O sentimento de luto começou a se transformar em revolta após uma explosão no porto de Shahid Rajaee, principal porta comercial do Irã, matar 40 pessoas e deixar cerca de 1.100 feridos no sábado. Autoridades iranianas atualizaram o número de mortos neste domingo, em um momento em que fontes citadas na imprensa internacional apontam que a tragédia pode ter relação com um erro no armazenamento e manuseio de uma carga de produtos químicos destinada ao programa de mísseis da nação persa.
As autoridades iranianas anunciaram o novo balanço sobre o número de mortos na tarde deste domingo. Cerca de mil pessoas seguem feridas em decorrência da explosão e do incêndio que se seguiu, que afetou a área adjacente ao porto e cujo impacto foi sentido a até 50 km de distância. O Ministério da Saúde do Irã, citando poluentes tóxicos transportados pelo ar, declarou estado de emergência e instruiu as pessoas a ficarem em casa. O presidente iraniano, Masud Pezeshkian, disse que a causa da explosão ainda não foi identificada e ordenou uma investigação — mas informações iniciais começaram a repercutir internamente.
Uma fonte ligada à Guarda Revolucionária do Irã, ouvida em anonimato pelo jornal americano New York Times, afirmou que a explosão foi provocada por um carregamento de perclorato de sódio, um ingrediente importante na fabricação de combustível sólido para mísseis e foguetes. A informação é similar à conclusão de uma análise da Ambrey Intelligence, uma consultoria privada de risco marítimo, que avaliou que os incêndios intensos que se espalharam entre os contêineres antes da explosão eram resultado do “manuseio inadequado de uma remessa de combustível sólido destinado ao uso em mísseis balísticos”.
A consultoria, citada pela rede britânica BBC, afirmou ainda ter conhecimento de que um navio de bandeira iraniana teria descaregado “um carregamento de combustível de foguete de perclorato de sódio no porto em março de 2025”.
A cúpula do regime iraniano tenta abafar qualquer relação entre a tragédia e seus programas militares. Em um comunicado na TV estatal, o serviço de alfândega iraniano disse que a explosão provavelmente foi causada por um incêndio em uma “unidade de armazenamento de produtos químicos”, mas não fez nenhuma referência a fins militares.
O porta-voz do Ministério da Defesa, Reza Talaei-Nik, fez uma declaração também na TV estatal de que “não havia e não há atualmente nenhum carregamento (…) de combustível militar ou de nível militar” na área do acidente.
O posicionamento oficial não convenceu alguns iranianos. As informações das fontes citadas pelas fontes internacionais repercutiram nas redes sociais do país, e questionamentos sobre o suposto carregamento de combustível sólido ganharam projeção. Muitos culparam as autoridades por incompetência.
Em meio à pressão popular que se inicia, o governo tenta determinar a extensão dos danos ao crucial porto, próximo à cidade de Bandar Abbas e da margem norte do estreito de Ormuz, por onde passa um quinto da produção mundial de petróleo.
A embaixada russa em Teerã informou que Moscou enviou vários aviões com equipes de resgate ao país para ajudar em terra, enquanto imagens ao vivo mostraram neste domingo uma fumaça preta e espessa ainda visível no local.
O maior porto comercial do Irã tem um grande número de armazéns espalhados por 2.400 hectares, o equivalente a cerca de 3.400 campos de futebol. A Companhia Nacional Iraniana de Distribuição de Produtos Petrolíferos (NIPD) disse em um comunicado divulgado pela imprensa local que a explosão “não tem conexão com refinarias, tanques de combustível, complexos de distribuição ou oleodutos”.
A empresa declarou que “as instalações petrolíferas em Bandar Abbas operam normalmente”.
A explosão ocorreu no momento em que as negociações nucleares entre o Irã e os Estados Unidos, inimigos há quatro décadas, aconteciam em Omã. Israel, que suspeita que o Irã esteja buscando armas nucleares, vem travando uma guerra oculta contra seu inimigo declarado, Teerã, há anos para conter sua influência regional.
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