Em 11 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI surpreendeu o mundo ao anunciar sua renúncia ao papado, um evento raro na história recente da Igreja Católica. A decisão foi motivada por uma saúde debilitada, especialmente por uma insônia crônica que o acompanhava desde a Jornada Mundial da Juventude em Colônia, em 2005. Com 85 anos na época, a saúde do pontífice estava visivelmente comprometida, o que afetava não apenas sua condição física, mas também suas capacidades mentais, tornando-o incapaz de cumprir as exigências do cargo.
Bento XVI chegou a usar medicamentos para dormir, mas os efeitos colaterais desses remédios tornaram-se um obstáculo. Em 2012, um incidente durante uma viagem ao México e Cuba, quando o Papa se machucou sem lembrar como, evidenciou ainda mais a fragilidade de sua saúde. Seguindo as recomendações médicas, ele reduziu a medicação e limitou sua agenda, mas logo percebeu que não poderia manter o ritmo necessário para liderar a Igreja.
A renúncia de Bento XVI, no entanto, não foi apenas uma questão de saúde. A pressão interna da Igreja, marcada por escândalos de corrupção e abusos sexuais, também teve um peso significativo, drenando as forças do pontífice. No entanto, o motivo principal que ele declarou para sua decisão foi a fragilidade física e mental que o impedia de cumprir as exigências de sua missão.
O pontífice, em seu anúncio, afirmou que continuaria a servir à Igreja através da oração, mas foi claro ao afirmar que não poderia mais continuar liderando a Igreja com a mesma força de antes. Sua decisão foi tomada com antecedência suficiente para que um sucessor fosse escolhido, e o Papa Francisco assumiu a liderança da Igreja em março de 2013, logo após a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro.
A renúncia de Bento XVI não foi um evento isolado. Historicamente, outros papas também renunciaram ao papado, seja por motivos pessoais, como saúde ou dificuldades internas, seja por questões políticas. Um dos primeiros exemplos conhecidos é o de São Ponciano, que renunciou em 235 d.C. após ser exilado para a Sardenha pelo imperador romano. Ele fez isso para garantir que a Igreja não ficasse sem liderança.
Outro caso célebre é o de Papa Celestino V, que renunciou em 1294 após apenas cinco meses de pontificado. Celestino V sentia que não estava preparado para o cargo e, como resultado, publicou um decreto permitindo a renúncia papal, retirando-se para viver como eremita. Sua renúncia foi seguida por um período de instabilidade e até mesmo controvérsias dentro da Igreja.
Em 1415, Papa Gregório XII renunciou para pôr fim ao Grande Cisma do Ocidente, quando três papas reivindicavam a liderança da Igreja simultaneamente. Sua decisão de renunciar foi parte de um acordo feito no Concílio de Constança, que visava restaurar a unidade da Igreja Católica.
Além desses casos mais conhecidos, outros papas também abdicaram por motivos variados ao longo da história. Bento IX, em 1045, renunciou em meio a disputas internas, mas retornou ao papado anos depois. Papa Gregório VI renunciou devido a acusações de simonia, e Papa Silvério foi forçado a renunciar em 537.
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