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Trump volta a pressionar por corte de juros e nega que vá demitir presidente do Fed

A poucos dias para a próxima reunião do Federal Reserve (Fed), marcada para esta quarta-feira, 8, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a cobrar publicamente uma redução nas taxas de juros, hoje entre 5,25% e 5,50%. Apesar da pressão, Trump negou que pretenda demitir o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, cujo mandato vai até maio de 2026.

“Não, não, não. Por que eu faria isso? Eu terei a oportunidade de substituir essa pessoa em um curto período de tempo”, afirmou Trump em entrevista à emissora NBC News, exibida neste domingo, 5.

Mesmo sem defender uma remoção antecipada, Trump manteve as críticas ao presidente do Fed.

“Ele [Powell] deveria baixá-las, mas prefere não fazer isso porque não é meu fã. Ele simplesmente não gosta de mim porque acho que ele é um completo teimoso”, disse o republicano.

A declaração reacendeu o debate sobre a independência do Fed, vista como um dos pilares da credibilidade da política monetária americana.

Para Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais, Trump recuou de uma possível tentativa de demissão por compreender os riscos institucionais de tal ato.

“O presidente Trump entendeu que se forçasse, seja na Suprema Corte Americana, uma tentativa de remover o presidente do Federal Reserve, ele estaria minando a credibilidade da política monetária americana e uma das instituições que o mundo inteiro olha com importância”, afirma Lucena.

Segundo ele, o Fed é mais do que o banco central dos EUA — é uma referência global.

“O Federal Reserve não é só o banco de última instância dos Estados Unidos, mas do planeta inteiro. Quando há uma crise econômica, como vimos em 2008 ou durante a pandemia, as ações do Fed foram tomadas com independência e técnica para manter a saúde do sistema financeiro global”, diz.

Lucena reforça que é importante destacar neste cenário que Jerome Powell foi indicado para o primeiro mandato por Donald Trump e reconduzido pelo ex-presidente Joe Biden. Seu mandato à frente do Fed se encerra em maio do próximo ano.

Futuro do Fed sob novo governo

Com Trump tendo uma nova chance de indicar o presidente do Fed em 2026, Lucena defende que o essencial será manter a independência da autoridade monetária, independentemente da linha ideológica do novo presidente do banco central.

“Tudo vai depender de como esse novo presidente vai agir. O importante é que ele seja independente, como Powell foi. O Federal Reserve tem uma dupla missão: garantir o maior nível de emprego possível e a menor inflação possível”, diz. “O que os agentes econômicos esperam é que a política monetária continue distante das influências da política fiscal ou de interesses de governo.”

Para Vinicius Vieira, professor de Relações Internacionais da FGV e da FAAP, a possibilidade de Trump indicar um novo presidente para o Fed em 2026, apesar de ser seu direito constitucional, pode gerar incertezas no mercado.

“A grande questão é se o novo presidente terá aprovação do Congresso. Tudo indica que sim, se for um nome respeitado pelo mercado. Mas pode haver um acordo de bastidor para que esse nome siga o que a Casa Branca prefere”, afirma.

Mesmo assim, Vieira explica que o Fed funciona como colegiado. O presidente de Washington ouve os presidentes dos 12 bancos regionais, que também têm suas posições. “Então, Trump teria que intervir em todo o sistema para ter um direcionamento favorável”, diz Vieira.

O professor da FGV e da FAAP avalia que a postura de Trump demonstra uma visão populista da economia.

“Ele quer intervir na economia para garantir um bem-estar econômico no curto prazo. Muitos achavam que ele deixaria de lado essa retórica beligerante, mas aqui ele mostra que continua sendo um populista clássico”, afirma.

Declarações polêmicas 

Ainda na entrevista ao programa Meet the Press, da NBC, Trump fez afirmações polêmicas. Ao ser questionado se acredita que deve obedecer à Constituição dos Estados Unidos, o ex-presidente respondeu: “Não sei”.

Para Vieira, a fala é um sinal claro de erosão institucional. “A declaração de Trump de que não sabe se deve obedecer à Constituição é extremamente preocupante. Ele se apresenta como um ‘homem forte’, que coloca a vontade popular acima das leis — inclusive da Constituição”, afirma.

Trump também afirmou que não tem intenção de buscar um terceiro mandato, o que é proibido pela Constituição americana.

“Isso não é algo que eu esteja buscando fazer. Estou buscando ter quatro grandes anos e depois entregar o cargo a alguém, idealmente a um grande republicano que siga adiante”, afirmou o presidente.

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