Uma briga internacional por propriedade intelectual de uma marca de frango frito acendeu um debate entre consumidores e reacendeu antigos ressentimentos coloniais.
No centro da disputa está uma marca com sabor de infância e um nome que virou símbolo de identidade nacional na Colômbia: Frisby.
A rede colombiana de fast food, fundada em 1977 em Pereira, opera hoje cerca de 280 unidades e faturou mais de 200 milhões de dólares em 2023 — valor que passa do 1 bilhão de reais.
Mas agora a empresa precisa lidar com um adversário inesperado: uma homônima espanhola, registrada como Frisby España SL, que passou a usar o nome na Europa.
O caso veio à tona depois que a companhia colombiana acusou publicamente a empresa espanhola de uso indevido da marca. Frisby registrou sua marca na União Europeia em 2005, mas alega que só recentemente descobriu o uso comercial na Espanha. Do outro lado, a empresa espanhola sustenta que os colombianos perderam os direitos por não terem explorado o nome no mercado europeu. A União Europeia, no entanto, já decidiu a favor da Frisby Colômbia.
“Não é só uma marca. É parte da nossa cultura“, afirma um porta-voz da empresa, que viu a mobilização espontânea nas redes transformar o caso em uma espécie de cruzada nacional.
Nos bastidores, o time jurídico da Frisby trabalha para ampliar a proteção da marca em outros países. O objetivo agora é evitar novos episódios de apropriação e garantir a expansão internacional da empresa em segurança.
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Como a disputa virou uma batalha nacional
A reação na Colômbia foi imediata.
O ex-presidente Álvaro Uribe postou uma foto comendo na Frisby e declarou: “Na barriga, Frisby é o original”.
A Marinha colombiana também entrou na brincadeira: “Vocês são tão colombianos quanto o azul que protegemos”, dizia a legenda de uma imagem com um militar abraçando o mascote da marca — um frango dançante de boné vermelho.
A hashtag #FrisbyOriginal ganhou força, impulsionada por outras marcas locais como Alpina, Qbano e até a rival KFC Colômbia, que declararam apoio público à rede.
O meme mais compartilhado perguntava: “Primeiro o ouro, agora o frango?”.
O que está em jogo
Apesar do tom bem-humorado nas redes, o caso escancara um desafio real: como marcas fortes em mercados locais podem se proteger em escala global.
A situação da Frisby serve como alerta para empresas latino-americanas que planejam expandir suas operações para fora do continente.
A disputa é especialmente relevante na Espanha, terceiro país com maior população colombiana no mundo — mais de 578.000 residentes, segundo dados oficiais.
Um mercado com laços culturais e econômicos que facilita a exportação de marcas, mas também aumenta os riscos de conflitos como este.
A força de uma marca com identidade
Para a Frisby, a disputa virou uma campanha espontânea de branding. O mascote virou símbolo de resistência. “Vocês iriam à guerra com a Espanha pelo frango Frisby? Eu iria sem pensar”, escreveu um usuário.
O episódio mostra o poder emocional das marcas locais e como elas ultrapassam a lógica de consumo para se tornarem parte da cultura. Agora, a Frisby busca transformar a polêmica em vantagem, ampliando sua visibilidade e reforçando sua identidade diante do mundo.
Fonte: Exame