Presidente Lula e o premiê chinês, Li Qiang, durante cúpula do Brics no Rio de Janeiro 05/07/2025 REUTERS/Pilar Olivares
Os líderes do crescente grupo Brics de nações em desenvolvimento se reúnem no Rio de Janeiro neste domingo para reforçar pedidos de reforma das instituições ocidentais tradicionais e apresentar o bloco como defensor do multilateralismo, em um mundo cada vez mais fragmentado.
Com fóruns como o G7 e o G20 — os grupos das principais economias do mundo — prejudicados por divisões e pela abordagem “America First” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a expansão do Brics abriu um novo espaço para a coordenação diplomática.
“Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime de comércio multilateral e reformar a arquitetura financeira internacional”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um fórum empresarial do Brics no sábado.
As nações do Brics agora representam mais da metade da população mundial e 40% de sua produção econômica, observou Lula.
O Brics reuniu os líderes do Brasil, Rússia, Índia e China em sua primeira cúpula em 2009. Posteriormente, o bloco acrescentou a África do Sul e, no ano passado, incluiu Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos como membros plenos. Esta é a primeira cúpula de líderes a incluir a Indonésia.
“O vácuo deixado pelos outros acaba sendo preenchido quase que instantaneamente pelos Brics”, disse um diplomata brasileiro que pediu para não ser identificado. Embora o G7 ainda concentre grande poder, acrescentou a fonte, “ele não tem a predominância de outrora”.
No entanto, há dúvidas sobre as metas compartilhadas por um grupo cada vez mais heterogêneo, que cresceu e passou a incluir rivais regionais, além das principais economias emergentes.
Tirando um pouco do sucesso da cúpula deste ano, o presidente chinês, Xi Jinping, optou por enviar seu primeiro-ministro em seu lugar. O presidente russo, Vladimir Putin, participará remotamente devido a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Ainda assim, muitos chefes de Estado se reunirão para discussões no Museu de Arte Moderna do Rio no domingo e na segunda-feira, incluindo o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
Mais de 30 nações manifestaram interesse em participar do Brics, seja como membros plenos ou parceiros.
INFLUÊNCIA CRESCENTE
O Brasil, que também sediará a cúpula climática da ONU COP em novembro, aproveitou os dois encontros para destacar a seriedade com que as nações em desenvolvimento estão lidando com as mudanças climáticas, enquanto Trump freou as iniciativas climáticas dos EUA.
Tanto a China quanto os Emirados Árabes Unidos sinalizaram, em reuniões com o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, no Rio de Janeiro, que planejam investir no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, de acordo com duas fontes com conhecimento das discussões sobre o financiamento da conservação de florestas ameaçadas de extinção em todo o mundo.
A expansão do Brics adicionou peso diplomático ao encontro, que aspira a falar pelas nações em desenvolvimento em todo o Sul Global, fortalecendo os pedidos de reforma de instituições globais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O crescimento do bloco também aumentou os desafios para chegar a um consenso sobre questões geopolíticas polêmicas.
Antes da cúpula, os negociadores se esforçaram para encontrar uma linguagem comum para uma declaração conjunta sobre o bombardeio de Gaza, o conflito entre Israel e Irã e uma proposta de reforma do Conselho de Segurança, disseram duas fontes, que pediram anonimato para falar abertamente.
Para superar as diferenças entre as nações africanas em relação ao representante proposto pelo continente para um Conselho de Segurança reformado, o grupo concordou em endossar assentos para o Brasil e a Índia, deixando em aberto qual país deveria representar os interesses da África, disse à Reuters uma pessoa familiarizada com as negociações.
O Brics também continuará com suas críticas veladas à política tarifária de Trump nos EUA. Em uma reunião ministerial em abril, o bloco expressou preocupação com “medidas protecionistas unilaterais injustificadas, incluindo o aumento indiscriminado de tarifas recíprocas.”
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Fonte: InfoMoney