Um artigo publicado nesta quinta-feira (8) na revista Science reclassificou um fóssil de 500 milhões de anos encontrado no sul da China. Ele havia sido interpretado como um dos primeiros moluscos, mas os autores da nova pesquisa descobriram que se trata, na verdade, de um parente distante das enigmáticas criaturas chamadas chancelerídeos, parecidas com esponjas cobertas de espinhos.
O fóssil foi batizado de Shishania aculeata e vem da região de Yunnan, famosa pela excelente preservação de fósseis antigos. Por muito tempo, pensou-se que esse animal fosse um ancestral de caracóis e lesmas, por apresentar um corpo mole com espinhos e algo que parecia um “pé” muscular – algo típico de moluscos.
Em poucas palavras:
- Fóssil chinês foi reclassificado como parente dos chancelerídeos;
- Antes, os cientistas pensavam que era um ancestral dos moluscos;
- Isso porque a forma do fóssil foi distorcida pela fossilização;
- A descoberta indica que espinhos complexos surgiram do zero, revelando inovações corporais nos primeiros seres vivos;
- Estudo mostra como os fósseis podem enganar os cientistas.
No entanto, novas análises feitas por pesquisadores das universidades de Durham (Reino Unido) e Yunnan (China) mostram que essa interpretação estava errada. Usando fósseis mais bem preservados e técnicas modernas de imagem, os cientistas descobriram que muitas das características pareciam enganosas, causadas pela forma como os fósseis foram deformados ao longo do tempo.

“Pé” do fóssil foi modificado por compressão da rocha
Um exemplo claro é o tal “pé” do animal, que não passa de uma ilusão provocada pela compressão das camadas de rocha durante milhões de anos. Os pesquisadores chamam isso de “ilusão tafonômica” – distorções que ocorrem no processo de fossilização e que confundem os cientistas.
O paleontólogo Martin Smith, da Universidade de Durham, explicou em um comunicado que os fósseis eram como mestres do disfarce. À primeira vista, pareciam exatamente o que ele esperava encontrar em um ancestral dos moluscos. Mas, ao comparar com fósseis semelhantes, percebeu que havia sido enganado pela aparência.
Ao serem comparados com fósseis de chancelerídeos encontrados anteriormente na mesma formação rochosa, os cientistas notaram semelhanças marcantes. Esses animais viviam presos ao fundo do mar e tinham o corpo coberto por espinhos, mas sua verdadeira origem ainda é um mistério na biologia.

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Descoberta serve de alerta
A descoberta é importante porque sugere que os espinhos complexos desses animais não evoluíram a partir de estruturas já existentes, mas sim do zero. Isso revela mais sobre como os primeiros seres vivos começaram a desenvolver corpos com partes especializadas.
Esse processo de mudanças rápidas e grandes inovações no corpo dos animais é conhecido como “explosão cambriana” – um momento decisivo na história da vida, quando surgiram os principais grupos de animais que conhecemos hoje.
O estudo também serve de alerta para outros casos: nem sempre um fóssil mostra exatamente como o animal era em vida. A fossilização pode enganar, criando padrões ou estruturas que nunca existiram no corpo original.
Além de corrigir a história de um fóssil, a pesquisa também ajuda a entender melhor os chancelerídeos e como os cientistas devem interpretar fósseis antigos. A colaboração entre pesquisadores de diferentes países continua sendo essencial para desvendar os segredos do passado.
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Fonte: Olhar Digital