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Julho sem compras: será que vale mesmo a pena?

Julho sem compras: será que vale mesmo a pena?

Você já deve ter ouvido falar do “Fevereiro Frugal”. Mas e o “Julho Sem Compras”? O sétimo mês do ano virou o foco sazonal da tendência de orçamento “sem gastos”, popular nas redes sociais, em que as pessoas se comprometem a não fazer gastos discricionários por um período para economizar, pagar dívidas ou simplesmente controlar melhor as finanças.

O interesse pelo “jejum financeiro” surge em um momento em que muitos americanos enfrentam incertezas financeiras. Milhões de devedores de empréstimos estudantis estão inadimplentes, e muitos outros estão tendo dificuldades para retomar os pagamentos após uma longa pausa durante a pandemia. Os atrasos nos pagamentos de cartões de crédito estão aumentando. E, embora a inflação tenha diminuído, ainda há preocupações de que as tarifas possam fazê-la subir novamente.

“As coisas estão muito caras agora”, diz Jasmine Renae Ray, planejadora financeira em Tulsa, Oklahoma. “As pessoas estão perguntando: ‘Como posso economizar dinheiro? O que posso controlar?’”

Ver quanto você consegue economizar ao eliminar itens não essenciais pode transformar o processo em um jogo, em vez de um sacrifício doloroso, afirma Gretchen Rubin, apresentadora do podcast “Happier”, que escreveu sobre sua própria experiência em um mês sem gastos. “É um experimento divertido”, diz ela. “Isso te força a encarar seus hábitos de consumo.”

Também houve uma mudança cultural, com alguns americanos mais dispostos a falar abertamente sobre dinheiro — ou sobre a falta dele — e a adotar um consumo mais contido, segundo Janelle Sallenave, diretora de gastos da Chime, empresa de tecnologia financeira. “Ser frugal era visto como ser pão-duro”, diz ela. “Agora, é visto como ser inteligente.”

Mas por que julho?

Fevereiro tradicionalmente é considerado um mês ideal para apertar o cinto, já que as pessoas tentam pagar as contas do cartão de crédito das festas de fim de ano ou manter as resoluções financeiras de Ano Novo. Não está tão claro porque julho, normalmente associado a férias, virou alvo dos aspirantes a econômicos.

“O mês de julho me parece uma má escolha”, diz Annamaria Lusardi, diretora da Iniciativa para Tomada de Decisões Financeiras da Universidade de Stanford. Privar-se durante um período planejado de relaxamento pode ser ainda mais difícil do que em outros momentos mais estruturados do ano, afirma ela. (Quando volta à Itália natal para descansar, ela gosta de tomar dois sorvetes por dia, em vez de um só.) Além disso, é um mês em que algumas famílias com filhos podem começar as compras da volta às aulas, entrando no modo de gastar.

Alguns entusiastas atribuem a escolha de julho, pelo menos em parte, ao título criativo. “Rima e é muito chamativo”, diz Rubin, o que facilita lembrar. [Em inglês, a expressão é “No Buy” July].

Ainda assim, alguns planejadores financeiros dizem que analisar os hábitos de consumo no verão pode fazer sentido. Se você definiu metas financeiras em janeiro, revisar suas resoluções em julho para ver se está progredindo pode ser útil, diz Gloria Garcia Cisneros, planejadora financeira certificada em Los Angeles. “É um momento de checagem, no meio do ano”, afirma.

Paula Holloway, influenciadora de moda plus size em Indiana que mantém um blog, diz que passou a “desejar” períodos de jejum de consumo desde que tentou um há alguns anos. Ela argumenta que pode ser mais fácil para algumas pessoas cortar gastos em julho, já que passar mais tempo ao ar livre pode diminuir o apelo das compras online e ajudar a combater a sensação de sacrifício. “É verão, temos várias outras coisas acontecendo, então ficamos distraídos”, diz ela.

Que aprendizados um período sem compras pode trazer?

