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Larva de mosca com rosto fake no bumbum é aceita e alimentada em cupinzeiro

Para quem sempre imaginou que os seres falsos se limitam ao gênero humano, um estudo conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores revelou um tipo de mosca varejeira (da família Calliphoridae) cujas larvas conseguem se infiltrar em um cupinzeiro.

Publicada recentemente na revista Current Biology, a descoberta ocorreu por acaso durante uma pesquisa entomológica realizada na cordilheira do Anti-Atlas, no sul do Marrocos, e mostra adaptações morfológicas e químicas bastante exclusivas.

Em um comunicado de imprensa, o pesquisador líder do estudo, Roger Vila, da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona na Espanha, explica que, originalmente, a equipe estudava borboletas e formigas.

“Como tinha chovido muito e as borboletas não estavam voando, procuramos formigas. Quando levantamos uma pedra, encontramos um cupinzeiro com três larvas de mosca que nunca tínhamos visto antes”, afirma o biólogo.

Levadas à superfície pela enchente, as larvas se mostraram extremamente raras, pois, após mais três expedições realizadas no local, eles só encontraram mais duas moscas, juntas, em outro cupinzeiro.

Máscara de cupim no traseiro para entrar escondida


6 de maio de 2025 - 15:10
Resumo gráfico do estudo • Sämi Schär et al., Current Biology, 2025

Segundo os pesquisadores, a chamada “máscara de cupim” é na verdade uma imitação de cabeça, não funcional, mas com antenas e palpos (apêndices sensoriais) de um cupim de montículo adulto. Para completar o disfarce, a cabeça falsa tem dois olhos, que são, na realidade, os orifícios de respiração das larvas, os espiráculos, que ficam na parte traseira do corpo.

Embora não tenham percepção visual por viver principalmente no subsolo, “os cupins operários saem ao anoitecer para coletar grama, então eles têm olhos funcionais que as larvas são capazes de imitar com seus espiráculos”, explica Vila.

Usando microscopia eletrônica de varredura, a equipe também localizou “tentáculos” no corpo das larvas, que imitam as antenas dos cupins com riqueza de detalhes, e permitem interagir com vários deles ao mesmo tempo.

Finalmente, a característica mais impressionante exibida pelas larvas é o “cheiro assinatura”, uma combinação de feromônios própria de cada cupinzeiro, que é fundamental na comunicação, organização e defesa do ninho. Como o interior da colônia é completamente escuro, esse odor é a forma com a qual os cupins se reconhecem, usando suas antenas para detectar a forma e o cheiro dos seus irmãos. Sem esse cheiro, qualquer intruso é imediatamente desmembrado pelos cupins soldados.

A análise química das larvas mostrou que elas cheiram exatamente como os cupins da colônia, mas têm pequenas diferenças em seu perfil químico que as diferenciam de outros cupinzeiros. “É um disfarce químico”, maravilha-se Vila.

Quais as vantagens obtidas pelas larvas infiltradas no cupinzeiro?

Segundo o estudo, os ninhos altamente organizados dos chamados insetos eussociais, como formigas e cupins, “oferecem habitats estáveis, ricos em nutrientes e protegidos que podem ser explorados por outros organismos”. É por isso que diversas famílias de artrópodes conseguem, eventualmente, romper as defesas do ninho e se tornar inquilinos, mutualistas, predadores, parasitoides ou parasitas sociais.

No caso das larvas do Marrocos, os autores perceberam no laboratório que elas tinham uma tendência a se estabelecer nas áreas mais populosas do ninho, um local nobre onde recebiam maior atenção e cuidados. Esses setores mais ativos são também os mais importantes da colônia, como perto da câmara real ou dos locais de armazenamento de alimentos. As larvas de mosca eram “presas” pelos cupins com suas peças bucais para serem inspecionadas, alimentadas ou movidas para locais mais seguros.

No entanto, a pesquisa não conseguiu revelar dois mistérios. O primeiro é sobre a dieta das larvas. Embora aparentando um comportamento parecido com a trofalaxia (troca de líquidos boca a boca ou ânus a boca), isso não foi demonstrado.

Outro mistério não observado foi a forma adulta das larvas, pois elas “acabaram morrendo sem se metamorfosear, então pode haver elementos do ninho e da relação simbiótica […] que não conseguimos transferir para o laboratório”, diz Vila.

Para o biólogo, a descoberta da larva de mosca desafia nossas noções tradicionais sobre a forma como as espécies interagem, para além dos rígidos conceitos de simbiose e parasitismo social. Além de revelar o quão pouco sabemos sobre a diversidade dos insetos.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Larva de mosca com rosto fake no bumbum é aceita e alimentada em cupinzeiro no site CNN Brasil.

Fonte: CNN Brasil

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