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Qual impacto da federação União-PP para o Congresso e as eleições 2026? Especialistas avaliam

Demonstração simbólica de força com foco no aumento do poder no Congresso em 2026 e o desafio de convergir interesses regionais. Essa é a avaliação de analistas políticos ouvidos pela EXAME sobre o impacto da federação entre o União Brasil e PP, formalizada nesta semana, no cenário político brasileiro.

A união das siglas representa a criação da maior força no Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. Na Câmara, a federação está à frente do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem 92 deputados. No Senado, empata com o PSD e com o PL no posto de maior bancada.

Juntos, os partidos têm ainda um fundo partidário quase bilionário, de R$ 954 milhões, além de seis governadores e 1.343 prefeitos, a maior quantidade entre as legendas.

Os dois partidos têm quatro ministros no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até dezembro deste ano, a federação terá uma presidência compartilhada entre o presidente do PP, Ciro Nogueira, e do União, Antonio Rueda. Os dois nomes são mais ligados à oposição, com críticas públicas à gestão petistas. 

Cláusula de barreira e força simbólica

Apesar dos grandes números, Fábio Zambeli, vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos e colunista da EXAME, vê com ceticismo o impacto prático dessa nova federação na vida política, exceto para que as siglas escapem de regras de cláusula de barreira ou para realizar uma demonstração de força simbólica.

“Não se trata de uma fusão. Ou seja, não estão criando uma nova figura jurídica nem um novo partido. Assim, não vai existir disputa por distribuição de recursos ou disputa de poder interno. São aglutinações de aglomerações já existentes para demonstrar força em temas muito pontuais”, diz o analista.

Desde 2021, os partidos podem formar federações para atuar como uma única agremiação em todo país. A aliança, válida por pelo menos quatro anos, se estende além do período eleitoral, exigindo que os partidos permaneçam juntos durante o mandato. A federação precisa ter uma associação com personalidade jurídica própria e um estatuto que defina suas regras internas.

Entre as regras para a formação de federações, destaca-se a soma dos votos nas eleições proporcionais, que define a distribuição das vagas nas casas legislativas. Com a federação, os partidos não podem se enfrentar em eleições majoritárias; ou seja, PP e União só poderão ter um candidato à presidência, por exemplo.

O manifesto da nova federação defende a redução do papel do Estado na economia e propõe um “choque de prosperidade”, além de uma reforma administrativa que altere as regras do serviço público.

Para Zambeli, a federação terá grande importância para os partidos juntarem votos das bancas no Congresso para conseguir um tipo de coesão nas agendas.

“Tem embutido algum tipo de recado para os outros partidos: ‘estamos juntos, somos dois partidos grandes que estão se juntando para defender os nossos interesses’. Existe uma preocupação no futuro com relação ao enxugamento do número de partidos. A federação funcionaria para fazer frente a esse novo momento da política nacional, com um número menor de agremiações e agremiações maiores em termos de bancadas”, afirma.

Mayra Goulart, cientista política e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê que a criação dessa força com maior bancada pode aumentar o poder de barganha na disputa por emendas parlamentares.

“Isso tem o potencial de afetar o equilíbrio de forças do Centrão, porque esse novo partido sairá na frente dos demais”, diz.

Impacto na eleição de 2026

Zambeli vê que o cenário se desenha para que a junção do União e PP não tenha impacto direto na eleição presidencial, com os dois partidos sem candidatos competitivos para enfrentar o presidente Lula ou algum nome do governo, caso o petista decida não concorrer em 2026.

“Embora o União Brasil tenha candidato, é um candidato com data de validade. Dificilmente o Ronaldo Caiado vai até o final na disputa eleitoral, é mais uma pré-candidatura do que uma candidatura”, afirma. “O PP não tem candidato próprio à presidência e deve apoiar o nome da direita que for designado pelo campo bolsonarista.”

Na mesma linha, Mayra Goulart aponta que o grande foco da federação será um fortalecimento dos partidos para aumentar o poder no Congresso, e consequentemente, o acesso do fundo eleitoral.

“Vejo que o foco da federação não está na presidência da República, mas sim em aumentar a sua bancada, o que, por consequência, aumenta o acesso ao fundo eleitoral e ao fundo especial de financiamento de campanha”, diz Goulart. “A ideia é que, ao aumentar o acesso a esses fundos, haja uma retroalimentação, com mais deputados federais eleitos. Assim, terão mais deputados, mais acesso ao fundo e mais possibilidade de eleger ainda mais deputados. A consequência será mais emendas na próxima legislatura.”

Convergir interesses regionais será o desafio

Embora ainda não exista uma definição clara sobre a disputa presidencial, a federação deve tentar se articular para concorrer em conjunto a governos estaduais. No entanto, essa será uma tarefa difícil, pois os interesses regionais dos dois partidos podem gerar atritos.

“Nos estados, pode haver alinhamentos, mas não é certo que esses dois partidos caminhem juntos em todas as unidades da federação. Isso ainda não está claro”, diz Zambeli. “É uma construção a ser feita.”

Goulart, da UFRJ, lembra que União e PP seguem uma linhagem muito tradicional da história da política brasileira, como siglas que agrupam elites políticas com projetos regionais.

“Esses políticos buscam legendas com maior autonomia para a perseguição seus interesses locais. São grupos que não ganham muito com articulação com projetos nacionalizados, uma vez que elas querem autonomia para manter predomínio em suas localidades”, afirma.

Zambeli cita que o União Brasil, por exemplo, já é um partido muito fragmentado por ser resultado de uma fusão entre o PSL e DEM, cujas lideranças estaduais comandam os interesses regionais do partido.

“Tanto que o partido é chamado de ‘Desunião Brasil’. Um partido muito fragmentado que vai se juntar com outro partido, o PP, que também tem interesses muito pontuais, muito específicos, e comandado com uma mão forte do senador Ciro Nogueira”, diz.

O analista reforça que, por esse motivo, vê com bastante dificuldade a articulação desses interesses regionais com os nacionais da federação criada.

“É uma tentativa de juntar diferentes interesses. Quando se juntam interesses diferentes, as diferenças tendem a prevalecer em algum momento em detrimento de uma coesão. A minha visão é um pouco mais cética em relação ao êxito dessa federação, até porque o modelo de federação tem se mostrado bastante mal-sucedido no Brasil”, afirma.

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