A ideia de nos tornarmos imunes a mosquitos através de um medicamento que faz nosso sangue ser venenoso para eles parece fantasiosa, como saída de uma história de ficção científica. Entretanto, isso não é assim tão impossível, e pode estar mais próximo do que imaginamos.
Pelo menos esse é o propósito de um novo estudo, que sugere que o medicamento conhecido como nitisinona pode fazer o sangue dos seres humanos tóxico para os mosquitos, que morrem poucas horas depois de se alimentarem.
A equipe responsável pela pesquisa acredita que essa pode ser uma solução futura para a malária, por exemplo. Durante o experimento, os mosquitos morreram após consumir amostras de pacientes, mesmo os que receberam doses baixas do fármaco.
Leia mais:
- Você é sempre o alvo dos mosquitos? Descubra por que eles te escolhem!
- É verdade que só tem mosquito em lugar quente?
- 10 plantas que afastam mosquito da dengue
Veja abaixo mais informações sobre o estudo, e também qual seria a relação do medicamento com a malária.

Medicamento que envenena o sangue? Saiba como
A nitisinona foi originalmente desenvolvida para ser um herbicida, e é usada para tratar alguns transtornos metabólicos raros, como a tirosinemia tipo I. O medicamento funciona inibindo uma enzima específica chamada HPPD, nos humanos e também nos mosquitos. Contudo, sem essa enzima, o inseto não é capaz de digerir sua refeição de sangue, morrendo logo após.
Um estudo publicado na revista Science Translational Medicine propõe que o uso de nitisinona possa afetar a cadeira reprodutiva dos mosquitos transmissores da malária. Mas, o remédio não impede a infecção por malária e nem trata a doença, apesar de ajudar a controlar surtos ao matar os insetos após eles picarem pessoas que tomaram o fármaco, evitando sua reprodução.
Quando usado em combinação com outras medidas, o medicamento poderia ser eficaz onde os parasitas desenvolveram resistência aos tratamentos comuns, por exemplo. No corpo humano, o remédio permanece eficaz por até 16 dias depois da dosagem inicial, então, durante esse período inteiro ele funcionaria como um tipo de veneno para os mosquitos.
Outro ponto positivo para a nitisinona é ser um medicamento aprovado para uso, e que já passou por testes de segurança. Então, seu hipotético uso contra doenças transmitidas por mosquitos exigiria menos aprovações e etapas regulatórias. Inclusive, o remédio é autorizado para recém-nascidos e crianças pequenas, além de não haver registros de efeitos adversos em gestantes.

Qual a relação com a malária?
A malária é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, que são transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. Entre os sintomas, os principais são a febre, calafrios, dor de cabeça e fadiga e, caso não seja tratada, a doença pode ser fatal.
Por sua gravidade, todos anos, mais de 600 mil pessoas morrem por conta da malária. Com status de ser uma das doenças tropicais mais conhecidas do mundo, é também um sério problema de saúde pública em diversas partes do planeta, principalmente na África Subsaariana, Ásia e América do Sul.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 95% das mortes causadas por malária em 2023 aconteceram na Região Africana, e 76% delas foram de crianças menores de 5 anos.
A principal forma de transmissão acontece pela picada da fêmea infectada com o parasita. Ao picar uma pessoa, o inseto injeta os seres microscópicos na corrente sanguínea, começando a infecção.
A malária também pode ser transmitida por transfusão de sangue contaminado, compartilhamento de seringas ou de mãe para filho durante a gravidez, embora essas formas sejam menos comuns. Existem medicamentos para tratar a doença, porém, nem sempre são suficientes, já que em algumas regiões o parasita desenvolveu resistência.
Como dito acima, o uso da nitisinona poderia ser útil para eliminar os mosquitos transmissores da malária após eles se alimentarem do sangue de quem tomou a medicação, entretanto, não faria efeito para tratar a doença. Apesar de mesmo assim ser uma boa forma de combater esse mal, existem alguns problemas com a ideia: e um deles tem a ver com o seu custo.
George Dimopoulos, biólogo molecular especializado em doenças transmitidas por mosquitos na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, disse à National Geographic: “qualquer coisa que se torne cara e custosa não vai funcionar, especialmente para um método de intervenção como esse, em que você não protege o indivíduo da malária, mas protege a população como um todo.”
E isso porque a raridade das doenças que a nitisinona trata significa que o medicamento ainda é muito para uma ampla implantação, ainda mais em países africanos com poucos recursos.
Futuramente, o remédio pode ser combinado com medicamentos antimaláricos, ou até mesmo aplicado em animais, funcionando como iscas para os mosquitos.
Outra possibilidade é usá-lo em néctar envenenado, uma forma de atrair mosquitos sem afetar outros polinizadores. Com isso, a nitisinona poderia agir sem a necessidade de ser administrada diretamente nos humanos. De qualquer jeito, por hora, essas seguem sendo apenas ideias.

O post Imunidade contra mosquitos? Este medicamento “envenena” o sangue humano apareceu primeiro em Olhar Digital.
Ir para o conteúdo original: https://olhardigital.com.br/2025/04/30/medicina-e-saude/imunidade-contra-mosquitos-este-medicamento-envenena-o-sangue-humano/