É grande e é bonito, diz o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas, para muitos líderes democratas, o projeto que diminui impostos para empresários, amplia gastos e reduz a verba de programas sociais, aprovado pelos aliados republicanos de Trump no Congresso nesta quinta-feira, 3, representa a chave para o ressurgimento do Partido Democrata.
Mesmo antes da votação final, as autoridades democratas já finalizavam planos ambiciosos para comícios, campanhas de registro de eleitores, publicidades, excursões de ônibus e até uma vigília de vários dias, tudo com o objetivo de destacar os elementos mais controversos do projeto, apelidado por Trump de “Big Beautiful Bill”: cortes profundos na rede de proteção social do país que deixarão quase 12 milhões de pessoas a mais sem cobertura de saúde e milhões de outras sem assistência alimentar, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), órgão não partidário.
Em campos de batalha política no Alasca, em Iowa, na Pensilvânia e na Califórnia, os democratas começaram a usar o projeto de lei contra os republicanos. Eles prometem que a conquista da política doméstica do presidente republicano até o momento será a questão definidora de todas as eleições importantes até a metade do próximo outono.
“Uma coisa está bem clara: os republicanos são responsáveis por essa bagunça, e ela é um albatroz em volta do pescoço deles rumo às eleições de meio de mandato”, disse o presidente do Comitê Nacional Democrata, Ken Martin, à reportagem. “Essa é a legislação menos popular da história moderna e, quanto mais os eleitores tomam conhecimento dela, mais a odeiam. Essa é uma diretriz clara para os democratas: vamos nos certificar de que cada eleitor saiba quem é o responsável.”
“Longe de um bom ponto de partida”
No entanto, mesmo com a opinião pública inicial a seu favor, está longe de ser certo que a legislação será o vencedor político que os democratas esperam.
A marca democrata continua profundamente impopular, o partido não tem um líder claro, sua mensagem é confusa e os elementos centrais da base estão frustrados e à deriva. Algumas das disposições do projeto de lei não entrarão em vigor até depois da eleição de 2026, portanto, os eleitores podem não ter sentido todo o impacto até o momento da votação. Ao mesmo tempo, não está claro quantos eleitores estão prestando atenção ao debate em Washington.
O comitê de ação política dos democratas, Priorities USA, alertou esta semana que o partido precisa se esforçar mais para que sua mensagem seja transmitida.
“Não podemos simplesmente presumir que, por estarmos com raiva, os eleitores com os quais precisamos nos comunicar também estejam com raiva. Todos precisam se mobilizar e perceber o enorme desafio que temos pela frente”, disse a diretora executiva do Priorities USA, Danielle Butterfield. “Não estamos nem perto de um bom ponto de partida.”
O projeto de lei prevê US$ 4,5 trilhões em incentivos fiscais que foram promulgados no primeiro mandato de Trump e que teriam expirado se o Congresso não agisse. As novas isenções permitirão que os trabalhadores deduzam as gorjetas e o pagamento de horas extras. Há US$ 1,2 trilhão em cortes no Medicaid (programa de saúde social dos EUA) e nos vales-alimentação, além de um grande retrocesso nos investimentos em energia verde. O CBO estima que o pacote acrescentará US$ 3,3 trilhões ao déficit ao longo da década.
Desafio dos democratas
Alguns democratas admitem que os republicanos foram inteligentes ao aprovar o projeto de lei na véspera de um fim de semana de feriado, quando menos eleitores estariam prestando atenção.
Enquanto alguns democratas em Washington previam uma reação política negativa em todo o país, a resposta foi um pouco silenciosa na quinta-feira, 3, véspera do Dia da Independência dos EUA, em um evento democrata em Iowa, a apenas 16 quilômetros do State Fairgrounds, onde Trump mais tarde atraiu milhares de pessoas para um comício noturno.
Uma plateia de aproximadamente 100 pessoas ouviu as autoridades democratas locais se insurgirem contra a legislação e conclamarem os eleitores a destituir o deputado republicano Zach Nunn, congressista local, por apoiá-la.
Michael Rieck, de 69 anos, um dos espectadores, disse que os democratas de Iowa lhe enviaram uma mensagem sobre o comício, mas quando ele acessou a internet para saber mais, “não havia nada”.
“Mandei uma mensagem de volta para eles dizendo que não estava vendo nenhum anúncio”, contou. “Eles corrigiram isso lentamente. Ainda não estou impressionado com o que fizeram para anunciar esse evento.”
Rieck afirmou que deseja que os diferentes grupos do partido coordenem melhor sua mensagem.
Os ativistas progressistas estavam passando por Minnesota em um grande ônibus verde, como parte da turnê “Stop the billionaire giveaway” (Pare a doação bilionária) da Fair Share America, com 29 paradas. O grupo está focado em distritos congressionais liderados por republicanos, onde os parlamentares eleitos deixaram, em grande parte, de realizar reuniões presenciais com os eleitores.
“Sabemos que estamos lutando contra a correnteza”, disse a diretora executiva da Fair Share, Kristen Crowell. “Mas quando as pessoas ouvem exatamente o que está nesse projeto de lei, elas se opõem veementemente.”
Pesquisas
De modo geral, o projeto de lei é impopular, segundo pesquisas de opinião realizadas em junho, embora algumas disposições individuais sejam apoiadas.
Por exemplo, uma pesquisa do Washington Post/Ipsos constatou que a maioria dos americanos concorda com o aumento do crédito fiscal anual para crianças e a eliminação dos impostos sobre os ganhos com gorjetas, e cerca de metade apoia as exigências de trabalho para alguns adultos que recebem o Medicaid.
Por outro lado, a maioria se opõe à redução do financiamento federal para assistência alimentar a famílias de baixa renda e ao gasto de cerca de US$ 45 bilhões para construir e manter centros de detenção de imigrantes.
O preço pode ser um ponto de atrito: cerca de 6 em cada 10 americanos entrevistados na pesquisa disseram ser “inaceitável” que o projeto aumente a dívida nacional dos EUA — atualmente em US$ 36 trilhões — em cerca de US$ 3 trilhões na próxima década.
Mas as pesquisas indicam que a maioria dos cidadãos também não está prestando atenção às nuances do projeto. O levantamento do Washington Post/Ipsos constatou que apenas cerca de um terço dos adultos ouviram falar “muito” ou “bastante” sobre o megapacote fiscal.
Planos para o verão
O Comitê Nacional Democrata e seus aliados planejam um “verão de mobilização”, com assembleias públicas, treinamentos e ações de registro de eleitores em pelo menos 35 distritos congressionais considerados competitivos. A campanha terá como foco principal o projeto de lei de Trump.
A governadora do Kansas, Laura Kelly, que preside a Associação dos Governadores Democratas, afirmou que o partido precisa manter o conteúdo da proposta em evidência para garantir que o tema esteja presente nas eleições legislativas de meio de mandato e até na próxima eleição presidencial, em 2028. “Teremos que manter isso no radar”, disse ela.
Grupos progressistas também estão organizando um dia de ação “Families First” (Famílias em Primeiro Lugar), marcado para 26 de julho, com atividades em todos os 50 estados. A mobilização vai destacar o impacto dos novos cortes no Medicaid e incluirá uma vigília de 60 horas no Capitólio dos EUA.
“Fizemos uma promessa uns aos outros e às próximas gerações de que haveria uma rede de proteção quando precisássemos dela. E é isso que está sendo desmontado. E as pessoas não vão aceitar isso”, afirmou Ai-jen Poo, uma das organizadoras do Families First e presidente da Aliança Nacional de Trabalhadoras Domésticas.
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Fonte: InfoMoney