Home / Sustentabilidade / Stablecoin descentralizadas e o futuro da governança no Defi

Stablecoin descentralizadas e o futuro da governança no Defi

Por Bruno Maia*

Stablecoins são criptomoedas projetadas para manter um valor estável em relação a um ativo de referência, como o dólar americano ou o ouro. Elas surgem como uma resposta direta à volatilidade característica do mercado cripto, oferecendo previsibilidade para transações, proteção de valor e integração com aplicações de finanças descentralizadas (DeFi).

Em 2024, o número de usuários ativos aumentou 53%, passando de 19,6 milhões para 30 milhões. Simultaneamente, o fornecimento total de stablecoins saltou de US$138 bilhões para US$225 bilhões, um aumento de 63%. Esse crescimento reflete não apenas a adoção por investidores individuais, mas também a integração por instituições financeiras e empresas globais.

  • O JEITO FÁCIL E SEGURO DE INVESTIR EM CRYPTO. Na Mynt você negocia em poucos cliques e com a segurança de uma empresa BTG Pactual. Compre as maiores cryptos do mundo em minutos direto pelo app. Clique aqui para abrir sua conta gratuita.

Além disso, as stablecoins facilitaram US$35 trilhões em transferências no último ano, superando o volume anual processado pela Visa em 2024, destacando sua crescente importância como meio de pagamento eficiente e confiável.

Para que as stablecoins verdadeiramente descentralizadas prosperem e ganhem escala global, é essencial que seus protocolos subjacentes sejam igualmente robustos e confiáveis. Isso nos leva a dois grandes desafios enfrentados pelas finanças descentralizadas (DeFi): a mitigação de riscos em contratos inteligentes e oráculos, e o futuro da governança em DAOs.

  • Assine a newsletter do Future of Money e saiba tudo sobre o futuro do dinheiro, dos investimentos e do seu bolso.

Contratos inteligentes, os códigos que automatizam regras e processos nos protocolos DeFi, são, por definição, imutáveis e públicos. Isso oferece transparência, mas também abre margem para falhas e vulnerabilidades exploráveis.

Da mesma forma, os oráculos, que conectam blockchains a dados do mundo real, muitas vezes se tornam pontos únicos de falha. Para as stablecoins, qualquer falha nessas camadas pode ser catastrófica, afetando diretamente sua paridade e confiança.

Como resposta, vemos a adoção de práticas mais rigorosas, como auditorias regulares, programas de recompensa por bugs e a implementação de oráculos descentralizados essenciais para reduzir a dependência de fontes únicas de informação e preservar a integridade dos dados utilizados na emissão e na manutenção do lastro das stablecoins.

No campo da governança, o modelo predominante em muitas DAOs ainda se baseia na posse de tokens: quanto mais tokens, maior o poder de voto. Embora esse modelo promova uma forma direta de participação, ele pode levar à centralização do poder nas mãos de poucos grandes detentores e à tomada de decisões pouco qualificadas.

Como já foi ironizado no setor, permitir que um adolescente que acumulou tokens de um memecoin decida os rumos de um protocolo complexo é tão arriscado quanto permitir que ele decida sobre uma cirurgia em uma DAO hospitalar.

Uma alternativa promissora está no uso de NFTs como instrumentos de representação de papéis, reputações e contribuições dentro de uma comunidade. Esses ativos podem agregar uma camada qualitativa à governança, permitindo que diferentes formas de envolvimento sejam reconhecidas e valorizadas.

A lógica por trás disso é simples: quanto mais sofisticada for a forma de expressar valor e confiança dentro de uma comunidade, mais complexa precisa ser a lógica programada no contrato inteligente que a rege.

Esse avanço é fundamental para stablecoins descentralizadas, que precisam garantir não apenas resiliência técnica, mas também legitimidade organizacional. DAOs com mecanismos mais expressivos de governança podem tomar decisões mais alinhadas com os interesses de suas comunidades, aumentando a confiança e a sustentabilidade de longo prazo de seus tokens.

A importância das stablecoins descentralizadas

Apesar de representarem uma ruptura promissora com o sistema financeiro tradicional, a maioria das stablecoins mais utilizadas hoje ainda é centralizada. Entre as dez maiores em capitalização de mercado, apenas três são descentralizadas, um paradoxo para um setor que visa justamente a descentralização como valor fundamental.

As stablecoins centralizadas, como USDC e USDT, são operadas por empresas que detêm controle direto sobre os fundos, podendo bloquear endereços e sendo suscetíveis a riscos regulatórios e bancários. Já as alternativas descentralizadas, como DAI, operam via contratos inteligentes geridos por DAOs, oferecendo transparência on-chain e maior resistência à censura.

No entanto, mesmo as stablecoins descentralizadas enfrentam dilemas estruturais. O DAI, da MakerDAO, é o caso mais consolidado, mas ainda depende significativamente de ativos centralizados como USDC e títulos do Tesouro americano para manter sua paridade com o dólar.

Isso expõe o projeto a riscos externos e fragiliza sua proposta de descentralização. Modelos que evitam colaterais centralizados, como o LUSD da Liquity, conseguem manter maior pureza descentralizada, mas enfrentam alta volatilidade e menor eficiência de capital. Alternativas algorítmicas tentam superar essas limitações, mas falharam em estabilidade, como visto no colapso do UST da Terra.

Esse cenário nos leva ao trilema das stablecoins: estabilidade, descentralização e eficiência de capital, onde, até hoje, nenhuma solução conseguiu equilibrar os três pilares de forma plena. Enquanto as centralizadas sacrificam a descentralização, as sobrecolateralizadas comprometem a eficiência, e as algorítmicas lutam com a estabilidade.

Resolver esse trilema será um divisor de águas para o futuro das finanças descentralizadas, permitindo não apenas o crescimento sustentável do setor, mas também a construção de uma infraestrutura financeira verdadeiramente global, robusta e acessível, facilitando a integração com aplicativos de finanças descentralizadas (DeFi), ampliando as possibilidades de inovação financeira e acesso a serviços como empréstimos, poupança e investimentos.

*Bruno Maia é head de ecosystem growth da Cartesi.

Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | X | YouTube Telegram | Tik Tok  

Ir para o conteúdo original: https://exame.com/future-of-money/stablecoin-descentralizadas-e-o-futuro-da-governanca-no-defi/

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *