O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), deixará o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) até dezembro deste ano para disputar uma vaga no Senado em 2026. Apesar de a legislação permitir que ele permaneça no cargo até abril do ano que vem, a saída foi antecipada após acordo com o governador, que já busca um nome técnico e sem pretensões eleitorais para substituí-lo.
Derrite voltará à Câmara dos Deputados, onde tem mandato, com a justificativa de que poderá ter mais liberdade para defender seus projetos e ampliar sua visibilidade de olho na campanha. A movimentação, no entanto, também atende ao interesse de Tarcísio de reduzir o desgaste político provocado pelas recorrentes crises na segurança pública sob comando de Derrite.
Embora a gestão tenha registrado queda nos homicídios (de 2.909 em 2022 para 2.517 em 2023), roubos (de 242.991 para 193.714) e latrocínios (de 178 para 166), houve forte aumento nas mortes causadas por policiais militares em serviço (de 256 para 649) e nos casos de estupro (de 13.240 para 14.579). Os dados são da própria Secretaria de Segurança Pública.
A imagem do governo também foi arranhada por episódios de grande repercussão, como a morte de uma criança de quatro anos durante operação da PM em Santos, o assassinato de um estudante de medicina por um policial, e o caso de um homem negro baleado 11 vezes nas costas por um militar de folga. Também houve o registro de um policial jogando um homem de uma ponte. Além disso, uma série de latrocínios na cidade de São Paulo tem colocado em xeque a eficiência da polícia.
O estopim do distanciamento entre Tarcísio e Derrite ocorreu em novembro de 2024, após o assassinato do delator do PCC, Antônio Gritzbach, no aeroporto de Guarulhos. Mesmo após o governador pedir que cancelasse uma viagem internacional, Derrite foi visto em uma festa em Maresias poucas horas depois do crime.
Superexposição
Além dos desgastes administrativos, Tarcísio também considera que o secretário tem usado a pasta com viés eleitoral, intensificando sua exposição nas redes sociais e assumindo postura mais radical do que a do próprio governador. A diferença de posicionamento ficou evidente nas reações à PEC da Segurança Pública, proposta pelo ministro Ricardo Lewandowski. Enquanto Tarcísio adotou tom institucional, Derrite atacou diretamente o ministro, chamando suas falas de “besteiras”.
Em evento no fim de 2024, com Lewandowski e o ministro do STF Gilmar Mendes, Tarcísio reconheceu excessos na segurança pública e disse estar arrependido por ter sido contrário ao uso de câmeras corporais nos uniformes da PM. A fala causou desconforto em Derrite, que estava na plateia.
Apesar do desgaste, a saída do secretário será construída publicamente como parte de seu projeto político para o Senado. Tarcísio pretende manter uma imagem de unidade no grupo de centro-direita, que deve enfrentar a esquerda liderada por Lula em 2026. No ato de filiação de Derrite ao PP, em maio, o governador compareceu e o evento foi remarcado para se adequar à sua agenda.
Saída
Entre os cotados para suceder Derrite está Marcello Streifinger, atual secretário da Administração Penitenciária. Com perfil técnico e sem ambições eleitorais, Streifinger é visto como favorito por Tarcísio — ele chegou a ser cogitado para a Segurança Pública no início da gestão, mas foi preterido por pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo.
Além de Derrite, outros cinco secretários devem deixar o governo para disputar cargos eletivos em 2026, incluindo nomes das pastas da Casa Civil, Agricultura, Políticas para a Mulher, Esportes e Turismo. A sucessão ainda depende de arranjos partidários, mas Tarcísio já se movimenta para evitar novas turbulências no ano eleitoral.
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Fonte: InfoMoney