O consórcio tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens no Brasil. De acordo com um levantamento feito pela administradora Ademicon, o número de consorciados entre 18 e 25 anos cresceu 372% nos últimos três anos, e a adesão de clientes de 26 a 30 anos aumentou 210%. Juntas, essas faixas etárias representam 24% dos consorciados da empresa até o fim de 2024. Para esse público, o consórcio surge como alternativa para evitar as altas taxas de juros e adquirir bens ou serviços.
O analista financeiro Erick Freitas, de 26 anos, aderiu ao consórcio para comprar sua moto e escapar dos juros do financiamento. Apenas dois meses após a adesão, foi contemplado e pegou as chaves do veículo.
— Se eu fosse financiar, pagaria cerca de R$ 75 mil por uma moto de R$ 49.900, enquanto, com o consórcio, o valor ficou em R$ 52.500 — explica Freitas.
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Avelino Andrade, diretor master licenciado da Ademicon, aponta que o crescente interesse dos jovens pelos consórcios é resultado de três fatores principais:
— A dificuldade de acesso ao crédito, devido às altas taxas de juros, a crescente educação financeira, impulsionada pelas redes sociais, e a flexibilidade do consórcio, que permite que as pessoas realizem seus desejos, são os três pontos que explicam esse movimento — comenta.
Assim como o caso de Freitas, os dados da Ademicon mostram um destaque no segmento de consórcios de veículos entre as gerações mais jovens. Entre 2022 e 2024, o número de clientes na faixa etária de 18 a 25 anos cresceu 262%, enquanto na faixa de 26 a 30 anos o aumento foi de 146%. Também houve destaque no setor de imóveis, que registrou elevações de 449% e 243% para as mesmas faixas etárias no mesmo período.
A busca pela casa própria motivou o analista de suporte computacional Pólen Alexandre Aleixo, de 27 anos, a ingressar no mundo dos consórcios. Agora, ele e a esposa, Marcela Veiga Ferraz, de 24, aguardam a contemplação e já fazem planos para outros consórcios:
— Tenho planos de participar de outros consórcios no futuro, inclusive para trocar de carro. E, se tudo der certo e formos contemplados com nosso primeiro imóvel, minha intenção é investir em mais imóveis futuramente — diz ele.
Popularização da modalidade
O crescimento da modalidade entre os jovens não é isolado, os consórcios vêm apresentando resultados crescentes ano após ano. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) mostra que, ao fim do primeiro quadrimestre de 2025, o Sistema de Consórcios registrou crescimento de 19,3% nas vendas em comparação com o mesmo período do ano passado.
Além de ser uma alternativa às altas taxas de juros, uma vez que o consórcio funciona com uma taxa de administração — geralmente mais baixa do que a de um financiamento —, a popularização dessa modalidade, indicada pelos números, tem relação com a educação financeira e o planejamento, explica o presidente regional da Abac, Vitor Bonvino:
— O consórcio surge a partir da educação financeira. Ele incentiva o consumidor a se programar e a planejar suas compras. Costumo brincar que ninguém acorda desesperado para comprar uma cota de consórcio, mas, sim, querendo uma bolsa, um carro. O consórcio funciona como um freio — explica ele.
Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), destaca que o consórcio pode ser uma alternativa vantajosa, especialmente quando o objetivo é a médio ou longo prazo:
— Se você precisa do bem de forma imediata, o financiamento pode ser a melhor opção. Por outro lado, se a aquisição do bem pode ser adiada, e você está buscando uma solução mais econômica no longo prazo, o consórcio pode ser uma excelente escolha — afirma.
Como funciona?
O consórcio é uma modalidade de compra coletiva, na qual os participantes contribuem mensalmente com parcelas para uma administradora de consórcios. Essas empresas, por sua vez, realizam sorteios para determinar quem será contemplado com a carta de crédito, que possibilita a aquisição do bem desejado, explica Domingos, da Abefin. Ele destaca que, devido ao modelo funcionamento do processo, é preciso ter paciência:
— O consórcio exige paciência, pois não há garantia de contemplação imediata. Você pode ser sorteado no primeiro mês ou esperar anos, dependendo do tipo de consórcio — diz.
O presidente da Abefin acrescenta, no entanto, que existem maneiras de acelerar as chances de contemplação.
— Esse processo pode ser acelerado por meio de lances, que são ofertas de valor adicional nas parcelas, aumentando as chances de ser contemplado mais rapidamente — explica.
Além da necessidade de planejamento, o especialista orienta que os interessados considerem o impacto da taxa de administração — que, embora seja menor do que a de um financiamento, ainda representa um custo. Ele também destaca a importância de avaliar a capacidade de manter as parcelas do consórcio, pois, sendo um compromisso de longo prazo, é essencial ter clareza sobre a viabilidade de arcar com os pagamentos sem comprometer a saúde financeira.
Cuidados a seguir
Evite a inadimplência – Manter o pagamento das parcelas em dia é crucial. O atraso no pagamento pode resultar em multas e juros, além de comprometer sua participação em sorteios e lances. Em casos extremos, a inadimplência pode levar à exclusão do grupo.
Verifique a administradora – Certifique-se de que a administradora do consórcio é regulamentada pelo Banco Central (BC). A autoridade monetária tem um portal em que se pode consultar as administradoras de consórcios regulamentadas e aprovadas. Esse é o primeiro passo para garantir que a administradora é legal e segue as normas do setor. Isso garante que a empresa seja confiável e que você terá segurança jurídica em relação à operação do consórcio.
Compare as taxas de administração – A taxa de administração no consórcio é um fator importante. Embora ela seja mais baixa do que os juros do financiamento, é essencial comparar as taxas entre as administradoras para escolher a mais vantajosa.
Pesquise a carta de crédito – Antes de assinar o contrato, verifique se o valor da carta de crédito é suficiente para cobrir todos os custos da compra do bem, incluindo taxas adicionais como escritura, cartório, impostos e outros encargos.
Busque por administradoras tradicionais e bem estabelecidas – Prefira sempre administradoras que tenham uma boa reputação no mercado, que possuam histórico comprovado de atuação e que sejam auditadas periodicamente pelo Banco Central.
Desconfie de ofertas muito vantajosas – Se a administradora promete resultados rápidos ou condições muito favoráveis sem justificativa, pode ser um sinal de alerta para o consumidor. Evite empresas que não apresentem transparência em relação à taxa de administração, às condições de crédito e aos prazos. Ao seguir essas orientações e fazer uma pesquisa detalhada, você poderá fazer uma escolha mais segura e também evitar golpes no setor de consórcios.
Atenção a capacidade de manutenção – Como o consórcio é um compromisso a longo prazo, é importante ter certeza de que conseguirá arcar com as parcelas até o fim do contrato.
Compare as condições do consórcio e do financiamento – A escolha entre consórcio, financiamento ou empréstimo depende das condições financeiras do comprador e da urgência em adquirir o bem. Uma recomendação é calcular o valor total do produto ou do serviço, considerar a taxa de administração do consórcio e a possibilidade de ser contemplado por sorteio ou lance, e comparar com as taxas de juros e os custos de um financiamento. Segundo Reinaldo Domingos, no consórcio, a taxa de administração é bem menor do que os juros cobrados no financiamento, no qual é preciso pagar entrada e passar por uma análise de crédito. No consórcio, não há entrada, mas a obtenção da carta de crédito depende de sorteio ou lance.
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Fonte: InfoMoney