MOSCOU — Após quase seis décadas de ausência, o rosto de Josef Stalin, o ditador soviético conhecido por não poupar vidas para alcançar seus objetivos, está novamente saudando os passageiros em uma das estações ornamentadas do metrô de Moscou.
Uma nova estátua foi inaugurada pelas autoridades neste mês, mostrando Stalin olhando para o horizonte, ladeado por trabalhadores e crianças que lhe oferecem flores. Réplica de uma que foi removida em 1966 durante uma campanha de “desestalinização”, o novo relevo rapidamente se tornou uma atração, com pessoas deixando flores, parando para tirar fotos, inclusive com seus filhos, ou apenas observando pensativamente.
A escultura faz parte da reabilitação gradual de um líder brutal que ainda tem o poder de dividir os russos, 72 anos após sua morte. O Kremlin reviveu partes de seu legado em seu esforço para recontar a história da Rússia como uma série de triunfos gloriosos que está determinado a continuar na Ucrânia.
Entre os que admiravam a obra em uma visita recente estava Liliya A. Medvedeva, que disse estar “muito feliz que nosso líder foi restaurado.”
“Nós vencemos a guerra graças a ele,” disse Medvedeva, uma aposentada nascida em 1950, acrescentando que era grata por Stalin não ter enviado seu pai para o Gulag, embora ele tenha sido feito prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial — algo que na época era equiparado a traição. “Sim, houve muitos erros, mas todo mundo comete erros.”
Em um país onde criticar ações do governo pode ser perigoso, não está claro quantas pessoas discordam da visão positiva de Medvedeva, mas alguns estão consternados, até enfurecidos, com o que veem como uma revisão histórica que tenta reescrever o passado.
Vladimir, um estudante de história de 25 anos que se recusou a dar seu sobrenome por medo de retaliação, disse que veio observar a multidão atraída por Stalin, a quem chamou de “um tirano sanguinário.”
“É difícil para mim expressar minha própria opinião,” disse ele. “Mas nenhum outro monumento atrairia tanta atenção.”
Stalin foi responsável por expurgos em massa, incluindo o Grande Terror de 1936 a 1938, quando mais de 700 mil pessoas foram executadas, incluindo líderes militares, intelectuais, membros de minorias étnicas, camponeses proprietários de terras e outros. Sob sua liderança, grupos étnicos inteiros, como os tártaros da Crimeia, foram expulsos de suas terras natais. Suas políticas contribuíram para a fome em massa em toda a União Soviética, inclusive na Ucrânia.
Mas a nostalgia pela era soviética é forte, especialmente entre as gerações mais velhas traumatizadas pela dolorosa transição para o capitalismo, reforçando as memórias de Stalin como um homem forte que impôs ordem a um país vasto e o conduziu à vitória contra a Alemanha nazista. Seus admiradores veem os expurgos, fomes e deportações em massa como “excessos” pelos quais oficiais locais zelosos foram em grande parte responsáveis.
Desde que Vladimir Putin assumiu o poder há mais de 25 anos, pelo menos 108 monumentos a Stalin foram erguidos em toda a Rússia, e o ritmo acelerou desde a invasão da Ucrânia em 2022, disse Ivan Zheyanov, historiador e jornalista que acompanha as estátuas. Um deles foi instalado este ano na cidade ucraniana de Melitopol, atualmente ocupada pelas forças russas.
Mas nenhum deles tem a visibilidade da nova escultura no metrô, pela qual passam diariamente legiões de moscovitas que fazem baldeação entre a linha circular principal e a linha roxa.
Por anos, o Kremlin tentou manter certo equilíbrio, reconhecendo as repressões de Stalin enquanto se opunha à intelectualidade liberal cujos principais princípios ideológicos incluíam o antistalinismo.
Putin condenou Stalin repetidamente ao longo dos anos e reconheceu que crimes terríveis foram cometidos sob seu governo. Ele visitou locais de valas comuns e convocou ativistas de direitos humanos e historiadores para discutir o stalinismo.
Em 2001, a Prefeitura de Moscou fundou o Museu da História do Gulag, que mostrava claramente como um sistema de campos de trabalho em massa levou a até 2 milhões de mortes.
Mas, há vários anos, algo completamente diferente vem acontecendo em paralelo.
O Memorial, a mais proeminente organização russa de direitos civis fundada por dissidentes no final da era soviética, foi declarado agente estrangeiro em 2014. No final de 2021, o Tribunal da Cidade de Moscou ordenou seu fechamento.
Em 2017, Putin disse ao cineasta Oliver Stone que “a demonização excessiva de Stalin foi uma das formas de atacar a União Soviética e a Rússia.”
Após uma série de longos julgamentos, Yuri A. Dmitriev, um historiador amador que descobriu túmulos de vítimas de Stalin em uma floresta remota no norte da Rússia, foi condenado em 2021 a 15 anos de prisão. Dmitriev foi considerado culpado de abusar sexualmente de sua filha adotiva, acusações que sua família e amigos consideram fabricadas.
O Museu da História do Gulag foi fechado em 2024, pela suposta violação de normas de segurança contra incêndio, e não reabriu mais. Roman Romanov, seu diretor de longa data, foi removido do cargo e as exposições do museu estão sendo refeitas sob nova direção.
Em abril deste ano, o governo renomeou o aeroporto de Volgogrado para Stalingrado, como a cidade foi chamada de 1925 a 1961, homenageando tanto a colossal batalha travada ali na Segunda Guerra Mundial quanto o governante que lhe deu o nome.
“A ‘reestalinização’ gradual do país é perigosa não apenas para a sociedade, pois justifica as maiores atrocidades governamentais da história do país, mas também para o Estado,” disse Lev Shlosberg, político da oposição russa e membro do partido liberal Yabloko, que iniciou uma petição para desmontar o monumento no metrô de Moscou. “Mais cedo ou mais tarde, a repressão consome o próprio governo.”
c.2025 The New York Times Company
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Fonte: InfoMoney