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Rússia condiciona fim do avanço na Ucrânia a reconhecimento de anexação da Crimeia pelos EUA

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se ofereceu para interromper sua invasão na Ucrânia ao longo da atual linha de frente, se os Estados Unidos reconhecerem oficialmente a anexação da Crimeia, península ucraniana, além de outras exigências.

A proposta foi feita durante uma reunião em São Petersburgo com Steve Witkoff, enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo fontes ouvidas pelo jornal britânico Financial Times. A oferta de Putin representa o primeiro recuo formal da Rússia desde o início da guerra, em 2022, e espera-se que um acordo seja concluído até 30 de abril.

Putin, ainda de acordo com o Financial Times, estaria disposto a abrir mão do seu controle total sobre as quatro regiões da linha de frente da Ucrânia — Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia — se os EUA fizessem concessões geopolíticas mais amplas a Moscou, como reconhecer seu controle da Crimeia e impedir que a Ucrânia se junte à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Os EUA, portanto, sugeriram uma solução que envolveria o reconhecimento da anexação da Crimeia pela Rússia e do controle das áreas das quatro regiões ucranianas. A Casa Branca também propôs o envio de forças europeias de manutenção da paz e de uma força militar não pertencente à Otan para monitorar o cessar-fogo ao longo da atual linha de frente de mais de mil quilômetros.

Em setembro de 2022, Putin declarou a anexação das quatro províncias do sudeste da Ucrânia em uma cerimônia no Kremlin, embora a Rússia não controlasse nenhuma delas integralmente na época. A Rússia ainda não controla totalmente nenhuma das quatro regiões, apesar de ter mantido as capitais regionais de Donetsk e Luhansk desde sua primeira invasão secreta do leste da Ucrânia com o uso de forças locais em 2014.

— Um trabalho tenso está em andamento. Estamos conversando com os americanos. O trabalho é difícil e leva muito tempo, então é difícil esperar resultados imediatos, e o trabalho não pode ser feito em público — afirmou Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, ao Financial Times.

Em uma coluna publicada no domingo, Konstantin Remchukov, editor de um jornal alinhado ao Kremlin, sugeriu que Moscou poderá interromper os combates após reconquistar totalmente a região russa de Kursk, ocupada por militares ucranianos: “Quando eles libertarem o último meio por cento, as tropas poderão parar onde quer que estejam quando a notícia chegar”, escreveu Remchukov no Nezavisimaya Gazeta.

Esforços por um cessar-fogo

No último dia 17, pela primeira vez desde o início da guerra, autoridades dos Estados Unidos, da Ucrânia e de três países europeus reuniram-se em Paris, na França, com o objetivo de reativar os esforços por um cessar-fogo entre Kiev e Moscou. O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o encontro como “uma importante oportunidade de convergência” e afirmou que todos desejam “uma paz sólida e sustentável”. Na Rússia, no entanto, o encontro na capital francesa foi mal recebido. Segundo Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, “os europeus têm um foco na continuação da guerra”.

Uma próxima reunião entre autoridades ucranianas, americanas e europeias está marcada para esta quarta-feira em Londres, embora Witkoff e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, tenham cancelado sua participação. Keith Kellogg, enviado de Trump à Ucrânia, deve comparecer. Segundo agências russas, Witkoff visitará Moscou ainda nesta semana.

O presidente Trump, em publicação nas redes sociais, declarou que espera um acordo “esta semana” entre Rússia e Ucrânia, e afirmou que os países poderiam “começar a fazer negócios com os Estados Unidos da América, que estão prosperando, e fazer uma fortuna”.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse na última terça-feira que ainda não recebeu uma proposta formal da equipe de Trump, mas se mostrou aberto ao diálogo: “Há sinais, ideias, discussões, mas não é uma proposta oficial. Se tal proposta oficial surgir, nós responderemos.” Zelensky reafirmou, no entanto, sua posição firme em relação à Crimeia: “A Ucrânia não reconhecerá a ocupação da Crimeia. É o nosso território, o território do povo ucraniano, não há nada a discutir aqui”.

Apesar desta proposta de recuo, Putin disse no ano passado que não aceitaria nenhum acordo de paz a menos que a Ucrânia retirasse suas tropas das linhas de frente e desse à Rússia controle total sobre as quatro províncias.

Antes, as demandas russas por um acordo de paz incluíam uma promessa da Ucrânia de permanecer neutra e abandonar suas aspirações na Otan, o reconhecimento das reivindicações russas sobre territórios anexados, o alívio das sanções ocidentais e uma redução das forças da Otan em estados-membros próximos à Rússia.

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