obter vistos.
No processo, Harvard diz que foi pressionada pelo governo Trump a adotar medidas como fazer uma auditoria de “diversidade ideológica” em todos os departamentos; reformular admissões e contratações com base em alinhamento político; expulsar estudantes ligados a grupos pró-palestinos e submeter relatórios trimestrais ao governo federal até 2028, entre outras.
A universidade se recusou a adotar as medidas. Por conta disso, o governo Trump retirou a autorização da universidade para receber estudantes estrangeiros, o que, na prática, faz com que os vistos emitidos para esses alunos perca a validade. A universidade recebe alunos de fora há mais de 70 anos.
Além disso, foram congelados US$ 2,2 bilhões em verbas federais, além de ameaças públicas de perda de isenção fiscal.
Como Harvard irá se defender
No processo, Harvard diz que as medidas de Trump violam a Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de expressão, e o devido processo legal, pois a revogação da licença para receber estrangeiros foi feita sem aviso prévio e chance de defesa.
A universidade diz que cumpriu integralmente as solicitações legais de informações. O governo, porém, teria ignorado esses dados e exigido documentos “sem respaldo regulatório”, como vídeos de protestos e registros informais de supostos comportamentos “antiamericanos”.
A entidade solicitou uma ordem de restrição temporária para suspender a revogação até julgamento final. A decisão pode sair nos próximos dias. Enquanto isso, milhares de estudantes estrangeiros viverão um cenário de incerteza sobre seu futuro no país.
Em uma carta interna aos alunos, o reitor Alan Garber prometeu seguir defendendo os alunos estrangeiros. “Aos estudantes e acadêmicos internacionais afetados pela ação de ontem, saibam que vocês são membros essenciais da nossa comunidade. Graças a vocês, sabemos mais e compreendemos mais, e nosso país e nosso mundo se tornam mais iluminados e mais resilientes. Vamos apoiá-los enquanto fazemos todo o possível para garantir que Harvard continue aberta ao mundo”, disse.
Fonte: Exame