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Papa Francisco defendeu rigor contra pedofilia; veja principais reformas

O pontificado do papa Francisco foi marcado por ações para enfrentar casos de abusos sexuais dentro da Igreja Católica, com a implementação de mudanças e a revisão de condutas entre os religiosos.

Em 2021, o Vaticano realizou a maior reforma em quatro décadas no Código de Direito Canônico, alterando regras relacionadas a crimes cometidos sacerdotes, padres e outros membros do clero contra menores e adultos vulneráveis.

A nova legislação, considerada mais contundente, incluiu explicitamente o crime de pedofilia, que antes estava inserido em uma categoria mais ampl. Outros delitos como a posse de pornografia infantil e corrupção de menores também foram incluídos na legislação.

Filippo Iannone, nomeado pelo papa Francisco e responsável pelo departamento do Vaticano que acompanhou o projeto, afirmou que havia uma interpretação excessivamente negligente da legislação penal, o que dificultava a responsabilização dos infratores.

“É uma reforma muito necessária e há muito tempo esperada”, afirmou Iannone na época.

Depois da reforma concluída, o papa Francisco reforçou que os bispos deveriam aplicar as novas normas com rigor, destacando que o objetivo era reduzir a margem de interpretação na imposição de penalidades.

A intervenção de Francisco aconteceu um dia após a divulgação de um relatório que apontou que o seu antecessor, Bento XVI, não agiu em relação a pelo menos quatro casos de abuso ocorrido em Munique, na Alemanha, na época em que o papa emérito ainda era arcebispo. Bento XVI reconheceu os erros em uma carta escrita aos 94 anos, em fevereiro de 2022.   


29 de abril de 2025 - 10:41
Papa Francisco com Bento 16 no Vaticano • 27/8/2022 Divulgação via REUTERS

Posicionamento diante de escândalos

Durante seu pontificado, o papa Francisco também abordou o tema em pronunciamentos públicos. Na Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Portugal, por exemplo, o argentino afirmou que a Igreja precisava passar por um processo contínuo de revisão interna e que vítimas de abusos deveriam ser ouvidas.

“A crise nos chama a uma purificação humilde e constante, partindo do grito angustiado das vítimas, que devem ser sempre acolhidas e ouvidas”, disse Francisco durante o evento.

A declaração foi feita poucos meses após um outro relatório de uma comissão portuguesa financiada pela Igreja revelar que pelo menos 4.815 menores foram vítimas de abusos cometidos por membros do clero em Portugal ao longo de sete décadas.

A Igreja Católica de Portugal afirmou que iria indenizar financeiramente as vítimas de abuso sexual infantil e que os valores pagos seriam definidos caso a caso. A postura foi criticada por familiares das vítimas.

Na França, casos similares também foram identificados. Em 2021, um relatório estimou que mais de 200 mil crianças foram vítimas de abuso cometido por clérigos desde 1950, número que poderia chegar a 330 mil ao considerar abusadores ligados à Igreja.

Sobre esse relatório. Francisco declarou que o documento causava “tristeza e pesar pelo trauma sofrido pelas vítimas” e reconheceu falhas institucionais na abordagem do problema.

Papa Francisco e o erro de João Paulo II

Outro caso que foi intensamente noticiado durante o pontificado de Francisco foi a resposta do Vaticano a casos históricos de omissão dentro da hierarquia da Igreja.

Em 2020, uma investigação interna revelou que o papa João Paulo II havia promovido o americano Theodore McCarrick a arcebispo de Washington, D.C., mesmo ciente de alegações de abuso sexual contra ele.

À época, o documento indicou que João Paulo II tomou a decisão com base nas próprias negações de McCarrick e em um relatório de bispos americanos que concluíram que as informações eram “imprecisas e incompletas”.


Theodore McCarrick
Ex-cardeal Theodore McCarrick • AP

A investigação também apontou que o papa Bento XVI, sucessor de João Paulo II, chegou a pedir a renúncia de McCarrick em 2005, após novas acusações surgirem. McCarrick, porém, permaneceu ativo na vida pública até 2018, quando renunciou ao Colégio de Cardeais.

Em 2019, McCarrick foi oficialmente destituído pelo Vaticano, após ser considerado culpado por abuso sexual de menores em um julgamento canônico.

A investigação também esclareceu que Francisco, ao assumir o papado, inicialmente entendeu que as acusações contra McCarrick haviam sido revisadas e rejeitadas por João Paulo II.

Porém, quando a primeira acusação de abuso sexual de um menor surgiu em 2018 contra Theodore McCarrick, a resposta de Francisco foi “imediata”, de acordo com o relatório, e ele demitiu o ex-cardeal do sacerdócio. McCarrick morreu em abril de 2025. 

Prisão de cardeal na Austrália


CON CHRONIS/AFP/AFP/CNN News Source
Cardeal australiano George Pell, ex-tesoureiro do Vaticano • Foto: CON CHRONIS/AFP/AFP/CNN News Source

Outro caso envolvendo pedofilia que tomou os jornais durante o papado de Francisco aconteceu na Austrália. O cardeal australiano George Pell, que chegou a ser tesoureiro do Vaticano, foi preso em 2019 e só deixou a cadeia no ano seguinte.

George Pell chegou a ser o número 3 dentro da hierarquia da Igreja, mas a carreira foi abalada por cinco acusações: um caso de abuso sexual contra uma criança e outros quatro sobre cometer “atos indecentes”.

O cardeal foi condenado em um julgamento que se baseou no testemunho de um homem que disse ter sido abusado por ele nos anos 1990, quando tinha 13 anos.

Segundo o relato, Pell encurralou o adolescente após uma missa na Catedral de St. Patrick, em Melbourne, e o forçou a praticar atos sexuais. O religioso sempre negou qualquer crime.

Em meio ao escândalo, Pell recebeu uma licença do Vaticano para contestar as acusações. Com a condenação, o mandato dele como tesoureiro do Vaticano não foi renovado. Em 2018, ele perdeu seu lugar no pequeno conselho de conselheiros do papa, embora a Santa Sé tenha atribuído isso à sua idade avançada.

O cardeal ficou pouco mais de um ano preso, mas foi libertado por uma decisão da Suprema Corte da Austrália em 2020. O entendimento foi de que o júri que o condenou não agiu para responsabilizar Pell “além do benefício da dúvida”.

Mesmo assim, o tribunal não o declarou inocente dos crimes. George Pell morreu em 2023, aos 81 anos, após sofrer uma parada cardíaca após uma cirurgia para substituição do quadril, em Roma.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Papa Francisco defendeu rigor contra pedofilia; veja principais reformas no site CNN Brasil.

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