Na Embraer, as tarifas de importação de Donald Trump viraram um bode na sala. No primeiro trimestre, os impactos ainda não foram sentidos, mas a perspectiva de impacto à frente acendeu o sinal de alerta no mercado – ao que a empresa buscou responder alertando que o impacto deve ser “limitado”.
Em teleconferência com analistas, o CFO da Embraer, Antonio Garcia, comentou sobre os cálculos iniciais para o impacto das tarifas, que devem afetar a margem de lucro operacional (EBIT) em cerca de 0,9 ponto percentual.
“Esperamos um impacto limitado e por isso reiteramos nosso guidance para 2025”, afirmou.
Pouco depois, as ações da companhia, que abriram em alta, passaram a cair. Perto das 12h, as ações recuavam 1,33%.
Embora o impacto das tarifas de 10% sobre os aviões brasileiros ainda seja incerto, a empresa manteve suas projeções para o ano, confiando na capacidade de mitigar os possíveis efeitos econômicos.
O maior impacto deve ficar para a aviação executiva e os serviços de suporte, que têm grande parte do seu mercado nos Estados Unidos.
No entanto, a companhia mantém parte das plantas de montagem das aeronaves nos Estados Unidos. Além disso, a importação de componentes dos Estados Unidos também pode reduzir a tributação final, ficando num patamar da ordem de 6%, calcula o CFO.
A fabricante de aeronaves brasileira reportou uma receita de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre, marcando um aumento de 44% em relação ao mesmo período do ano anterior e o melhor primeiro trimestre em vendas desde 2016 – o que deu injeção de confiança da companhia para manter as projeções para o ano de 2025.
Por isso, apesar das pressões externas, a Embraer continua com uma visão otimista para o ano, visão compartilhada pelos principais bancos de investimentos, que classificaram os resultados dos primeiros três meses como fortes.
A empresa manteve a previsão de entregar entre 77 e 85 jatos comerciais e entre 145 e 155 jatos executivos. A projeção já havia sido desenhada para um cenário mais conservador, já que a companhia já esperava um ambiente econômico desafiador devido à inflação e à volatilidade do mercado. Ainda assim, a direção da companhia não descarta revisar seus números caso o impacto das tarifas seja mais significativo.
“Ainda é cedo para saber todos os efeitos [das tarifas]. Se encontrarmos algo diferente no segundo ou terceiro trimestres, vamos revisar as previsões”, disse o CEO Francisco Gomes.
“Apesar da sazonalidade típica do 1º trimestre e das entregas mais fracas, a Embraer entregou resultados sólidos, especialmente em termos de margens”, escreveram os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame).
A empresa também aprovou o pagamento de R$ 51 milhões em dividendos, a primeira distribuição de proventos em bastante tempo.
A Embraer apresentou margem EBITDA ajustada de 9,7%, a maior dos últimos cinco anos, refletindo uma boa gestão de custos.
O lucro líquido contábil atribuído a controladores foi de US$ 73 milhões (R$ 434 milhões), ajudado por efeitos de créditos tributários. Se considerados também ajustes cambiais e o desempenho da Eve, sua empresa de eVTOLs que ainda é deficitária, a última linha foi de prejuízo líquido de US$ 74 milhões (R$ 429 milhões).
Para o Citi, embora a empresa tenha registrado um prejuízo ajustado pior do que o esperado pelo consenso, a Embraer demonstrou um desempenho operacional sólido, com receita e EBITDA subindo
“A expansão da margem ajudou a suportar um EBITDA de US$ 108,6 milhões”, apontou o analista do Citi, destacando que todos os segmentos da Embraer, exceto serviços, registraram melhorias nas margens.
A manutenção do guidance para 2025 também trouxe análise. “Isso demonstra confiança na mitigação dos riscos fiscais e operacionais”, escreveram os analistas do Citi, elogiando o desempenho da fabricante nas áreas de aviação executiva e defesa, segmentos que continuam a crescer com ritmo acelerado.
No entanto, o crescimento acelerado de pedidos pressionou o fluxo de de caixa livre (FCF) da Embraer no primeiro trimestre. O FCF foi negativo em US$ 386 milhões. Essa queima de caixa, atribuída principalmente à preparação para maiores entregas de aeronaves nos próximos trimestres, causou um aumento no endividamento da companhia.
A relação entre dívida líquida e EBITDA subiu para 0,5x, comparado a 0,1x no trimestre anterior. A Embraer, porém, mantém uma previsão de fluxo de caixa livre ajustado superior a US$ 200 milhões para 2025, confiando em sua capacidade de gerar caixa a partir de sua sólida carteira de pedidos e entregas planejadas.
A Embraer encerrou o trimestre com um backlog recorde de US$ 26,4 bilhões, garantindo uma base forte para os próximos anos. Para 2025, a empresa projeta uma receita total entre US$ 7,0 bilhões e US$ 7,5 bilhões.
Fonte: Exame