Com base em expectativas mais otimistas para a economia e oportunidades específicas em empresas como Marco Polo (POMO4), Randon (RAPT4) e WEG (WEGE3), especialistas do mercado apontam que os bens de capital devem ganhar protagonismo nos portfólios de investidores no próximo ciclo.
No episódio mais recente do programa Clássicos da Bolsa, da XP, o setor de bens de capital ganhou os holofotes. A live, apresentada por Lucas Laghi, head de Bens de Capital no Research da XP, contou com a participação dos gestores João Vítor Parente, da AZ Quest, e João Pedro Pelóia, da AlphaKey.
Com um olhar afiado sobre a dinâmica industrial brasileira, os especialistas analisaram as tendências, oportunidades e desafios do setor que, apesar de cíclico, pode ser uma das apostas de maior retorno para 2025. “O setor de bens de capital é estratégico para a economia e, portanto, sensível à dinâmica macroeconômica. O objetivo é ajudar o investidor a identificar os melhores nomes para compor o portfólio”, destacou Laghi na abertura.
João Parente, responsável pelos setores de energia, saneamento, bens de capital, aéreas e rodovias na AZ Quest, e Pelóia, que cobre bens industriais, logística e infraestrutura na AlphaKey, explicaram como estruturam suas análises e o que estão observando para definir as melhores oportunidades entre as ações listadas.
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Da margem ao backlog
Tanto Parente quanto Pelóia compartilharam frameworks parecidos para a análise de empresas industriais. Entre os principais indicadores, destacam-se o price-to-earnings (P/E), EV/EBITDA, dividend yield, geração de caixa e retorno sobre capital investido (ROIC). Mas, mais do que múltiplos, os gestores enfatizam o contexto operacional.
“A gente nunca olha para o número isolado”, disse João Parente. “No setor de bens de capital, você precisa considerar expansão ou contração de margem, backlog e competição. O pricing power também é essencial – entender se a empresa consegue repassar custos.”
Pelóia completou: “A gente constrói um mapa de análise que vai além do modelo financeiro. Falamos com concorrentes, fornecedores, outras gestoras. É um setor com muito dado setorial que nos ajuda a antecipar tendências.”
Exemplos práticos disso vêm da leitura de ciclos de vendas de caminhões (Randon), carrocerias de ônibus (Marco Polo) ou a lista de encomendas da Embraer (EMBR3) – dados que servem como termômetro da atividade e sinalizam possíveis inflexões nos resultados.
Visão macro
Para além da análise microeconômica, o momento macro importa – e muito. “Estamos com uma posição otimista, porém cautelosa”, afirmou Parente. “Há sinais de arrefecimento da inflação e expectativa de cortes de juros, o que nos levou a aumentar exposição em nomes domésticos.”
A AlphaKey também segue com foco na economia brasileira. “A gente não tem mandato para montar posições dolarizadas”, explicou Pelóia. “Mas mesmo assim, há boas oportunidades entre empresas com viés doméstico, principalmente com valuation atrativo.”
Os dois gestores também apontaram a baixa alocação atual na Bolsa como fator técnico relevante. “O juro mais baixo pode ser o gatilho para atrair fluxo para renda variável. E o setor industrial tende a se beneficiar disso, ainda mais com empresas resilientes, em bons momentos e com assimetrias positivas”, acrescentou Pelóia.
A Marco Polo surge, nesse cenário, como a queridinha dos três analistas – incluindo a XP. “A gente compartilha dessa preferência. É uma empresa com perfil doméstico, mas que ainda mitiga riscos com exportações e contratos internacionais. A tese se alinha bem com o cenário atual”, explicou Laghi.
Marco Polo, Randon e o desafio da WEG
Questionados sobre suas maiores apostas, os gestores não hesitaram. “Temos Randon no portfólio, gostamos da possibilidade de revisão de lucro e mudança na percepção de valor. A Marco Polo também é destaque, pelo bom posicionamento e momento positivo”, disse Pelóia.
Na AZ Quest, a preferência também recai sobre a Marco Polo. “A gente vê uma boa simetria na empresa e reconhece um time de gestão de qualidade. Por isso, ela é nossa principal posição no setor hoje”, afirmou Parente.
Outro nome que naturalmente entrou na discussão foi a WEG. Considerada uma das companhias mais relevantes da Bolsa brasileira, a gigante catarinense se destaca por sua complexidade e diversificação – tanto em produtos quanto em geografias.
“Talvez seja uma das empresas mais complexas que eu já analisei”, comentou Lucas Laghi. “Além de motores industriais, ela atua em geração solar, tintas, automação, e ainda tem grande presença internacional. Mas o valuation elevado sempre traz discussão.”
Parente concordou com a visão e apontou uma mudança estrutural. “A WEG passou por um shift no pós-pandemia. Houve uma elevação no patamar de margem e retorno, e o mercado precificou isso. A empresa continua entregando, mas exige mais cuidado na análise, especialmente por estar em um múltiplo alto”, pontuou.
Com fundamentos sólidos e boas perspectivas econômicas, o setor de bens de capital pode se consolidar como um dos protagonistas da Bolsa em 2025. A combinação de juros em queda, retomada de investimentos e empresas bem posicionadas sustenta a tese otimista – ainda que com cautela.
“É um setor que acompanha o ciclo econômico, mas com as condições atuais e os nomes certos, dá para capturar um retorno interessante”, concluiu Laghi.
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Fonte: InfoMoney