Todo dia 1 de maio o Brasil relembra a trajetória e a despedida de Ayrton Senna, ídolo da Fórmula 1 que ultrapassou as pistas e se tornou símbolo de superação. Um ano após sua partida, nascia o Instituto que leva seu nome, com o propósito de transformar a realidade de crianças e jovens por meio da educação pública de qualidade.
Neste ano, a organização celebra 30 anos de impacto social com uma nova campanha, assinada pela agência 35 e estrelada por Galvão Bueno. Com o mote “Na Corrida pelo Futuro, o Grande Prêmio do Brasil é a Educação”, o filme narra como, em vez de traçar uma pista de corrida, o movimento das curvas desenhadas por um lápis revela o nome de uma criança sendo alfabetizada.
“A metáfora visual resume a missão do Instituto, que já impactou mais de 39 milhões de estudantes em todo o país em mais de 3 mil cidades brasileiras”, afirma Ewerton Fulini, VP do Instituto Ayrton Senna.
À frente do Instituto desde 2022, Fulini também carrega uma trajetória de transformação. Estudante da escola pública e ex-executivo do setor privado, ele conta, em entrevista exclusiva à EXAME, como sua história se conecta com o trabalho social — e o que ainda falta para o Brasil cruzar a linha de chegada rumo a uma educação de qualidade para todos.
O que significa liderar uma organização com o legado de Ayrton Senna?
É viver a união perfeita entre propósito de vida e trajetória profissional. Ayrton nos deixou o exemplo da coragem de sonhar grande e da determinação de realizar. Poder contribuir para transformar vidas e o futuro do Brasil por meio da educação é uma missão que carrego com muito orgulho.
Quais foram os principais marcos dos 30 anos do Instituto?
A missão de transformar vidas pela educação vem sendo cumprida com consistência. Atuamos com foco em alfabetização, melhoria da aprendizagem e desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Participamos da criação do Ideb e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Em 30 anos, impactamos mais de 39 milhões de estudantes em todos os estados do Brasil. Cidades como Sobral (CE), Coruripe (AL) e Licínio de Almeida (BA) são exemplos concretos do que conseguimos transformar.
Há números que resumem esse impacto?
Sim. Chegamos a mais de 3 mil municípios, com mais de 750 mil formações de professores. Em Boca do Acre (AM), por exemplo, a nota do Ideb mais que dobrou nos Anos Finais do Ensino Fundamental em duas décadas. Esses resultados mostram o poder da educação quando há união entre Instituto, redes públicas e comunidade.
O que mudou na estratégia do Instituto ao longo dos anos?
No início, atuávamos com programas sociais pela arte e esporte. Depois, sob a liderança de Viviane Senna, passamos a criar soluções educacionais estruturadas para redes públicas. Trouxemos conceitos como escala, eficiência e ciência, rompendo com a lógica artesanal do terceiro setor. Isso nos tornou referência em inovação educacional.
Como o Instituto atua na formação de professores hoje?
O professor está no centro de tudo. Desenvolvemos programas com formação continuada e, recentemente, lançamos a Humane, nossa plataforma gratuita com cursos, diagnósticos e trilhas personalizadas. Também temos a plataforma Farol, que ajuda no acompanhamento de métricas e progresso dos estudantes.
E quanto ao apoio ao protagonismo juvenil?
Acreditamos no potencial transformador de cada estudante. Nossos projetos com jovens do Ensino Médio visam desenvolver suas competências socioemocionais, estimular o autoconhecimento e ajudá-los a traçar projetos de vida alinhados a um mundo mais justo.
Há alguma história de impacto que te marcou?
A do Marcos Ferrari. Ele era visto como aluno “problemático” até que uma professora formada por nosso programa o enxergou com outros olhos. Ela o incentivou, deu um livro como presente — e isso mudou tudo. Marcos se apaixonou pela leitura, virou líder estudantil e, hoje, é professor e coordenador pedagógico na rede pública. É uma das histórias que mostra como a educação transforma realidades.
Quais os principais desafios da educação brasileira hoje?
O acesso foi praticamente universalizado, mas a qualidade ainda é o grande gargalo. Temos altos índices de não alfabetização, defasagem escolar e evasão no Ensino Médio. Precisamos tornar a escola mais atrativa e relevante, além de preparar os jovens com as competências exigidas pelo século 21.
Como o Instituto contribuiu para a Base Nacional Comum Curricular e as competências socioemocionais?
Atuamos fortemente na formulação da BNCC, especialmente no eixo das habilidades socioemocionais. Hoje levamos às escolas metodologias baseadas em evidências científicas para desenvolver competências como criatividade, resiliência, empatia, foco e colaboração.
Como vocês avaliam o avanço das políticas públicas educacionais?
Houve avanços importantes, mas a execução ainda é instável e desigual. O Instituto defende uma educação pública baseada em gestão eficiente, decisões de longo prazo e uso de evidências. A colaboração entre governos, setor privado e terceiro setor é essencial.
Quais são os planos do Instituto para os próximos anos?
Seguiremos combatendo os desafios históricos — como alfabetização e evasão — ao mesmo tempo em que preparamos as novas gerações para o futuro. Em 2025, iniciamos um projeto de aceleração educacional em seis novas cidades, como Natal (RN), São Luís (MA) e Maceió (AL), com foco em recomposição da aprendizagem e gestão educacional.
Qual é o papel das parcerias com empresas e sociedade civil?
A educação deve ser vista como a base da agenda ESG. Parcerias com empresas, governos e a sociedade civil são fundamentais. Temos iniciativas como o cartão do Itaú, o McDia Feliz com a Arcos Dorados, além de parcerias com Lenovo, Ultracargo, entre outras. Juntas, essas alianças tornam viável a transformação.
Que conselho você daria para quem quer atuar com impacto social na educação?
Entre com propósito, permaneça com coragem. Impacto não é imediato, mas quando floresce, transforma tudo. É preciso unir paixão com técnica, emoção com estratégia. Trabalhar com educação é servir a um bem maior — e isso exige preparo e humildade.
Como Ayrton Senna veria o Brasil e o Instituto hoje?
Com o mesmo olhar determinado de sempre. Ele queria ver crianças com oportunidades reais — e é isso que fazemos todos os dias. Tenho certeza de que estaria profundamente orgulhoso. O legado dele vai além da velocidade: é sobre construir um Brasil com mais dignidade para todos.
*Evento especial em Interlagos
Nesta quinta-feira, 1 de maio, em homenagem a Ayrton Senna, o Autódromo de Interlagos recebe a 20ª edição do Ayrton Senna Racing Day, reunindo cerca de 11 mil participantes. O evento combina corrida de rua com experiências imersivas, homenagens e exposições inéditas sobre o tricampeão. Entre os destaques estão itens históricos da carreira de Senna e atividades para crianças com o Senninha. A corrida terá novo formato, com trajetos definidos por voltas no circuito. A iniciativa reforça o legado atemporal de Ayrton, que segue inspirando todas as gerações.
Vídeo da campanha “Na Corrida pelo Futuro, o Grande Prêmio do Brasil é a Educação”
Na Corrida pelo Futuro, o Grande Prêmio do Brasil é a Educação
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