Investigando Marte desde fevereiro de 2021, o rover Perseverance, da NASA, já coletou 28 amostras do solo e do ar do planeta. Na última semana, a agência divulgou mais um feito do explorador robótico.
De acordo com um comunicado publicado na quarta-feira (25), desta vez, o robô perfurou um afloramento rochoso de difícil acesso chamado “Kenmore”, cuja camada externa foi desgastada por bilhões de anos de vento, radiação solar e tempestades.

Em poucas palavras:
- O rover Perseverance perfurou uma rocha em Marte chamada Kenmore, desgastada por vento, radiação e tempestades;
- Com superfície instável, ela foi difícil de penetrar, mas acabou revelando materiais impressionantes, preservados desde sua formação original;
- Ferramentas modernas do rover analisaram a composição química sem depender do envio à Terra;
- Além de argila com moléculas de água, foram detectados feldspato e hidróxido de manganês (este, inédito);
- Minerais sugerem passado úmido do planeta e podem orientar missões futuras.
Esforço do rover Perseverance revela segredos valiosos
Com uma ferramenta de abrasão e jatos de gás, o rover limpou a crosta quase impenetrável, permitindo o acesso ao material original, protegido desde a formação da rocha. Cientistas querem entender a composição desse núcleo para reconstituir o passado do planeta.
Kenmore parecia promissora visualmente, mas acabou se revelando um desafio técnico inesperado. Durante a raspagem, a rocha se mostrou instável, vibrando e soltando pequenos pedaços. Mesmo assim, o Perseverance conseguiu atingir a profundidade ideal para os instrumentos realizarem as análises.

Essa operação demonstrou como nem toda rocha em Marte coopera como os cientistas esperam. Ainda assim, o resultado foi positivo e rendeu informações importantes. Além disso, representou uma mudança no foco do rover, que antes se concentrava em reconhecimento e coleta de amostras e agora passa para a fase de análise detalhada in loco. Segundo a agência, a intenção é estudar o interior das rochas sem depender do envio à Terra.
A broca usada pelo Perseverance é mais precisa do que os instrumentos das missões anteriores. Os rovers Spirit e Opportunity usavam um triturador com ponta de pó de diamante chamado RAT (sigla em inglês para Ferramenta de Abrasão de Rochas), que girava a 3.000 rotações por minuto enquanto era pressionado contra a rocha por um braço robótico. Em seguida, duas escovas de arame removiam os detritos gerados, limpando a área ao redor.
Em vez de escovas, “Percy” aplica cinco jatos de nitrogênio para limpar a superfície, o que reduz o risco de contaminação nos dados coletados. Depois disso, entram em ação instrumentos de ponta, como a câmera WATSON, que registra imagens em alta resolução, mostrando detalhes invisíveis a olho nu. Já a SuperCam usa laser para vaporizar pequenas áreas da rocha. Em seguida, um espectrômetro analisa os gases liberados, identificando os elementos presentes. Esses dados ajudam a montar um retrato químico completo da amostra estudada.

Os instrumentos SHERLOC e PIXL também exploraram Kenmore, confirmando a presença de argila com moléculas de água. Isso indica que a rocha se formou em um ambiente úmido, no passado distante de Marte. Eles ainda identificaram feldspato, mesmo mineral que dá brilho à superfície da Lua. Além disso, o PIXL encontrou hidróxido de manganês, algo nunca antes visto no planeta.
Esses minerais são comuns na Terra e sugerem processos geológicos parecidos – o que reforça a teoria de que Marte já teve condições favoráveis à vida. Embora não haja evidências diretas, os sinais acumulados formam um conjunto cada vez mais convincente.
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Achado pode confirmar presença de vida no passado de Marte
A área de pesquisa do rover Perseverance é a Cratera Jezero, uma bacia de 45 km de diâmetro onde havia um delta fluvial e um lago há bilhões de anos, por essa razão considerada uma das regiões mais promissoras para encontrar registros do passado aquático de Marte.
Os sedimentos ali preservados podem conter bioassinaturas, ou seja, sinais de antigas formas de vida. Segundo a NASA, Kenmore é a 30ª rocha investigada com esse nível de detalhe pelo Perseverance.
“Uma coisa que se aprende logo cedo em missões de rover em Marte é que nem todas as rochas marcianas são criadas iguais”, disse Ken Farley, cientista adjunto do projeto Perseverance no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). “Os dados que obtemos agora de rochas como Kenmore ajudarão missões futuras, para que não precisem se preocupar com rochas estranhas e pouco cooperativas. Em vez disso, terão uma ideia muito melhor se é possível passar por cima delas, coletar amostras, separar o hidrogênio e o oxigênio contidos nelas para combustível, ou se seria adequado usá-las como material de construção para um habitat”.
Mesmo enquanto realiza essas análises complexas, o rover continua coletando e selando amostras, que ficarão armazenadas para uma futura missão de retorno à Terra, ainda sem data confirmada. No entanto, esse plano enfrenta incertezas, pois o orçamento proposto pelo governo dos EUA para 2026 corta os recursos do projeto. Caso avance, a missão poderá trazer as primeiras rochas marcianas ao nosso planeta, abrindo um novo capítulo na exploração do Sistema Solar.
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Fonte: Olhar Digital