A Tesla iniciou formalmente a busca por um novo CEO para substituir Elon Musk, segundo informações do The Wall Street Journal. De acordo com fontes ouvidas pelo jornal, o conselho da montadora entrou em contato com empresas de recrutamento executivo para iniciar o processo de sucessão. A movimentação ocorre após meses de queda nas ações e nos lucros da companhia, além do crescente desconforto entre investidores com o tempo dedicado por Musk à política em Washington.
A decisão do conselho de procurar ativamente um novo CEO teria sido tomada há cerca de um mês, segundo o WSJ. Nesse período, Musk vinha gastando grande parte de seu tempo como conselheiro do presidente Donald Trump, liderando a recém-criada Secretaria de Eficiência Governamental. A ausência do executivo na gestão diária da empresa gerou tensões internas, agravadas pelos resultados financeiros negativos e pela deterioração da imagem da Tesla em alguns mercados estratégicos.
Em uma reunião com Musk, o conselho teria exigido que ele se comprometesse publicamente a dedicar mais tempo à Tesla, conforme relatado pelo jornal. Musk não teria oferecido resistência. Dias depois, durante uma teleconferência de resultados, o empresário afirmou que, a partir do mês seguinte, voltaria a se dedicar prioritariamente à companhia.
Ainda segundo o WSJ, o conselho já teria escolhido uma empresa de recrutamento para liderar a busca, embora não se saiba o estágio atual do processo. Também não está claro se Musk, que é membro do próprio conselho da Tesla, tem conhecimento sobre a iniciativa ou se sua promessa de maior dedicação à empresa impactou os planos de sucessão.
A Tesla enfrenta uma série de desafios. Em 2024, registrou queda nas vendas pela primeira vez em mais de uma década, além de recuar sua margem de lucro após sucessivos cortes de preços. O Cybertruck, modelo de design polêmico que deveria ser um marco para a marca, tem acumulado recalls e resultados abaixo do esperado. De acordo com o WSJ, apenas 39 mil unidades foram vendidas nos Estados Unidos em seu primeiro ano completo, muito abaixo da meta de 250 mil.
A imagem de Musk também tem pesado sobre a empresa. Sua proximidade com Trump, que critica políticas de incentivo a veículos elétricos e promete fortalecer os setores de petróleo e gás, afetou a percepção de consumidores e investidores. Ainda conforme o Wall Street Journal, motoristas passaram a colar adesivos em seus Teslas para se dissociar politicamente do CEO, enquanto mercados como Califórnia e Alemanha mostraram queda na demanda.
Internamente, a presença reduzida de Musk foi sentida. Mais de 20 executivos respondem diretamente a ele, mas muitos relataram ao WSJ que só tiveram contato com o chefe em transmissões públicas, como uma reunião geral feita via rede social X. Alguns colaboradores disseram que, inicialmente, ficaram aliviados com o afastamento, por conta da tendência de Musk ao microgerenciamento, mas que a situação se tornou insustentável com a falta de direção estratégica.
A pressão por mudanças não vem apenas dos bastidores. Segundo o jornal, Musk confidenciou a pessoas próximas que está cansado da função e que gostaria de deixar o cargo de CEO, embora tenha dúvidas sobre quem seria capaz de sustentar a visão de futuro da Tesla, que vai além da mobilidade elétrica e inclui robótica e inteligência artificial.
Ainda que o executivo mantenha 13% das ações da empresa, ele vem reclamando, publicamente e nos bastidores, de não receber salário há sete anos. Para tratar do tema, o conselho criou recentemente um comitê especial de remuneração.
Mesmo com a instabilidade, a Tesla tenta manter o discurso de transição para uma nova fase. Além do Cybertruck, aposta em projetos como o robô humanoide Optimus e o sistema de robotáxis, que poderá estrear em Austin, no Texas, até o fim de junho. O objetivo é transformar a empresa em uma potência de automação e IA, com ambições de alcançar um valor de mercado de US$ 30 trilhões, segundo projeções de Musk.
Na semana passada, porém, a empresa reportou queda de 71% no lucro trimestral e de 20% na receita automotiva, impactada por vendas fracas nos EUA, China e Alemanha. Em conversa com investidores, Musk atribuiu parte da reação negativa à sua atuação no governo, afirmando que o “motivo real” dos protestos seria o combate ao desperdício e à fraude — uma referência às mudanças que tenta implementar em Washington.
O Wall Street Journal também relatou que, apesar de prometer foco na Tesla, Musk continua dividido entre cinco empresas e compromissos políticos. Integrantes do conselho afirmaram a investidores que o CEO participa remotamente das reuniões, mas às vezes não está bem informado e precisa ser atualizado sobre os assuntos da companhia.
A possível saída de Musk do cargo de CEO marcaria uma virada histórica para a Tesla. Fundador e líder visionário da companhia há quase duas décadas, ele foi o responsável por transformar a Tesla em uma das empresas mais valiosas do mundo. Ainda assim, a crescente pressão por resultados, alinhamento estratégico e estabilidade de liderança pode forçar uma mudança que muitos no mercado já consideram inevitável.
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