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Nova Zelândia aprova uso terapêutico da psilocibina, de cogumelos alucinógenos

Nova Zelândia aprova uso terapêutico da psilocibina, de cogumelos alucinógenos

O Ministério da Saúde da Nova Zelândia aprovou o uso medicinal da psilocibina, o alucinógeno encontrado nos “cogumelos mágicos”, para tratar alguns casos de depressão. O aval é o mais recente impulso a um movimento global crescente para estudar e utilizar psicodélicos como a psilocibina e o MDMA — por muito tempo relegados às margens da psiquiatria — no tratamento da depressão, transtorno de estresse pós-traumático e dependência química.

O psiquiatra Cameron Lacey, que passou anos estudando como os psicodélicos podem ajudar a tratar a depressão e outros transtornos do humor, é o primeiro, e por enquanto único, profissional a ter sido autorizado a prescrever a substância.

Lacey foi escolhido por sua ampla experiência no uso seguro da psilocibina para tratamento psiquiátrico durante ensaios clínicos, segundo o Ministério da Saúde. Ele conta que, em 2021, começou a considerar testes com o psicodélico depois de perceber que muitos de seus pacientes não respondiam aos medicamentos antidepressivos.

O governo afirmou que os tratamentos com psilocibina no país serão rigidamente controlados. Os pacientes não poderão simplesmente sair de uma consulta com um comprimido ou mistura contendo psilocibina, que ainda é classificada na Nova Zelândia como droga ilícita, junto com heroína e cocaína.

Em vez disso, os pacientes receberão a primeira dose após três sessões de psicoterapia. Então, deitados ou sentados em uma poltrona reclinável, usando máscaras para os olhos e fones com cancelamento de ruído, receberão 25 miligramas de psilocibina em cápsula.

A experiência alucinógena, ou “viagem”, começa cerca de 45 minutos depois, segundo explica Lacey, enquanto sons da natureza e músicas tradicionais Māori tocam nos fones. A “viagem” dura cerca de oito horas.

— As pessoas podem experimentar todo o caleidoscópio de emoções, e isso pode ser bastante intenso, bastante desafiador às vezes — diz. Como acontece com qualquer alucinógeno, ele acrescenta, as “viagens” podem ser difíceis ou perturbadoras, e alguns pacientes ficam nervosos no dia da dose por esperarem uma experiência intensa.

Em casos raros, os pacientes podem continuar a ter alucinações após o fim do uso, o que “pode ser uma experiência angustiante, em que as pessoas continuam a reviver algumas das experiências que tiveram durante a dosagem de psilocibina”, afirma Lacey.

Nas sessões terapêuticas, depois de usar a psilocibina, os pacientes discutem os sentimentos e memórias que experimentaram sob o efeito da droga e que podem estar na raiz da depressão, continua o psiquiatra. Durante seu ensaio clínico com o composto, dois terços dos participantes apresentaram redução nos sintomas de depressão. O programa de tratamento se estende por 10 a 12 semanas.

A pesquisa de Lacey foi inspirada em parte pelos Māori, o povo indígena da Nova Zelândia, cuja abordagem holística da saúde é outro foco de seus estudos. Alguns povos indígenas, incluindo os Māori, utilizam certos cogumelos para provocar introspecção profunda durante rituais e cerimônias tradicionais e para tratar transtornos mentais, de acordo pesquisadores da psilocibina.

O trabalho de Lacey pode abrir caminho para uma aprovação mais ampla, o que também poderia permitir que seguradoras de saúde considerassem cobrir a terapia com psilocibina no país. Em 2023, a vizinha Austrália legalizou o uso de psilocibina e MDMA, o estimulante mais conhecido como ecstasy, para tratar depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

Nos Estados Unidos, a psilocibina é classificada como substância da Tabela I pelo governo federal, uma categoria destinada a drogas com alto potencial de abuso e sem usos médicos atualmente aceitos. O mesmo é o caso do Brasil. No entanto, vários ensaios clínicos estão em andamento nos EUA para estudar seu potencial no tratamento da dependência e da depressão.

A popularidade crescente da psilocibina se deve em parte a ensaios clínicos bem-sucedidos como o de Lacey, além de seu menor potencial de vício ou overdose em comparação com outros alucinógenos como a cetamina. Estudos também mostraram que o efeito antidepressivo da cetamina tende a diminuir com o tempo, o que pode levar ao uso abusivo.

No entanto, o tratamento com psilocibina de Lacey não é barato. O programa de 10 semanas pode custar entre 16 mil e 19,5 mil dólares. Apesar do alto preço, ele afirma que outros psiquiatras já o procuraram interessados em oferecer o tratamento a seus pacientes, que antes consideravam ir a outros países para fazer a terapia.

— Há um alto custo pessoal decorrente da limitação e incapacidade que essas pessoas enfrentam devido à depressão e a outras condições que não melhoram completamente — diz Lacey.

 

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Fonte: InfoMoney

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