Em um mercado dominado por superproduções milionárias, a Sandfall Interactive, estúdio de jogos sediado em Montpellier, na França, alcançou um feito raro.
Com apenas 30 funcionários, a empresa lançou “Clair Obscur: Expedition 33” e vendeu 1 milhão de cópias em apenas três dias. O título, um RPG de turnos, chegou às lojas em 24 de abril de 2025 custando US$ 50 no mercado global e R$ 180 no Brasil, valor inferior aos US$ 70 (cerca de R$ 350) cobrados por jogos AAA de grandes produtoras.
A aposta em preço acessível e qualidade foi acompanhada de sucesso comercial imediato: o jogo vendeu 500 mil unidades no primeiro dia, número que dobrou nas 48 horas seguintes. Esses dados não incluem acessos via Xbox Game Pass, serviço de assinatura da Microsoft, onde o título também está disponível desde o lançamento.
A Sandfall Interactive atribui parte do êxito à filosofia de desenvolvimento enxuta e ao espírito indie. “Queremos que o maior número possível de pessoas descubra nosso mundo”, explicou o estúdio em comunicado nas redes sociais. A estratégia contrasta com a tendência dos grandes estúdios, que hoje dependem de microtransações e lançamentos de alto custo para equilibrar seus orçamentos.
Orçamentos de superproduções e a crise do modelo tradicional
Enquanto “Clair Obscur” alcança sucesso com investimento modesto, superproduções como “Marvel’s Spider-Man 2” (US$ 315 milhões) e “Cyberpunk 2077” (US$ 440 milhões) exemplificam a escalada de custos no setor. Segundo a Autoridade de Mercados e Concorrência do Reino Unido (CMA), o orçamento médio de um jogo AAA em 2025 ultrapassa US$ 200 milhões.
Esse cenário tem levado grandes editoras a se apoiarem em microtransações para complementar receitas. Em 2021, a Activision Blizzard faturou US$ 5,1 bilhões apenas com compras dentro dos jogos, representando 61% de sua receita. Relatórios recentes mostram que, em 2024, 58% da receita dos jogos de PC foi proveniente de microtransações.
Uma alternativa viável para a indústria?
A boa recepção de “Clair Obscur: Expedition 33” abre espaço para discussão sobre novos modelos de negócios. Com narrativa ambientada em uma França mágica da Belle Époque, combate inspirado em franquias como “Final Fantasy” e “Persona”, e direção de arte caprichada, o jogo prova que qualidade não precisa estar atrelada a orçamentos bilionários.
O caso da Sandfall Interactive reacende o debate: seria possível a indústria de jogos reequilibrar custos e expectativas? Para analistas, o feito serve como exemplo de que criatividade e gestão eficiente podem ser tão valiosas quanto investimentos maciços.
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