(Bloomberg) – Diversos bancos centrais devem manter suas taxas de juros inalteradas nesta semana, enquanto seguem avaliando os impactos das interrupções comerciais provocadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
De Washington a Londres, autoridades cautelosas — em países que respondem por dois quintos da economia global — podem demonstrar uma paralisia coletiva diante dos riscos que tarifas e o comércio instável impõem à inflação e ao crescimento. As tensões renovadas no Oriente Médio só aumentam o dilema.
Decisões dos bancos centrais nesta semana
O desafio foi delineado em 3 de junho pela OCDE, com sede em Paris, que reduziu suas projeções para a expansão econômica global e alertou que o protecionismo está pressionando os preços ao consumidor. O impacto das tensões comerciais na prosperidade mundial deverá ser tema na reunião do G7, que começa neste domingo, no Canadá.
Os olhos dos investidores estarão voltados principalmente para a decisão do Federal Reserve (Fed) nesta quarta-feira, véspera do 150º dia de governo de Trump. Especialistas acreditam que os dirigentes do banco central norte-americano ainda estão longe de chegar a um veredito sobre os efeitos das políticas da Casa Branca na economia.
O que diz a Bloomberg Economics:
“Diante da incerteza, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) considera ideal manter tudo como está. Esperamos que o participante mediano sinalize apenas um corte de 25 pontos-base em 2025, abaixo dos dois previstos anteriormente — e uma minoria significativa pode não prever cortes. Isso contrasta fortemente com as expectativas de mercado, que ainda apontam para 50 pontos-base. Powell tentará equilibrar a narrativa: reconhecer dados mais fracos, mas enfatizar que o Fed está em modo ‘esperar para ver’, diante da incerteza política.”
— Anna Wong, Stuart Paul, Eliza Winger, Estelle Ou e Chris G. Collins
O Banco do Japão pode adiar qualquer mudança na taxa, focando em ajustes nas compras de títulos. Já os bancos centrais do Reino Unido e da Noruega também devem manter os custos de empréstimo inalterados.
Ao todo, bancos responsáveis por seis das dez moedas mais negociadas do mundo tomarão decisões nesta semana. Dentre eles, apenas Suécia e Suíça devem fazer cortes, ambos modestos.
No Brasil, Chile, Indonésia e Turquia, também é provável que não haja mudanças, enquanto os formuladores de política observam os desdobramentos internos e globais.

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Outros destaques da semana incluem uma enxurrada de dados da China, números da inflação no Reino Unido e vários discursos de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE).
Estados Unidos e Canadá
Nos EUA, dados econômicos incluem vendas no varejo de maio — que devem cair devido à redução nas compras de veículos. Excluindo carros e combustíveis, no entanto, o relatório deve indicar ligeiro crescimento.
Também saem dados sobre construção residencial e produção industrial. O setor manufatureiro deve mostrar retração pelo segundo mês consecutivo.
No Canadá, o premiê Mark Carney pretende se reunir com todos os líderes do G-7 em Kananaskis, Alberta. O Reino Unido, por sua vez, quer retomar negociações comerciais com os canadenses.
O resumo das deliberações do Banco do Canadá e um discurso do presidente Tiff Macklem devem trazer mais pistas sobre a trajetória das taxas de juros.
Ásia
Na Ásia, é uma semana movimentada para os bancos centrais — maioria com previsão de manutenção nas taxas. China e Japão divulgam uma série de indicadores econômicos.
Na segunda-feira, o Paquistão deve manter os juros. Na terça, o Banco do Japão (BoJ) também tende a manter a taxa, apesar das expectativas de mudança nas compras de títulos.
Na quarta, Indonésia deve manter os juros, o mesmo para Taiwan na quinta, diante da recente valorização do dólar taiwanês. A China deve manter as taxas preferenciais de empréstimos na sexta-feira.
Apenas o Banco Central das Filipinas deve cortar a taxa — em 25 pontos-base.
Na China, os dados de segunda devem mostrar desaceleração nas vendas do varejo, estabilidade na produção industrial e nova queda nos investimentos imobiliários.
O Japão divulgará exportações, pedidos de máquinas e inflação ao consumidor. Índia, Cingapura, Malásia e Taiwan também publicam dados de comércio.
Austrália deve apresentar crescimento modesto de empregos, enquanto Nova Zelândia e Sri Lanka divulgam PIB, e a Coreia do Sul publica índices de preços de exportação e produção.
Europa, Oriente Médio e África
O Banco da Inglaterra (BoE) anuncia sua decisão na quinta-feira, um dia após a divulgação da inflação do Reino Unido. A expectativa é de manutenção da taxa em 4,25%, apesar da pressão inflacionária e do impacto das tarifas dos EUA.
A inflação no Reino Unido deve permanecer em 3,4% — acima da meta de 2%. A escalada no Oriente Médio após um ataque israelense ao programa nuclear do Irã gerou alta no preço do petróleo.
A previsão é de que o Comitê de Política Monetária vote por 7 a 2 pela manutenção da taxa, com dois membros defendendo corte de 0,25 p.p.
Outras decisões:
- Suécia: o Riksbank pode cortar a taxa novamente, após já reduzir 175 pontos-base desde maio de 2024.
- Namíbia: deve cortar os juros, já que a inflação está perto do limite inferior da meta (3%-6%).
- Noruega: o Norges Bank deve manter a taxa em 4,5%, com previsão de cortes na segunda metade do ano.
- Suíça: o Banco Nacional Suíço deve reduzir a taxa em 0,25 p.p. para evitar valorização do franco.
- Botsuana: possível corte para impulsionar a economia.
- Turquia: taxa de 46% deve ser mantida, enquanto outras ferramentas estão sendo usadas para afrouxar a política.
O BCE terá semana movimentada, com discursos do presidente do Bundesbank, membros do Conselho em Milão, e uma fala da presidente Christine Lagarde em conferência na Ucrânia.
Entre os dados relevantes, a pesquisa de sentimento do investidor na Alemanha (ZEW) sai na terça, e a confiança do consumidor da zona do euro, na sexta.
Em Israel, os dados de domingo podem mostrar leve desaceleração da inflação para 3,5%. Na África do Sul, o índice sai dois dias depois — com estabilidade esperada em 2,8%.
Na quinta-feira, o banco central sul-africano divulga seu relatório semestral de estabilidade financeira.
América Latina
No Brasil, o indicador do PIB mensal de abril sai na segunda-feira. Benefícios sociais e o mercado de trabalho aquecido devem sustentar o crescimento, apesar da desaceleração esperada.
PIB-proxy anual deve cair para 1,4%, ante 3,49% do mês anterior.
Na Colômbia, dados de abril incluem PIB-proxy, balança comercial e importações.
O Banco Central do Chile deve manter a taxa básica em 5% na terça-feira — quarta reunião consecutiva sem mudanças. Economistas preveem corte de 0,5 p.p. até o fim do ano, com taxa terminal em 4%. Meta de inflação de 3% deve ser atingida até o final de 2026.
Na quarta, o Chile divulga seu relatório trimestral de inflação, com revisões nas projeções de crescimento e política monetária.
O Banco Central do Brasil, por sua vez, deve encerrar seu ciclo de aperto “leve” iniciado após o susto inflacionário. A taxa Selic pode ser mantida em 14,75%. Apesar disso, não há pressa para iniciar cortes.
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Fonte: InfoMoney