A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), corre risco de ser anulada após indícios de que ele mentiu durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9).
Segundo reportagem da revista Veja, Cid teria violado os termos do acordo ao manter atividade em redes sociais por meio de um perfil falso, contrariando o que disse ao ministro Alexandre de Moraes.

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Durante o interrogatório, Cid negou ter utilizado redes sociais no período de restrições impostas pelo acordo. No entanto, a Veja publicou prints que mostram postagens feitas pelo perfil @gabrielar702 — que seria operado por ele — com comentários sobre os bastidores da investigação.
Em algumas mensagens, o militar apresentava versões diferentes das fornecidas à Polícia Federal (PF) e fazia críticas a Moraes, a quem chamou de “cão de ataque”.
Ao ser confrontado em plenário pelo advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, Cid negou conhecer o perfil em questão. No entanto, hesitou ao dizer que não sabia se ele pertencia à esposa. Após o depoimento, Vilardi declarou ao STF que Cid mentiu deliberadamente e acusou o militar de ter “memória seletiva”.
Os diálogos, segundo a revista, teriam ocorrido entre janeiro e março de 2024, cinco meses após a formalização do acordo de colaboração. Nas mensagens, Cid demonstrava ceticismo com relação à sua absolvição e dizia que somente o Congresso ou uma eventual vitória de Donald Trump nos EUA poderiam reverter sua situação. Em tom conspiratório, relatava que os coronéis da PM do DF “vão pegar 30 anos” e que o STF estaria “comprometido”.
Além das críticas aos investigadores e ao relator do caso, os prints indicam que Cid revelou conteúdos sigilosos das audiências e minimizou o envolvimento de Bolsonaro na tentativa de golpe.
As declarações contrastam com sua delação, que embasou a denúncia contra o ex-presidente, ex-ministros e militares — incluindo a acusação de que Bolsonaro editou uma minuta de decreto para intervir no processo eleitoral.
A eventual anulação da colaboração pode expor Cid à mesma pena dos demais réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista, com possibilidade de condenação superior a 30 anos de prisão. O acordo firmado previa perdão judicial ou pena inferior a dois anos.
Aliados de Bolsonaro acreditam que a revelação tornará inevitável uma nova convocação de Cid por Alexandre de Moraes, com risco de nova prisão. Avaliam ainda que o episódio pode fortalecer pedidos de nulidade e questionamentos sobre a legalidade do processo. Embora o STF não indique, até o momento, disposição para anular a delação, a crise fragiliza a principal peça de acusação contra os investigados.
A defesa de Bolsonaro já havia pedido a invalidação do acordo, alegando contradições e “vícios insanáveis” nas declarações de Cid. O episódio agora reforça o argumento de que o delator conduziu uma estratégia de “jogo duplo”, comprometendo a integridade das investigações.
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Fonte: InfoMoney