O chanceler do Irã, Abbas Araqchi, afirmou nesta sexta-feira que Teerã não recebeu nenhuma proposta “por escrito” dos Estados Unidos para um acordo sobre o desenvolvimento de seu programa nuclear. A declaração do chefe da diplomacia iraniana acontece após o presidente americano, Donald Trump, ter dito durante sua passagem pelos Emirados Árabes Unidos que já havia enviado uma proposta a autoridades da nação persa.
“O Irã não recebeu nenhuma proposta por escrito dos Estados Unidos, direta ou indiretamente. Enquanto isso, as mensagens que nós — e o mundo — continuamos recebendo são confusas e contraditórias. Mesmo assim, o Irã permanece determinado e direto: respeitem nossos direitos e acabem com suas sanções, e temos um acordo”, escreveu Araghchi em uma publicação na rede social X.
Em passagem pelos Emirados Árabes Unidos, no último trecho de sua viagem oficial ao Oriente Médio, o presidente americano afirmou que as autoridades iranianas já tinham em mãos uma proposta, após quatro reuniões entre delegações diplomáticas dos dois países, mediadas por Omã.
— Eles têm uma proposta. Sabem que devem agir rapidamente ou algo ruim vai acontecer — advertiu Trump antes de deixar Abu Dhabi.
O site americano de notícias Axios informou na quinta-feira que a administração Trump entregou à parte iraniana uma “proposta escrita” para um acordo nuclear durante a última reunião, realizada em Mascate. Um atraso na comunicação (ou no reconhecimento de Teerã sobre ter em mãos os termos) não seria inédito, uma vez que quando houve a reabertura das negociações nucleares, Trump afirmou ter enviado uma carta à autoridade iraniana, que inicialmente negou tê-la recebido.
Os iranianos tiveram uma reunião nesta sexta-feira em Istambul com representantes de Alemanha, França e Reino Unido sobre o avançando das negociações com os EUA. O trio de potências europeias já tinha assinado em 2015, ao lado dos americanos, da China e da Rússia, um acordo com Teerã para limitar suas atividades nucleares em troca da flexibilização das sanções que sufocam a economia do país.
Contudo, durante o primeiro mandato de Trump, Washington abandonou unilateralmente o acordo e retomou as sanções ao Irã, que então parou de cumprir os compromissos assumidos a respeito do desenvolvimento nuclear.
Atualmente, Teerã enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67%, definido em 2015. Para construir uma arma nuclear, como os Estados Unidos e seus aliados suspeitam que o Irã pretenda fazer, é necessário alcançar 90%.
O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Kazem Gharibabadi, declarou que representantes de seu país conversaram com funcionários dos governos de Alemanha, França e Reino Unido em Istambul sobre os avanços nas negociações entre Teerã e Washington e sobre uma hipotética retirada das sanções.
“Se for necessário, voltaremos a nos encontrar para continuar as conversações”, disse Gharibabadi no X.
O diretor de política do Ministério de Relações Exteriores britânico, Christian Turner, indicou no X que as partes reafirmaram seu “compromisso com o diálogo, aplaudiram as conversas EUA/Irã em curso e (…) concordaram em se reunir novamente”.
‘Estratégia de confronto’
Em uma coluna publicada no domingo na revista francesa Le Point, Aragchi fez um alerta aos países europeus contra uma “estratégia de confronto”. No final de abril, o chanceler francês, Jean-Noël Barrot, afirmou que os três países não hesitariam em restabelecer sanções contra Teerã se a segurança europeia fosse ameaçada por seu programa nuclear.
Relegados ao segundo plano com as negociações diretas entre Estados Unidos e Irã, os países europeus ponderam se devem ativar um mecanismo do acordo de 2015 que permite a reimposição automática de sanções a Teerã.
Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, Trump retomou a política de “pressão máxima” sobre o Irã e exigiu que Teerã negocie um novo acordo, sob a ameaça de uma ação militar caso a via diplomática não prospere. Na terça-feira, em Riade, Trump afirmou que havia oferecido um “ramo de oliveira” aos líderes iranianos, mas destacou que se tratava de uma proposta que não duraria eternamente.
A República Islâmica afirma que seu programa nuclear tem exclusivamente fins civis, mas não quer renunciar ao enriquecimento de urânio e não deseja que as negociações se estendam a questões como seu programa de mísseis.
Em uma entrevista ao canal NBC News, um conselheiro do guia supremo Ali Khamenei, Ali Shamkhani, disse que o Irã se comprometerá a não fabricar armas nucleares, a descartar suas reservas de urânio altamente enriquecido, a enriquecer urânio apenas no nível necessário para uso civil e a permitir inspeções internacionais de suas instalações nucleares. Em troca, o país exige a retirada imediata de todas as sanções econômicas que sufocam a República Islâmica. (Com AFP)
Fonte: Exame