A inteligência artificial deixou de ser uma promessa para se tornar um elemento central das operações empresariais. Ela está presente em processos que vão desde o atendimento ao cliente até análises preditivas de mercado, passando por sistemas de recomendação, recrutamento e seleção, segurança cibernética e muito mais.
A IA já é, para muitas companhias, o que a internet foi nos anos 2000: um divisor de águas. Mas junto com esse potencial, vem uma nova camada de complexidade: a ética.
À medida que algoritmos tomam decisões com base em dados, as empresas se deparam com dilemas antes exclusivos do campo da filosofia, do direito ou das ciências sociais. É possível, por exemplo, usar dados de comportamento para prever inadimplência sem reforçar estigmas socioeconômicos?
É ético aplicar IA em entrevistas de emprego para analisar expressões faciais, sabendo que pessoas neurodivergentes ou de culturas diferentes podem ser interpretadas de forma enviesada? Qual o limite entre personalização e invasão de privacidade?
Essas não são perguntas hipotéticas. São questões reais, que já estão sendo enfrentadas diariamente por empresas ao redor do mundo e a forma como cada organização lida com elas pode afetar sua reputação, sua base de clientes, sua atratividade para talentos e até mesmo sua sustentabilidade jurídica. É nesse ponto que entra o Chief AI Ethicist — ou, em português, Diretor de Ética em Inteligência Artificial.
Ética como pilar estratégico e não mais periférico
O papel do Chief AI Ethicist vai muito além de um cargo consultivo. Essa pessoa será responsável por desenhar e implementar diretrizes éticas para o desenvolvimento, aquisição e aplicação de soluções baseadas em IA. Será sua função garantir que os algoritmos sejam justos, auditáveis, explicáveis e, principalmente, que estejam alinhados com os valores da empresa e com os princípios de direitos humanos.

Isso envolve dialogar com desenvolvedores, líderes de produto, times jurídicos e até áreas de marketing e relacionamento com clientes. Envolve também formação contínua das equipes, construção de comitês de ética, análise de impacto social e participação ativa nas decisões estratégicas. O Chief AI Ethicist precisa transitar entre tecnologia, negócios e humanidades com empatia, autoridade técnica e visão sistêmica.
Grandes empresas já entenderam isso e esse movimento não é exclusivo das gigantes. Startups de tecnologia, empresas de serviços financeiros, varejistas e até instituições de ensino estão começando a criar áreas de governança de IA, muitas vezes dentro das diretorias de inovação ou compliance, mas com autonomia crescente.
Segundo relatório da MarketsandMarkets, o mercado global de governança de IA, que inclui soluções, consultorias e estruturas internas para ética e compliance algorítmico deverá crescer de US$ 890 milhões em 2024 para US$ 5,77 bilhões em 2029. Isso representa uma taxa de crescimento composta de 45,3% ao ano. Trata-se de um dos segmentos mais dinâmicos da economia digital atual.

Além disso, uma pesquisa do IBM Institute for Business Value revelou que 75% dos executivos de tecnologia acreditam que a ética em IA será uma fonte de vantagem competitiva nos próximos anos. Empresas que adotam práticas responsáveis tendem a conquistar mais confiança dos consumidores, atrair melhores talentos, evitar litígios e construir reputações mais sólidas.
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Importante lembrar que a regulamentação também está batendo à porta. A União Europeia já aprovou a AI Act, uma das legislações mais completas do mundo sobre o tema, e o Brasil discute seu próprio marco legal. Em breve, ter uma estrutura interna capaz de demonstrar responsabilidade, rastreabilidade e mitigação de riscos éticos será não apenas uma boa prática, mas uma exigência legal.
O Chief AI Ethicist surge, portanto, como uma figura-chave: não para frear a inovação, mas para orientá-la rumo a um desenvolvimento tecnológico mais justo, inclusivo e sustentável.
O que está em jogo não é apenas eficiência, mas o tipo de sociedade que estamos construindo com base nos dados que coletamos e nas decisões que automatizamos. Toda empresa que deseja ser relevante e respeitada, no futuro, precisará de alguém com coragem e preparo para fazer as perguntas difíceis, defender o interesse coletivo e traduzir dilemas morais em políticas práticas.
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Fonte: Olhar Digital