A maioria das empresas brasileiras ainda pensa pouco fora das fronteiras. Menos de 1% exporta, e a presença de brasileiros no exterior é pequena.
Nesse contexto, a WTM, empresa de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, encontrou um caminho pouco explorado: ajudar empresas de tecnologia a vender para fora e a comprar de fora sem complicação.
Criada em 2003, a WTM nasceu como consultoria em comércio exterior. Depois, virou uma desenvolvedora de software para o Siscoserv, programa do governo que obrigava empresas a registrarem transações internacionais de serviços.
Com o fim do Siscoserv, a WTM perdeu 4.300 clientes em um único dia — e 70% do faturamento. Quase quebrou. Foi esse baque que levou a empresa à sua fase atual: uma fintech de serviços para negócios internacionais.
A história da WTM está ganhando novo fôlego agora. A empresa projeta alcançar 100 milhões de reais de faturamento em 2025.
É um número expressivo para um negócio que, em 2021, ainda faturava apenas 1,2 milhão. O crescimento acelerado começou após a pandemia, quando o modelo de negócio foi completamente reestruturado.
“Nós criamos uma nova plataforma há oito meses. Trouxemos especialistas da Receita Federal e empacotamos tudo em um serviço completo. Hoje, cuidamos de todos os trâmites de quem importa ou exporta serviços”, afirma Lisandro Vieira, fundador e CEO da empresa. Gaúcho de São Borja, Vieira começou a carreira na área de softwares de comércio exterior.
Como funciona o negócio
A WTM oferece soluções completas para empresas que vendem ou compram serviços no exterior. Isso vai desde o fornecimento de um cartão internacional e conta bancária fora do Brasil até a emissão de nota fiscal no país de destino e a gestão da tributação na origem e no destino.
A empresa atua como uma espécie de “babá” para negócios que precisam operar no exterior: em vez de cada empresa enfrentar sozinha as dificuldades tributárias e operacionais, a WTM centraliza e resolve o problema.
Seu modelo de receita mistura spread cambial, comissões de bancos parceiros e, em alguns casos, uma taxa de até 5% — ainda assim mais barata que concorrentes, segundo o CEO.
“Além da economia financeira, o cliente economiza 98% de tempo. Troca 500 notas fiscais em dólar por um Pix em real e uma nota fiscal”, diz Vieira.
Uma fintech com ambição global
A internacionalização da WTM não é discurso. Ela já tem operações em oito países e mandou 74% dos seus cerca de 50 funcionários para missões internacionais.
“Como vou ter uma empresa global se minha equipe nunca saiu do país, não fala inglês e só lida com real?”, diz Vieira. Para mudar isso, ele paga viagens, hospedagem, alimentação e aulas de inglês no horário de expediente.
Além disso, Vieira atua como diretor do grupo internacional da Associação Catarinense de Tecnologia e criou uma spin-off, o International Tech Hub, para apoiar empresas brasileiras na entrada em mercados como Estados Árabes Unidos, Estados Unidos e Canadá.
Vender lá fora é mais difícil do que parece
Apesar do sucesso recente, a jornada teve momentos de crise. Quando o governo extinguiu o Siscoserv, a WTM quase fechou as portas.
A reinvenção veio com a decisão de ‘fintechizar’ o negócio. A primeira virada foi em 2021, com a criação de um serviço que cuidava da tributação para empresas que compravam SaaS (software as a service) ou serviços de computação na nuvem do exterior.
“Hoje, qualquer empresa que pague Zoom, Slack, ChatGPT, Salesforce em dólar é meu potencial cliente”, afirma Vieira.
Com essa visão, conquistou nomes como Hotmart, RD Station, Omie, Banco Inter, Arkvei e Brasil Paralelo. “No Brasil Paralelo, por exemplo, a gente paga todas as clouds deles. Eles mandam as invoices em dólar e recebem uma nota única em real.”
O diferencial da WTM
O que diferencia a WTM de outras plataformas ou grandes bancos é o serviço completo.
Além de intermediar o pagamento, a empresa cuida da tributação na origem e no destino e permite que a operação seja feita com moedas locais, sem que o cliente precise se preocupar com câmbio ou regulamentações.
A empresa também oferece plataformas distintas para quem importa ou exporta serviços e faz gestão dos tributos envolvidos, tanto para o comprador quanto para o vendedor.
“Nosso cliente paga em peso mexicano, por exemplo, e recebe aqui em reais, sem nem saber como isso aconteceu.”
Governança e cultura
A governança da WTM também reflete o propósito de internacionalização. A cultura organizacional é centrada em metas, performance e protagonismo.
Funcionários que se destacam têm prioridade nas missões para o exterior, com metas de negócios definidas para cada país.
Segundo Vieira, não há espaço para o modelo tradicional de emprego: “Eu demiti todos os funcionários antigos e os chamei para empreender comigo. Hoje, temos uma holding com cerca de 15 negócios.”
O futuro da WTM
O próximo passo é escalar um novo serviço batizado de “International Expansion as a Service”.
A ideia é identificar empresas com potencial de exportação e conduzi-las passo a passo no processo de entrada em mercados como os Emirados Árabes Unidos.
O primeiro caso é a IXC Soft, empresa de tecnologia para ISPs de Chapecó, no oeste de Santa Catarina, que está sendo assessorada pela WTM para vender em Dubai.
Lisandro vê esse movimento como parte do seu propósito maior: “Incentivar pessoas e empresas a se tornarem globais. Porque o Brasil ainda olha pouco para fora — e isso precisa mudar.”
O empresário vive hoje em Dubai e afirma que, apesar dos avanços, ainda falta mentalidade internacional para o Brasil competir no cenário global.
“Menos de 1% das empresas exportam. E o país importa o dobro do que exporta em serviços. Nosso trabalho é ajudar a virar esse jogo.”
Ir para o conteúdo original: https://exame.com/negocios/ele-fatura-r-100-milhoes-ao-transformar-o-caos-dos-impostos-num-simples-pix/