As primeiras horas da manhã desta terça-feira, 22, são de clima tenso, protesto e gritaria na Favela do Moinho, uma das últimas do Centro de São Paulo. O governo estadual planeja fazer hoje a mudança das primeiras 11 famílias que já aceitaram sair da comunidade, mas moradores organizaram um ato na entrada da favela e reclamam da forte presença policial na área.
Segundo a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), para hoje estão previstas a mudança de 11 famílias e, ao longo da semana, outras devem sair também. A companhia explicou que caminhões irão entrar na favela apenas para retirar bens pessoais e levar as pessoas até onde elas vão morar temporariamente até que suas novas residências fiquem prontas.
Do outro lado, um grande grupo de pessoas que vivem na comunidade afirma que o governo na verdade quer demolir casas e temem a entrada de PMs nesta ação. Lideranças da comunidade e advogados do Escritório Modelo da PUC tentam negociar uma saída pacífica. Pela manhã, a opção que está sendo discutida é que a mudança das 11 famílias seja efetivada, com a garantia de que a polícia não entrará na comunidade, apenas a CDHU.
Quem chegou primeiro ao local, no entanto, não foram os agentes da companhia de habitação, e sim os policiais. Desde às 5h da manhã, a Rua Doutor Elias Chave e um trecho da Rua dos Guaianazes foram bloqueados pela PM e por agentes da CET.
Quando os técnicos da CDHU chegaram, por volta das 7h30, o clima era de hostilidade: eles foram cercados por moradores reclamando da presença policial e da falta de negociação com os moradores.
O governo Tarcísio de Freitas pretende desapropriar a favela do Moinho, que existe há mais de 30 anos, para construir no local um parque e uma estação de trem. Para isso, deu duas opções para os moradores, sendo uma delas a carta de crédito, que varia entre R$ 200 mil e R$ 250 mil, a depender do bairro onde fica o imóvel pretendido. A outra alternativa é a transferência para imóveis construídos pelo governo ou em parcerias público-privadas. Ainda não há data para a entrega dessas unidades. Enquanto esperam, os moradores removidos receberão um auxílio-aluguel de R$ 800, valor dividido pelo estado com a prefeitura.
Uma agente social da CDHU foi cercada por um grupo que gritava “fora, fora”, enquanto ela tentava argumentar que a polícia não estava ali por ordem da companhia.
— Gente, a polícia não tem nada a ver com a CDHU. Nós estamos negociando com vocês há meses, hoje só vão sair as famílias que estavam agendadas, se alguém não quiser sair tudo bem — disse a agente tentando acalmar os ânimos, inclusive sugerindo que a polícia saísse do local.
Segundo a CDHU, o plano de reassentamento “foi construído com base no diálogo contínuo” com reuniões na comunidade. O governo alega que 87% das famílias já aceitaram algumas das alternativas de saída oferecidas, mas o cálculo é questionado por pessoas da comunidade.
Incursões diárias da PM
s moradores têm reclamado da presença quase diária da Polícia Militar na favela e nos arredores. Na sexta, agentes da segurança foram até o local pela manhã e circularam pelas ruas da comunidade. A tarde, houve uma operação no local com cerca de 40 policiais para fazer uma prisão. As ruas ao redor estão com bloqueios há dias.
O comerciante Edenildo Valentino, que tem um mercadinho dentro da comunidade, diz que desde quinta-feira não consegue passar de carro na Rua Doutor Elias Chave, que dá acesso à favela. Sem poder reabastecer seu estoque, conta, o comércio está fechado.
— Chega a ser quase terrorismo o que estão fazendo aqui. Na semana passada, a policia entrou na favela, mandou todo mundo entrar em casa, meu carro foi quebrado, deram dois socos no retrovisor do meu carro. Tem que ter mediação, conversa — falou.
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