Tarifas mais altas podem começar a elevar a inflação neste verão (no hemisfério norte), um período que será crucial para o Federal Reserve considerar possíveis cortes nas taxas, disse nesta terça-feira o chair do Fed, Jerome Powell, aos membros do Congresso dos EUA.
O verão no hemisfério norte vai do fim de junho ao final de setembro.
Pressionado por membros republicanos do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara sobre o motivo de o Fed não estar cortando as taxas, como o presidente Donald Trump exigiu, Powell disse que ele e muitos membros do Fed esperam que a inflação comece a subir em breve. Segundo ele, o banco central não tem pressa em aliviar os juros enquanto isso.
Powell disse especificamente que não abriria caminho para um corte de juros na reunião de julho do Fed, como dois de seus colegas sugeriram recentemente, ou em qualquer outra reunião.
“Não quero me concentrar em nenhuma reunião específica. Não acho que precisamos ter pressa”, disse Powell, considerando o mercado de trabalho ainda forte e a grande incerteza sobre o impacto do debate tarifário ainda não resolvido.
Referindo-se aos aumentos de preços esperados devido às tarifas, Powell disse: “Devemos começar a ver isso durante o verão, nos números de junho e de julho… Se não virmos, estamos perfeitamente abertos à ideia de que o repasse (aos consumidores) será menor do que pensamos, e se isso acontecer, isso será importante para a política.”
“Acredito que, se as pressões inflacionárias permanecerem contidas, chegaremos a um ponto em que cortaremos as taxas mais cedo ou mais tarde”, acrescentou.
Com o banco central em grande parte afastado, esperando o resultado das negociações tarifárias do governo Trump, Powell foi questionado repetidamente sobre por que o Fed parecia preocupado com essa questão e não estava cortando as taxas, já que a inflação até agora tem sido modesta.
Powell disse que a política do Fed não tem como objetivo endossar ou criticar a abordagem do governo Trump ao comércio, apenas lidar com o impacto da inflação que o Fed e as previsões mais amplas esperam que ganhe força ao longo do resto do ano.
“Não estamos comentando sobre tarifas”, disse Powell. “Nosso trabalho é manter a inflação sob controle e, quando as políticas têm implicações significativas de curto e médio prazo, então a inflação passa a ser nosso trabalho.”
“Todos os analistas profissionais que conheço… esperam um aumento significativo na inflação ao longo deste ano”, afirmou Powell, ao tratar da relutância do Fed em cortar as taxas enquanto os principais aspectos da política comercial de Trump permanecem sem solução.
Apostas
Em depoimento preparado para o painel da Câmara, Powell observou ainda que esses efeitos “podem ser de curta duração, refletindo uma mudança pontual no nível de preços”.
“Também é possível que os efeitos inflacionários sejam mais persistentes… Por enquanto, estamos bem posicionados para aguardar para saber mais sobre o provável curso da economia antes de considerar quaisquer ajustes em nossa postura de política (monetária).”
Após a divulgação do depoimento de Powell, os investidores reduziram as apostas de que o banco central poderia cortar sua taxa básica de juros já na reunião de julho, elevando as chances de uma redução da taxa em setembro, com outra baixa no final do ano.
O depoimento de Powell, como costuma acontecer em suas aparições semestrais no Congresso, acompanha em grande parte a declaração de política monetária mais recente do Fed, na semana passada. As autoridades do Fed votaram unanimemente naquela reunião para manter a taxa básica de juros estável na faixa de 4,25% a 4,5%, e não deram nenhuma indicação de que cortes de juros fossem iminentes.
Novas projeções econômicas divulgadas na época mostraram que autoridades esperavam dois cortes de 0,25 ponto percentual nas taxas até o final do ano, em linha com os preços atuais do mercado.
Nos últimos dias, dois dirigentes do Fed, ambos indicados por Trump, disseram que as taxas poderiam cair já na reunião de julho, porque a inflação ainda não aumentou em resposta às tarifas. Outros três dirigentes do Fed disseram que ainda se preocupam com a possibilidade de a inflação se intensificar no restante do ano.
Trump nomeou Powell como chair do Fed em seu primeiro mandato, mas deve substituí-lo quando o mandato do dirigente terminar na próxima primavera (entre o fim de março e o final de junho). O republicano pediu repetidamente cortes acentuados nas taxas.
“Deveríamos estar pelo menos dois a três pontos abaixo”, disse Trump em uma publicação nas redes sociais antes da audiência, acrescentando, em referência a Powell, que esperava que “o Congresso realmente acabasse com essa pessoa muito burra e teimosa”.
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Fonte: InfoMoney