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Gente & Gestão: você viveria duas vidas para ser mais produtivo?

Não quero dar Spoiler, mas preciso escrever sobre essa magnífica série Severance ou Ruptura. A produção parte de uma premissa instigante: o que aconteceria se fosse possível separar, de forma absoluta, vida pessoal e profissional?

Na trama, os funcionários da empresa Lumon passam por um procedimento cirúrgico no qual é implantado um chip em seus cérebros. O objetivo? Dividir suas memórias em duas: uma dedicada exclusivamente ao trabalho e outra à vida fora dele. As versões “trabalhadoras” não têm consciência do que acontece fora do escritório, e suas versões “pessoais” desconhecem completamente o que fazem durante o expediente.

A pergunta que fica é: se algo assim fosse possível, as empresas teriam mais ganhos ou mais prejuízos? Discutir essa dualidade dá muito pano pra manga e como quase tudo na vida, há pontos positivos e negativos. Mas a grande riqueza da série vai muito além da sua premissa central. Severance entrega uma crítica profunda, simbólica e por vezes desconcertante sobre o ambiente corporativo moderno.

É impossível não se impressionar com os detalhes, os ambientes friamente calculados, os discursos padronizados, os rituais quase mecânicos… São elementos que, na série, nos assustam pelo exagero, mas que infelizmente reconhecemos no mundo real. A sala dos “Ex-CEOs”, com bonecos de cera colocados em pedestais, seria cômica se não fosse trágica. Representando o culto ao cargo e à figura do líder como entidade acima da média, ainda muito presente em muitas organizações.

Os perfis dos personagens também merecem destaque 

Há aquele que só pensa em entregar resultados, sem questionar o impacto do que faz. Outro, alheio, parece não se importar com nada, muito menos do porquê estão fazendo aquilo. Um terceiro ridiculariza os rituais da empresa, enquanto outro defende com unhas e dentes o legado da organização. Cada um deles simboliza comportamentos corporativos que, quando não questionados, contribuem para a construção de culturas tóxicas ou ineficazes.

Uma das mensagens mais potentes da série é a crítica à gestão baseada em comando e controle. Em Ruptura, a ausência de comunicação entre os “eus” pessoais e profissionais resulta em decisões desarticuladas, atitudes mecânicas e falta de senso crítico. A autonomia é nula; o pertencimento, inexistente. E o alto escalão, que orquestra todo esse sistema, sem o chip implantado. Ou seja, são líderes que vivem vidas “normais” e inteiras, enquanto submetem os demais à fragmentação.

Estou correndo para terminar os episódios finais, mas essa reflexão já está amadurecendo em mim. Porque pensar em viver duas vidas completamente separadas me soa caótico. Eu amo o que faço. Amo minha vida fora do trabalho. E, honestamente, essas duas dimensões se complementam e compõem aquilo que eu chamo de felicidade.

Eu adoraria ver uma série com o nome de Union, ou Interligados

Gostaria de ver retratadas pessoas apaixonadas pelo trabalho, não sob o estereótipo do workaholic, como em Suits ou Succession, mas profissionais que vivem uma conexão genuína entre propósito, carreira e vida pessoal. Aquele empreendedor ou executivo que ama acordar cedo e brincar com os filhos, mas também se entusiasma ao pensar em uma nova ideia para sua empresa. Que participa de uma reunião no sábado porque aquilo realmente importa, mas que depois se desconecta para almoçar com os pais ou curtir um fim de tarde com quem ama.

E mais do que isso: queria ver empresas que reconhecem e valorizam essa integração. Que não enxergam a vida pessoal como um obstáculo à performance, mas como parte essencial do equilíbrio e da motivação dos seus talentos. Empresas que criam políticas flexíveis, que respeitam o tempo das pessoas, que promovem saúde mental de verdade e que estimulam seus colaboradores a se desenvolverem como seres humanos — e não apenas como profissionais.

Mostrar que esse ser humano existe nos ajudaria, talvez, a desenvolver lideranças mais conscientes, humanas e prósperas. Não apenas para nossas empresas, mas para o futuro das próximas gerações.

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