A agência atômica das Nações Unidas informou que seus inspetores restantes no Irã deixaram o país, aprofundando o apagão sobre o programa nuclear de Teerã poucas semanas após o país ter sido alvo de grandes ataques aéreos dos Estados Unidos e Israel.
Nesta sexta-feira (4), um diplomata ocidental, que pediu anonimato por tratar-se de informação sensível, afirmou que os inspetores foram retirados da República Islâmica devido a uma nova lei aprovada por Teerã que pode criminalizar a fiscalização nuclear internacional. A retirada deve provocar críticas rápidas dos governos ocidentais, que vêm pressionando Teerã para permitir a retomada das visitas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) desde o cessar-fogo no conflito entre Israel e Irã no mês passado.
A decisão israelense de bombardear instalações nucleares e alvos militares em 13 de junho criou uma barreira efetiva, encerrando a supervisão sobre a capacidade do Irã de desenvolver um programa de armas.
Em comunicado, a AIEA informou que todos os seus especialistas deixaram Teerã com segurança na sexta-feira rumo a Viena, sede da agência, ressaltando a “importância crucial” de que as negociações com o Irã sejam retomadas “o mais rápido possível”.
A decisão da AIEA de se retirar do Irã ocorreu um dia após o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, afirmar que seu país continuaria cooperando com a agência, levantando dúvidas sobre o alcance e o status legal da nova lei. Segundo a legislação, a cooperação com a AIEA está suspensa até uma revisão em três meses.
Desde que Israel iniciou seus ataques ao Irã — que os EUA apoiaram em 22 de junho ao lançar mais de uma dúzia de bombas de 13,6 toneladas em instalações nucleares-chave — a relação entre o Irã, a AIEA e seu diretor-geral, Rafael Mariano Grossi, deteriorou-se drasticamente.
Autoridades iranianas acusaram a AIEA — e Grossi em particular — de conivência com os ataques israelenses, alegando que seu último relatório forneceu pretexto para os bombardeios. Grossi negou veementemente as acusações.
Nos últimos dias, aumentaram as preocupações de segurança entre os poucos inspetores que permaneciam em Teerã, após apelos iranianos para punir Grossi, segundo outra fonte.
Os inspetores da AIEA já haviam deixado seu hotel oficial e se mudado para local não divulgado, disse a fonte, que pediu anonimato. A saída coincidiu com a reabertura do espaço aéreo iraniano para voos comerciais após três semanas.
Os 274 inspetores da AIEA credenciados para realizar inspeções verificavam a localização dos 409 quilos de urânio quase apto para bomba do Irã, cuja situação agora é desconhecida.
É a primeira vez desde que o Irã começou a enriquecer urânio há duas décadas que os inspetores nucleares da AIEA — que realizaram quase 500 inspeções no país no ano passado — foram obrigados a deixar o território iraniano.
O enviado de Teerã em Viena afirmou que os ataques israelenses e americanos causaram danos irreparáveis ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, acordo internacional que permite a países não armados acesso a tecnologias nucleares em troca de inspeções da AIEA.
Embora o Irã ainda não tenha deixado o tratado, pode argumentar que tem direito legal de suspender a fiscalização com base na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, que permite a signatários suspender cooperação caso seus direitos sejam violados. Internacionalmente, é amplamente aceito que ataques a instalações nucleares violam normas legais.
Se os argumentos legais do Irã terão aceitação na AIEA ou além dela pode influenciar a manutenção do cessar-fogo entre a nação do Golfo Pérsico e Israel. Os combates cessaram em 24 de junho após 12 dias, mas nenhum dos lados descartou a retomada das hostilidades.
Para ajudar a evitar um novo ataque, o Irã pode usar a incerteza sobre o paradeiro de seu urânio altamente enriquecido para tentar ditar os acontecimentos. Para que EUA e Israel obtenham informações sobre o estado e localização do estoque, inspeções físicas e verificações precisarão ser realizadas, provavelmente por meio de acesso negociado para a AIEA.
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Fonte: InfoMoney