BRF e Marfrig anunciaram nesta quinta-feira, 15, a fusão de seus negócios em um movimento que visa, entre outras metas, buscar listagem na bolsa de valores de Nova York (Nyse). A iniciativa espelha a estratégia da concorrente JBS, que já marcou para o próximo dia 23 uma assembleia de acionistas para aprovar sua própria listagem nos Estados Unidos.
A nova empresa, batizada de MBRF Global Foods, reunirá a operação de proteína bovina da Marfrig, os negócios de aves e suínos da BRF e a americana National Beef.
Juntas, elas somaram uma receita líquida consolidada de R$ 152 bilhões nos últimos 12 meses.
Segundo o CEO da BRF, Miguel Gularte, o movimento busca também capturar valor no mercado norte-americano. “Empresas de proteína listadas nos Estados Unidos, com domicílio nos Estados Unidos, negociam a múltiplos mais altos do que as brasileiras”, disse. “É uma oportunidade concreta que está no nosso radar”, disse em coletiva aos jornalistas na noite desta quinta-feira, 15.
A proposta da Marfrig prevê a incorporação da BRF por meio de uma relação de troca de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF.
A operação será acompanhada de uma distribuição extraordinária de proventos: R$ 3,5 bilhões pela BRF e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig. Com a transação, a MBRF passará a ter estrutura simplificada e atuará com governança unificada, afirma o executivo.
Relação de troca
A relação de troca entre os papéis embute um prêmio relevante para os acionistas das duas companhias, segundo o CFO da BRF.
Os valores foram definidos por comitês independentes assessorados por bancos internacionais.
“A lógica de cálculo da relação de troca envolveu um prêmio para a ação da BRF entre 15% e 20% e, no caso da Marfrig, algo próximo de 38%”, disse.
O movimento selado hoje vem sendo construído desde 2021, quando a Marfrig iniciou a compra agressiva de ações da BRF no mercado. Na época, a companhia alcançou 25% de participação em poucos dias, sem sinalizar uma intenção clara de controle.
A aquisição seguiu, atingindo 50,5% do capital em dezembro de 2023, já com a “poison pill” derrubada e com apoio da Salic, fundo soberano da Arábia Saudita, que hoje detém 16% da companhia.
Sobre a possibilidade de questionamentos concorrenciais envolvendo a Salic, dado que o fundo é investidor de outras empresas do setor de proteína, a companhia afirmou que não vê necessidade de aprovação do Cade para a operação.
Sinergias
A fusão foi justificada pelo potencial de sinergias operacionais. A expectativa é economizar R$ 800 milhões ao ano, com impacto já no primeiro exercício fiscal. Entre as frentes mapeadas estão otimizações logísticas, ganhos na cadeia de suprimentos e unificação da estrutura corporativa. “Esses R$ 805 milhões de sinergias mapeadas só seriam capturadas em uma fusão”, afirmou Gularte.
Além disso, a empresa estima um ganho fiscal adicional de até R$ 3 bilhões em valor presente, a partir da monetização acelerada de créditos tributários.
Fonte: Exame