Rubin diz que decidir antecipadamente não comprar supérfluos por um mês liberou tempo que antes era gasto pesquisando produtos e debatendo se deveria comprá-los. “O cansaço de decisão desaparece”, afirma.

Holloway conta que se comprometer a não comprar roupas novas por um mês a ajudou a ser mais criativa com as peças que já tinha no armário. Agora, ela pensa nos looks como receitas: às vezes, só é preciso um ingrediente, não um conjunto novo. “Saí disso mais estratégica sobre o que vou comprar”, diz.

O processo a ajudou a ser mais consciente sobre os gastos, especialmente agora que ela e o marido se aproximam da aposentadoria, diz Holloway, de 60 anos. “Tudo a que digo ‘sim’ agora é um ‘não’ para outra coisa”, afirma.

Dietas de consumo têm efeitos duradouros?

James Choi, professor de finanças da Yale School of Management, diz não conhecer pesquisas que mostrem se cortar gastos por um curto período pode melhorar as finanças de alguém no médio ou longo prazo. “Meu instinto é que, assim como nas dietas, mudanças sustentadas de estilo de vida são necessárias para realmente mudar a situação financeira no longo prazo”, disse Choi por e-mail.

E um jejum de consumo pode ser seguido por um surto de compras, assim como se privar demais de comida pode levar a comer em excesso depois. Mas não está claro se com gastos funciona da mesma forma, diz ele. “Simplesmente não sabemos.”

Lusardi diz preferir uma abordagem mais consistente para orçamento e consumo. “Minha preocupação é que, sabendo que vai fazer isso em julho, você acabe gastando mais em junho”, diz. “É um pouco complicado.”

Além disso, ela observa, as pessoas são bombardeadas por mensagens de marketing, promoções por e-mail e SMS, incentivando a comprar. Sem um plano de consumo sustentável ao longo do ano, ela diz, “não acho que um desafio de um mês vá superar isso”.

E se eu quiser tentar o ‘Julho Sem Compras’?

A ideia é limitar qualquer gasto além do básico, como aluguel, contas, supermercado e cuidados médicos.

Mas não há regras rígidas, e você pode decidir por conta própria o que vai abrir mão e como definir um “supérfluo”. Pegar um Uber está liberado? E pedir comida pelo iFood? Rubin diz que ela e a irmã, que também participou do mês sem gastos, concordaram que comprar presentes para outras pessoas estava permitido se o aniversário fosse iminente, mas estocar presentes para o futuro não.

Cisneros recomenda usar o período sem compras para aumentar a consciência financeira. “Períodos sem gastos podem ser poderosos se forem encarados com a mentalidade certa”, diz Cisneros. Você pode se perguntar: “Para onde está indo meu dinheiro? Está indo para coisas que realmente importam para mim? Para onde ele deveria ir?”

Em vez de ‘não’, tente ‘menos’

Períodos sem compras são opções principalmente para quem tem espaço no orçamento para supérfluos, diz Cisneros. “São pessoas que podem se dar ao luxo de cortar.” Se seu orçamento já está apertado, considere reduzir por um período mais curto — uma semana, por exemplo — ou tente um mês de “menos compras”, em vez de “nenhuma compra”.

Uma tática sugerida por várias pessoas para o “Julho Sem Compras” é anotar o item ou itens que você gostaria de comprar, em vez de simplesmente clicar no botão de compra. Depois, revise a lista em agosto para ver se ainda quer algum deles.

Rubin diz que seu mês sem gastos a incentivou a buscar novas formas de reduzir compras. Ela adora ler, mas a pilha de livros comprados estava ficando incontrolável. Então, este ano, ela está vivendo o que chama de verão do “tsundoku”, palavra japonesa para o hábito de deixar livros se acumularem sem serem lidos. Em vez de comprar mais livros, ela está lendo os que já tem em casa.

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.

c.2025 The New York Times Company

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Fonte: InfoMoney

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