Com o país atento, o apresentador da televisão estatal iraniana fez a pergunta que tantas pessoas no Irã — desde a elite política até cidadãos comuns — estavam se fazendo.
“As pessoas estão muito preocupadas com o líder supremo”, disse o apresentador a um funcionário do gabinete do aiatolá Ali Khamenei na terça-feira (24). “Você pode nos dizer como ele está?”
Ele destacou que os telespectadores enviaram uma enxurrada de mensagens perguntando a mesma coisa. Mas a autoridade, Mehdi Fazaeli, chefe do arquivo de Khamenei, não deu uma resposta direta.
Em vez disso, Fazaeli disse que ele também recebeu inúmeras consultas de autoridades e outras pessoas preocupadas com o aiatolá após a intensa campanha de bombardeios por Israel e Estados Unidos.

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“Todos devemos rezar”, disse Fazaeli.
“As pessoas responsáveis por proteger o líder supremo estão cumprindo seu trabalho”, acrescentou. “Se Deus quiser, nosso povo poderá celebrar a vitória ao lado do seu líder, se Deus quiser.”
Khamenei, que tem a palavra final nas decisões importantes do Irã, não foi visto em público nem deu declarações há quase uma semana, apesar da crise extraordinária enfrentada pelo país.
Nos últimos dias, os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares do Irã, que retaliou lançando mísseis balísticos contra uma base americana no Catar, e Irã e Israel concordaram com um cessar-fogo que entrou em vigor na manhã de terça-feira.
Durante tudo isso, Khamenei — que, segundo autoridades, está abrigado em um bunker e evitando comunicações eletrônicas para prevenir tentativas de assassinato — permaneceu ausente, sem emitir declarações públicas ou mensagens gravadas.
Sua ausência surpreendeu e inquietou desde integrantes do círculo político até o público em geral.
Mohsen Khalifeh, editor-chefe do jornal Khaneman, focado em desenvolvimento imobiliário, disse em entrevista que “a ausência de dias do líder deixou todos nós que o amamos muito preocupados.” Reconhecendo uma possibilidade que há duas semanas pareceria impensável, Khalifeh afirmou que, caso Khamenei estivesse morto, seu funeral seria “o mais grandioso e histórico.”
Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todos os assuntos importantes do Estado. Como comandante-chefe das Forças Armadas, espera-se que ele aprove decisões militares significativas, como o ataque à base americana ou o acordo de cessar-fogo com Israel.
O acordo de cessar-fogo, solicitado pelo presidente Donald Trump e mediado pelo emir do Catar, parece ter sido negociado rapidamente. Contudo, comandantes militares e autoridades governamentais têm sido evasivos sobre se encontraram ou falaram com Khamenei nos últimos dias.
O silêncio público dele gerou uma onda de especulações e dúvidas: qual o grau de envolvimento de Khamenei nas decisões recentes, diante das possíveis dificuldades para contatá-lo? Ele ainda supervisiona o país diariamente? Está ferido, doente ou até mesmo vivo?
Hamzeh Safavi — analista político e filho do general Yahya Safavi, comandante da Guarda Revolucionária e conselheiro militar de Khamenei — disse que as autoridades de segurança do Irã acreditam que Israel ainda pode tentar assassinar Khamenei, mesmo durante o cessar-fogo. Por isso, afirmou, estão adotando protocolos de segurança extremos, incluindo contato limitado com o mundo exterior.
“Existe uma visão pragmática para gerir o país nesta crise”, disse, por meio do fortalecimento de outros líderes, como o presidente Masoud Pezeshkian.
Ainda assim, Safavi acredita que Khamenei está opinando remotamente nas decisões-chave.
Mesmo assim, alguns apoiadores de Khamenei postam nas redes sociais e trocam mensagens dizendo que não sentirão a vitória do Irã contra Israel até verem ou ouvirem o líder supremo.
Quatro altos funcionários iranianos, familiarizados com as discussões de política atual no governo, disseram que, na ausência de Khamenei, políticos e comandantes militares formam alianças e disputam poder. Esses grupos têm visões diferentes sobre o futuro do programa nuclear iraniano, as negociações com os EUA e o impasse com Israel.
O grupo que aparenta estar em vantagem atualmente defende moderação e diplomacia, disseram os quatro oficiais. Ele inclui Pezeshkian, que sinalizou publicamente disposição para voltar à mesa de negociações com os EUA, mesmo após os bombardeios americanos às instalações nucleares iranianas. Os aliados de Pezeshkian incluem o chefe do Judiciário, Gholam-Hossein Mohseni-Ejei, próximo ao líder supremo, e o novo comandante das Forças Armadas, general Abdolrahim Mousavi.
O governo iraniano tenta aproveitar o sentimento nacionalista que surgiu após os intensos ataques aéreos de Israel, que teriam matado mais de 600 pessoas no Irã. A Orquestra Sinfônica Nacional do Irã fez uma apresentação ao ar livre na Praça Azadi — um marco simbólico cujo nome significa “liberdade” — em Teerã, na terça-feira. Um show de luzes exibiu imagens de socorristas projetadas na torre em forma de arco no centro da praça.
O plano do Irã para suas instalações nucleares danificadas segue como uma questão em aberto. Tanto o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, quanto o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami, declararam em entrevistas à mídia local que o país vai reconstruir e reativar seu programa nuclear e continuar enriquecendo urânio.
Sanam Vakil, diretora para Oriente Médio e Norte da África do Chatham House, um grupo de pesquisa, afirmou que a ausência de Khamenei é um sinal de que os líderes iranianos estão “extremamente cautelosos e preocupados com a segurança.”
“Se não vermos Khamenei até a Ashura” — uma importante procissão religiosa para muçulmanos xiitas, realizada no Irã no início de julho —, disse Vakil, “isso será um mau sinal. Ele precisa mostrar sua face.”
c.2025 The New York Times Company
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Fonte: InfoMoney