O drama vivido pela niteroiense Juliana Marins, de 26 anos, e sua família completou 72 horas na noite de ontem. Desde sexta-feira, a publicitária aguarda pelo resgate em um penhasco no acesso ao cume do vulcão do Monte Rinjani, na Indonésia. Na manhã de ontem, autoridades locais informaram ter localizado Juliana, que foi monitorada “com sucesso por um drone” e permanecia presa em um penhasco rochoso a uma distância de cerca de 500 metros da trilha, “visualmente imóvel”. A informação indica que a brasileira se deslocou 200 metros para baixo desde a primeira vez em que foi avistada após a queda.
Duas equipes de resgate foram mobilizadas e chegaram a descer a 350 metros a partir da trilha, mas encontraram dificuldade para achar um segundo ponto de “ancoragem” para seguir. No procedimento, os alpinistas enfrentaram “terrenos extremos e condições climáticas dinâmicas”, com neblina espessa que reduziu a visibilidade no local e aumentou o risco da operação, que foi interrompida por volta das 16h (às 5h no horário do Brasil) por segurança.

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Apelo por socorro
Em um perfil criado pela família de Juliana no Instagram para compartilhar informações sobre o resgate, a notícia da interrupção dos trabalhos foi recebida com indignação: “O parque segue com as suas atividades normalmente, turistas continuam fazendo a trilha enquanto Juliana está PRECISANDO DE SOCORRO! (…) Ela segue sem água, comida e agasalhos por 3 dias!!!!!”, diz uma postagem. No mesmo perfil, pouco antes das 20h de ontem, uma foto de Juliana sorridente foi publicada com a seguinte frase: “Aguente firme, JU! Você é forte! A ajuda está chegando”
A jovem caiu no desfiladeiro na noite de sexta-feira. No dia seguinte, um drone conseguiu captar imagens de Juliana a cerca de 300 metros da trilha. Ela se mexia. O ponto fica a mais três mil metros de altitude e, à noite, a temperatura gira em torno de 1°C.
O pai de Juliana, que está a caminho do país asiático para acompanhar o resgate, publicou uma homenagem à filha em seu perfil: “Minha família linda. Ju, força, estamos indo te buscar”, escreveu ele em uma postagem que traz uma foto ao lado da mulher e da filha. Manoel Marins Filho também agradeceu o apoio que a família vem recebendo de amigos e desconhecidos nos esforços para resgatar a jovem. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Manoel disse: “Espero voltar com minha filha viva”.
À tarde, Manoel Marins relatou que se encontrava no aeroporto de Lisboa, em Portugal, aguardando a continuidade do voo, interrompido devido ao fechamento do espaço aéreo em Doha, no Catar, após os ataques do Irã contra bases americanas no país. Ele desabafou: “Queremos e precisamos chegar lá para poder acompanhar o resgate da Juliana”.
Ainda de acordo com as informações compartilhadas pela administração do Parque Nacional do Monte Rinjani, por volta das 14h30 de ontem (horário de lá), foi realizada uma reunião remota para avaliar a situação, da qual participou o governador da província de Sonda Ocidental — localizada no centro-sul da Indonésia à qual pertence à Ilha de Lombok, onde fica o vulcão. Teria sido orientado “a aceleração do resgate com a opção de uso de helicópteros, considerando o período crítico de 72 horas (Tempo Dourado) para resgates na natureza”, ressalta a nota do parque.
A resposta dos técnicos envolvidos foi que, embora “possível, o uso de um helicóptero para resgate no local dependeria de uma aeronave adequada a esse tipo de operação e que era preciso levar em consideração as “rápidas mudanças climáticas” naquela encosta.
Versão do guia
De acordo com o major Fábio Contreiras, porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio, o maior obstáculo para a equipe de resgate na Indonésia é o acesso ao local. Segundo o especialista, em situações como essa, o uso de helicóptero costuma ser a primeira opção. No entanto, as condições meteorológicas e a geografia do Monte Rinjani — o segundo maior vulcão daquele país, com 3.726 metros de altitude — dificultam esse tipo de operação.
“A altitude reduz a sustentação da aeronave. O helicóptero precisa ter uma potência específica para operar nessas condições. Além disso, o voo precisa ser visual, ou seja, o piloto precisa enxergar claramente o terreno. Neblina e ventos fortes tornam o voo extremamente perigoso. O vento pode ser descendente, empurrando a aeronave para baixo, o que cria um risco enorme para a tripulação”, explica Contreiras.
O guia que acompanhava Juliana Marins pela trilha no Monte Rinjani negou ter abandonado a publicitária antes de ela sofrer um acidente e precisar de resgate. Em entrevista ao GLOBO, Ali Musthofa confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a niteroiense a descansar enquanto seguiu com o restante do grupo, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente da caminhada. Ele disse ter prestado depoimento à polícia anteontem, quando desceu da montanha.
“Na verdade, eu não a deixei, mas esperei três minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco uns 150 metros abaixo e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la”, afirmou Musthofa, que tem 20 anos e atua como guia na região desde novembro de 2023.
Musthofa, que costuma subir o Rinjani duas vezes por semana, disse ter ligado para a empresa na qual trabalha para avisar sobre o acidente e pedir que acionassem o resgate.
“Liguei para a organização onde trabalho, pois não era possível ajudar sem equipamentos de segurança. Eles deram informações sobre a queda de Juliana para a equipe de resgate, que correu para ajudar e preparar o equipamento necessário para o socorro”, destacou o guia.
Segundo o guia, a brasileira pagou 2,5 milhões de rúpias indonésias (cerca de R$ 830) pelo pacote de subida ao topo do vulcão.
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Fonte: InfoMoney