A ex-deputada estadual Célia Leão, que atualmente é secretária de Desenvolvimento Social e Habitação de Valinhos, interior de São Paulo, foi retirada de um voo da companhia aérea Gol na quinta-feira (1º). O motivo alegado pela empresa foi o uso de uma almofada ortopédica, considerada pela tripulação como “não autorizada para utilização a bordo, podendo representar risco à segurança da passageira”. Célia Leão, que é cadeirante há 50 anos, descreveu o incidente como “uma barbaridade”.
O caso ocorreu no voo G3 7665, que partiria do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) com destino a Buenos Aires, na Argentina. Segundo Célia, o uso da almofada é essencial para que ela não sinta dor ao sentar, devido à falta de musculatura na região das nádegas.
Em seu relato, Célia Leão criticou a postura da tripulação e do comandante da aeronave. Ela afirmou ter tentado explicar a necessidade da almofada, mas seus argumentos “eram argumentos verdadeiros, serviu para ela ter sensibilidade de achar uma alternativa”. Ela relatou que a comissária fez “quase que um escândalo” ao vê-la colocar a almofada, mesmo após sua explicação de que “essa almofada é o meu bumbum. Eu não posso sentar num lugar duro”.
A ex-deputada também criticou a falta de comunicação direta com o comandante. Ela alegou que tentou explicar a situação a ele, mas ele se negou a falar com ela pessoalmente. Célia Leão considerou a atitude “inaceitável”, pois, em sua visão, o comandante tem a obrigação de atender um passageiro. Ela comparou a situação à necessidade de um pai ou idoso ser atendido pelo comandante. Para ela, o comandante não deveria “fechar na sua cabine e mandando recado por uma comissária de bordo que tinha já me questionado”.
Sem problemas anteriormente
Célia Leão destacou que viajou para Buenos Aires com a mesma almofada dias antes em um voo da própria Gol sem qualquer problema. Ela afirmou que, nos 40 anos em que viaja pelo Brasil e exterior com diversas empresas aéreas, incluindo a Gol, nunca lhe foi solicitado um atestado médico ou relatório.
No primeiro momento, a Gol, em nota, alegou a ausência prévia de um formulário MEDIF para justificar a negativa inicial de embarque. No entanto, Célia Leão acusa a empresa de “problematizando uma almofada” como se fosse um risco à segurança. Ela ressaltou que a almofada é de uma marca respeitada e que a Gol agiu de “forma conveniente” ao ignorar que a levou para a Argentina sem problemas.
Célia Leão classificou o episódio como algo “inusitado na minha vida e acho que na vida da aviação”. Ela ressaltou a importância de “não podemos nos calar” e agradeceu à mídia por levar a história adiante. Para ela, “quando um direito não é respeitado para uma pessoa, ele também não é respeitado para toda a sociedade”. Ela concluiu que a situação foi criada por pessoas que “ignoram a legislação, ignoraram a sensibilidade, ignoraram o respeito”.
Resultados
A situação resultou em um atraso no voo, com todos os passageiros tendo que desembarcar da aeronave por ordem da empresa. Célia Leão se sentiu “constrangida, me senti mal atendida” e incomodada pelo atraso de 40 minutos causado aos outros passageiros.
Após o desembarque forçado, a ex-deputada relatou que ela precisou sair da poltrona, ir para a cadeira de rodas, remover a almofada, e suas malas foram retiradas do avião. Sua filha, que viajaria no mesmo voo a trabalho, seguiu viagem, mas a mala dela também foi removida com as de Célia, e a Gol “se negaram também” a devolvê-la imediatamente. Célia Leão reiterou que “foi tudo errado, tudo errado”.
A companhia lamentou os transtornos e afirmou ter prestado assistência. A empresa informou que, após nova avaliação do caso com o envio do MEDIF e liberação médica, o embarque de Célia Leão foi autorizado para o dia seguinte “com todas as condições seguras e adequadas”.
A ex-deputada disse que a Gol “nem sequer pediu desculpas”, mas que, a essa altura, já não as quer mais, pois o tempo para isso já passou, dado que o incidente começou no dia 1º e ela passou o dia todo no aeroporto e parte do dia 2. Ela considerou a nota da Gol “maliciosa” e que a empresa “não foram dignos de assumir o erro”.
Após o incidente, Célia Leão entrou com um pedido de tutela de urgência no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) no sábado (3). Eles solicitavam que a Gol fosse obrigada a realocá-los sem custo no próximo voo para São Paulo, garantindo acessibilidade, conforto e segurança, além do custeio de estadia e alimentação. No entanto, a Justiça negou o pedido, com o juiz ressaltando que a solicitação não se enquadrava nas hipóteses previstas para o plantão judiciário e que a decisão anterior deveria ser objeto de recurso, não reexame no plantão.
Este conteúdo foi originalmente publicado em “Foi uma barbaridade”, diz ex-deputada retirada de voo por uso de almofada no site CNN Brasil.
Fonte: CNN Brasil