Se alguém quer entender os impactos das disputas comerciais, avaliar o balanço da Gerdau (GGBR4) é bom caminho.
A siderúrgica brasileira vem há meses lamentando o crescimento das importações do aço asiático no Brasil. Mas, com operações nos Estados Unidos, viu com bons olhos as tarifas anunciadas pelo governo de Donald Trump.
O efeito do anúncio das tarifas por Trump já se faz sentir. A companhia viu uma antecipação da demanda de alguns clientes nas suas operações nos Estados Unidos.
A venda na unidade da América do Norte, que inclui as plantas americanas e mexicanas, cresceu 8% no primeiro trimestre.
Mas isso não quer dizer que não faltem incertezas. A companhia vem acompanhando com atenção as volatilidades causadas pelo cabo de guerra comercial, afirmaram o CEO, Gustavo Werneck, e o CFO, Rafael Japur, em entrevista coletiva após a divulgação de resultados no primeiro trimestre.
Se, por um lado, clientes americanos se anteciparam e resolveram proteger estoques, por outro há também um receio de desaceleração em alguns setores. “Nosso posicionamento hoje nos EUA é muito para atender grandes obras de infraestrutura. Isso nos leva a crer que a recessão nos pega menos, já que as grandes obras continuam”, diz Werneck.
Ainda assim, a visão turva de mercados deixada pelo anúncio de tarifas levou a Gerdau a cancelar o investimento em uma nova planta que faria no México. A unidade, que seria de aços planos e bastante focada em atender o setor automotivo, teria capacidade de produzir 500 toneladas ao ano, ao que analistas de mercado atribuiam um valor de US$ 600 milhões em investimento.
“O tema da tarifa vai trazer uma transformação mais profunda para o setor automotivo. Vai haver uma reconfiguração dessas cadeias, e nossa decisão passa muito por isso, pela incerteza de como vai se reconfigurar”, disse Werneck.
A companhia já opera três plantas no México para outros produtos, como vergalhão, por exemplo.
Enquanto isso, no Brasil…
A disputa comercial também afeta o cenário para a companhia no Brasil.
Por ora, a Gerdau manteve a previsão de R$ 6 bilhões em investimentos em 2025, mesmo patamar de 2024. Capitalizada, essa seria a tendência de investimento anual da Gerdau, segundo os executivos.
Mas a disputa do mercado brasileiro com o aço importado pode levar a companhia a revisar seus planos mais à frente.
“Estamos analisando com muito detalhe a possibilidade de reduzir o capex. No Brasil, a lentidão nos mecanismos de defesa comercial aumenta a nossa preocupação, e há uma forte possibilidade de reduzir investimentos”, afirma Werneck. A decisão valeria apenas para os próximos anos e os investimentos programados para 2025 não sofreriam alteração.
Uma das alternativas estudadas, segundo Japur, é usar parte dos recursos para a recompra de ações da companhia. A companhia está com programa aberto de recompra de ações. Até 11 de abril, recomprou 44% do planejado.
O aço importado, em especial ocChinês, segue sendo a pedra no sapato da empresa, cujas operações brasileiras ficaram mais pressionadas de janeiro a março. As vendas no mercado interno caíram 4,6%. No primeiro trimestre de 2025, a participação do aço importado no mercado nacional chegou a 22%.
Em maio, a política de cota-tarifa de 25% para alguns produtos do setor siderúrgico se encerra e a expectativa da companhia é de que seja revista.
“Se for isonômico, todo aço que entra no Brasil deveria pagar taxa para competir de igual para igual. A tarifa atual de 25% não traz competitividade, e a China paga essa taxa para continuar produzindo”, diz Werneck.
A política de cotas, na visão da Gerdau, se mostrou ineficiente, já que, segundo o CEO, “não há limite de volume que entra no Brasil sem pagar taxa”.
Os resultados do primeiro trimestre de 2025 da Gerdau mostraram crescimento na receita líquida, que alcançou R$ 17,4 bilhões, uma alta de 7,2% em relação ao mesmo período de 2024.
No entanto, o lucro líquido ajustado da companhia caiu 39,1%, somando R$ 758 milhões. O EBITDA ajustado ficou em R$ 2,4 bilhões, 14,6% inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2024.
Às 12h20, as ações da Gerdau caíam 0,71%, para R$ 15,44. No ano, o papel recua quase 14%.
Ir para o conteúdo original: https://exame.com/insight/gerdau-desiste-de-planta-no-mexico-e-ve-eua-mais-aquecido-mas-ainda-sofre-com-brasil/p/