A reunião de presidentes do Mercosul, que acontecerá na quinta-feira, em Buenos Aires, terá como foco a agenda do bloco, e não assuntos políticos. Foi o que afirmou ao Globo o ministro das Relações, Mauro Vieira, que viaja nesta terça-feira para a Argentina, onde participará da reunião do conselho de ministros do bloco.
Será a primeira vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará o país vizinho, desde que Javier Milei assumiu a Casa Rosada. Devido a ataques diretos de Milei a Lula desde a campanha presidencial no país vizinho, os dois mandatários não se falam.

MP da Argentina pede que Cristina Kirchner deixe prisão domiciliar e vá para a cadeia
Ex-presidente foi condenada de estar envolvida em um esquema de superfaturamento e favorecimento de contratos para obras públicas na província de Santa Cruz

Lula relativiza Selic e diz que Haddad e governo precisam falar mais dos juros reais
A posição do presidente é diferente do que ele costumava dizer quando o Banco Central era comandado por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
— Há duas cúpulas (do Mercosul) por ano. Há momentos em que é especificamente (a agenda do) Mercosul e há momentos em que há espaço para coisas políticas. Desta vez, da própria forma como foi organizado pela presidência argentina, vai ser um período muito curto. O presidente Lula vai chegar no dia 2. No dia 3, ele participará da reunião com os presidentes, marcada para às 11h, e embarcará de volta às 13h — disse Vieira.
O chanceler de Lula ressaltou que há vários projetos em curso que estão em discussão. Citou como exemplos a adesão de um novo membro, que é a Bolívia, e as negociações externas do Mercosul. Também destacou a flexibilização das regras do bloco, com o aumento da lista de exceções que permitirão os países do bloco a discutir acordos com os países do Hemisfério Norte.
— Temos vários pedidos de negociação: Panamá, Canadá, Vietnã, Indonésia, entre outros. Os projetos de negociação com a União Europeia estão avançadíssimos. Cada dia mais o Mercosul se consolida como importante área de livre comércio, que representa um número importante de habitantes, uma infraestrutura importante de quatro países, e que atrai a intenção e o interesse desses países. Nós temos inclusive de escolher e ver muito bem.
Perguntado se Lula aproveitará a viagem à Argentina para visitar a ex-presidente Cristina Kírchner, que está em prisão domiciliar, Vieira disse que até o momento não há nada previsto na agenda.
Brics
Na semana passada, o Brics divulgou uma nota demonstrando preocupação com os ataques a instalações nucleares iraniana e defendendo o uso da energia nuclear para fins pacíficos. O grupo não mencionou os Estados Unidos e Israel. Segundo o ministro, o tema pode ser incluído na reunião de líderes do Brics, prevista para os dias 6 e 7 deste mês, no Rio de Janeiro.
— Pode haver alguma proposta de se incluir algo na declaração final e não vejo dificuldade nenhuma. É mais do que natural. Mas estamos trabalhando com uma declaração final com várias áreas relevantes, como em saúde e transações comerciais entre os países — afirmou.
O fato de os presidentes da China (Xi Jinping) e da Rússia (Vladimir Putin) não estarem presentes na reunião do Rio não esvaziará evento, assegurou Vieira. Ele lembrou que a ausência de Putin (que tem sobre si mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional desde 2023).
— O presidente Xi Jinping não vem agora porque não pôde, por conta das circunstâncias e da grande agenda dele, pesada como é. E ele nunca tinha prometido nada e já veio várias vezes ao Brasil. Virá o primeiro-ministro da China ( Li Qiang), que é a segunda autoridade do país.
Gastos militares
Mauro Vieira criticou a decisão dos países da Otan de aumentarem os investimentos em defesa para 5% dos recursos orçamentários. Lembrou que, no ano passado, foram gastos US$ 2,7 trilhões, enquanto o mundo precisa de dinheiro para combater a fome e mitigar os efeitos do aquecimento global.
— É fundamental que se promova a segurança alimentar e o combate à fome em todos os continentes. E também há necessidade de recursos para a ação climática. É indispensável que haja financiamento para mitigar e afastar os riscos e que se passe de 1,5 centígrado de aquecimento global. Esses recursos foram prometidos desde a COP 15 e até hoje não chegou nada.
O diálogo entre Brasil e Estados Unidos é muito bom, é constante e é condizente com a qualidade da relação entre os dois países, que já tem mais de 200 anos”, de acordo com o chanceler de Lula. Sobre a ameaça do secretário de Estado americano, Marco Rubio, de sanções, como o bloqueio de recursos que estiverem nos EUA e a proibição de entrar no país, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, Vieira afirmou:
— Não sei que sanção é essa. Sanção sobre o quê? A legislação brasileira é aplicada no Brasil, e será e continuará sendo aplicada.
Para o governo brasileiro, a Lei Magnitsky, criada para punir graves violações de direitos humanos e casos de corrupção transnacional, deve ser usada nos EUA, e não em outros países. Há a informação de que a lei seria a base de sanções a Moraes.
COP30
O ministro evitou falar sobre as providências que têm sido tomadas para garantir infraestrutura e hospedagem às delegações que vão participar da conferência mundial sobre o clima, a COP30, em Belém (PA). Disse que a parte de logística está sendo trabalhada pelo governo. Segundo ele, Itamaraty tem a responsabilidade sobre a parte das negociações políticas e diplomáticas.
— Estamos avançando com vários projetos e iniciativas. Em breve, vamos poder lançá-las e anunciá-las. Uma delas é o lançamento do TFFF, que é o Tropical Forest Forever Founding – Fundo de Florestas Tropicais para Sempre –, que é uma coisa nova, inusitada, uma inciativa brasileira junto com os Congos e a Indonésia. A parte de logística está sendo trabalhada.
Juliana Marins
Vieira lamentou a morte da brasileira Juliana Marins, que morreu após cair em uma trilha no monte Rinjani, na Indonésia. Disse que as dificuldades de acesso e climáticas impediram que a jovem fosse resgatada com vida.
—Lamentamos muito a morte dela. Foi uma tristeza, uma tragédia. Uma moça tão jovem. Não sei quantas exatamente horas ou dias ela sobreviveu. Mas o fato é que é uma região muito inóspita, muito difícil, e com grandes dificuldades de chegar a tempo, inclusive por condições atmosféricas.
The post Mauro Vieira: “há espaço para ‘coisas políticas’ em visita de Lula à Argentina” appeared first on InfoMoney.
Fonte: InfoMoney