A mudança de visão do Banco Central sobre o Drex, que passou de uma mera versão digital do real para uma nova infraestrutura do sistema financeiro brasileiro, envolveu um “ajuste de comunicação” para o mercado e sociedade, mas não uma “mudança de rota”. É o que avalia João Gianvecchio, gerente de Inovação e Estratégia do BV, em entrevista exclusiva à EXAME.
Responsável por liderar a área de ativos digitais no banco, o executivo destaca que “o mercado cripto, de tokenização, de blockchain como infraestrutura, amadureceu muito nos dois últimos anos, e não só com o Drex, com os testes todos que foram feitos”.
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Gianvecchio vê uma maturidade mais ampla do mercado cripto como um todo, “com grandes integrantes do mercado financeiro passando a oferecer cripto e as stablecoins cada vez mais em pautas e com volumetrias grandes”. Ele aponta essas criptomoedas pareadas a outros ativos como as “queridinhas do mercado” por serem uma alternativa ao meio tradicional de pagamentos transfronteiriços.
“O mercado vem amadurecendo bastante. O Banco Central segue colocando Drex e tokenização como prioridade e a gente teve dois anos bastante positivos, com o setor amadurecendo bastante rápido. Acredito que vai seguir nessa velocidade”, projeta.
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O movimento se refletiu no próprio BV, que hoje conta com um time “mais focado em olhar para toda a área de ativos digitais”. No caso do banco, cerca de 80% dos projetos da área envolvem a tokenização de ativos do mundo real, com foco em “trazer [a tecnologia blockchain] para as esteiras de negócio para deixar mais eficiente, operacionais e ter produtos melhores para os clientes”.
O futuro do Drex
Os planos mais imediatos do BV, segundo Gianvecchio, envolvem preparar a “infraestrutura de produtos do banco para quando o Drex estiver pronto”. Ele acredita que o projeto será essencial para efetivamente destravar o potencial da tokenização no Brasil, mas também será necessário ter avanços regulatórios.
“O que falta é uma combinação de regulação, já que a CVM ainda dá uma limitação de volumes para estruturação de tokenizar mercado de capitais, e o próprio Drex. Com ele, a gente consegue desenhar protocolos imaginando como vai ser, mas ainda depende de ter um trilho de liquidação, como o Pix, que deixa o operacional um pouco aquém do que poderia estar”, explica.
A expectativa do executivo é que o Drex vai trazer um “ganho operacional gigante”. Entretanto, ele não acredita que a espera está excessiva: “É um processo de amadurecimento e evolução super natural. Os reguladores, as instituições estão testando, montando pilotos. Se compara com outros momentos, a velocidade de amadurecimento da evolução tecnológica é muito mais rápida, muito maior”.
Gianvecchio acredita que o próprio mercado está “falando menos” do Drex devido ao foco atual na nova fase do piloto do projeto, com a necessidade de implementar casos de uso para a rede com soluções de privacidade. O resultado é uma “complexidade grande”, mas o executivo confia na meta do Banco Central de finalizar a etapa entre junho e julho.
“O Drex não parou. Ele tem tido mais testes e os times técnicos do BC seguem trabalhando. Não teve nenhuma saída, solavanco”, ressalta. Sobre o tema da privacidade, ele comenta que a questão “vem em uma evolução. Tem aparecido novas ferramentas, as que estavam estão evoluindo. Estamos exatamente nesse momento testando isso. A gente percebe que as coisas estão evoluindo, não estão deixando de lado”.
Mesmo com o otimismo, Gianvecchio não arrisca uma previsão de quando, exatamente, o projeto será lançado.
Benefícios para os clientes
O líder de ativos digitais do BV acredita que, pensando no cliente final, o Drex deve trazer diversas vantagens. O foco do banco está na área de negociação de automóveis, uma das principais frentes de negócio da instituição. Nessa área, Gianvecchio acredita que o projeto pode trazer mudanças relevantes.
“Primeiro, quando a pessoa vende hoje um veículo para um terceiro, tem um problema de não confiar na terceira parte, e o Drex resolve isso, já que tudo vai estar dentro de um contrato inteligente e, ao fazer a venda, uma parte pega o crédito e dispara em uma rede que está vendendo a posse, as coisas só acontecem quando o dinheiro chegar”, afirma.
O executivo vê ganhos em aspectos de segurança, como redução a fraudes, além da redução de riscos operacionais e de custos. “Ao ter menos custos, o cliente final provavelmente vai se beneficiar. E tem uma experiência muito mais digitalizada. Tem alguns pontos, como vistoria, que são mais difíceis de resolver, mas mesmo que não resolva 100%, resolve uma boa parte”, pontua.
“O cliente vai ter uma jornada muito mais simples e digitalizada, e possivelmente muito mais barata”, projeta.
Para o restante de 2025, a meta do BV é concluir a participação na nova fase do piloto do Drex, contribuir com a agenda de regulação do mercado cripto e “continuar olhando para as esteiras e tentar lançar alguns produtos tokenizados já nesse trilho”.
“O mercado deve seguir nesse trilho de amadurecimento e volumetria de negócios cada vez maior”, resume Gianvecchio. No caso das stablecoins, ele explica que o BV está explorando os ativos, com foco em operações de tesouraria, mas destaca que “não é pauta do BV ter stablecoin própria sem o Drex”.
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Fonte: Exame