O caos no mercado e a incerteza econômica têm sido uma característica dos primeiros meses do presidente Donald Trump em sua volta ao cargo. O DealBook analisa os marcos e o que esperar a seguir.
Começo turbulento
Quando o presidente Trump assumiu o cargo em janeiro para seu segundo mandato, os líderes empresariais anteciparam uma administração que reduziria impostos, afrouxaria regulamentos e abriria oportunidades de negócios. Em vez disso, Wall Street recebeu caos.
O presidente atacou o comércio global com enormes tarifas, ameaçou a independência do Federal Reserve [Fed, o banco central americano] e tornou o cenário para fusões e aquisições mais incerto.
Sob Trump, o S&P 500 caiu cerca de 8%, a pior performance nos primeiros 100 dias de um mandato desde o presidente Gerald Ford em 1974. Naquela época, o escândalo de Watergate provocou instabilidade política e a economia enfrentava uma recessão e uma crise do petróleo.
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Neste ano, os mercados foram severamente impactados pela política comercial protecionista do presidente.
Aqui estão os temas que definiram os primeiros 100 dias de Trump no cargo. O presidente comemorará a ocasião com um comício em Michigan esta noite, e a Casa Branca deve anunciar alívio nas tarifas sobre automóveis.
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Nesse sentido, a General Motors, na terça-feira, retirou sua previsão para o ano, ao relatar resultados do primeiro trimestre. “A orientação anterior não pode ser considerada confiável” em meio à incerteza das tarifas, disse Paul Jacobson, CFO da empresa.
Mercados e economia
Trump herdou um mercado de trabalho robusto, uma economia em crescimento invejável e um mercado de ações recorde. Muitos investidores estrangeiros ignoraram a incerteza inflacionária e a montanha de dívida federal para investir em ativos americanos, dando origem à ideia de “excepcionalismo americano”.
Grande parte disso foi prejudicado pela guerra comercial de Trump. Suas tarifas, o nível mais alto em um século, afetaram as cadeias de suprimentos globais e redesenharam alianças comerciais, minaram a confiança de empresas e consumidores e aumentaram as chances de uma recessão.
Os investidores agora falam sobre “vender América”. A condução da economia por Trump, um ponto forte de longa data, está pesando em sua popularidade, mostrou a última pesquisa Times/Siena College.
Outro possível golpe: a Amazon supostamente começará a detalhar o custo das tarifas no preço final de um item, de acordo com o Punchbowl News.
As próximas semanas podem ser decisivas. O impacto das tarifas ainda não se refletiu significativamente nos relatórios de inflação, PIB e emprego. Isso pode mudar com novos dados previstos para esta semana, colocando o Fed em um limbo prolongado em relação às taxas de juros.
Todos os olhares estarão voltados para acordos comerciais. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse na segunda-feira (28) que um acordo com a Índia poderia ser fechado primeiro, oferecendo pistas sobre o que o governo pode alcançar. Ainda assim, um acordo com a China, o maior a ser alcançado, parece distante.
A questão: a turbulência tarifária prejudicará outras áreas da agenda de Trump, incluindo cortes de impostos?
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Cortes do governo
Quando o DealBook resumiu a primeira semana de Trump, mencionamos o “fator Elon Musk”, a probabilidade de que Trump e o homem mais rico do mundo em breve acharem o cenário global pequeno demais para compartilhar. A primeira fissura surgiu logo após a posse de Trump: Musk descartou uma iniciativa de IA de US$ 100 bilhões, que foi o primeiro grande acordo de tecnologia do presidente.
Na semana passada, Musk anunciou que passaria menos tempo em Washington a partir de maio, afirmando que o principal trabalho de implementação de seu esforço de corte de custos estava em grande parte concluído. Dito isso, o objetivo de sua iniciativa é economizar cerca de US$ 150 bilhões, abaixo dos US$ 2 trilhões anteriores.
Aqui está um pouco do que Musk fez em seus cerca de 100 dias de mandato:
Desmantelou efetivamente a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que empregava 10.000 pessoas.
Demitiu pelo menos 1.200 funcionários do Instituto Nacional de Saúde (NIH) e propôs cortar até US$ 5 bilhões em verbas anuais estimadas para a agência de pesquisa.
Demitiu milhares de funcionários civis do Departamento de Defesa com a expectativa de mais 55.000 cortes.
Ajudou a cortar o que pode equivaler a cerca de um terço da força de trabalho do IRS por meio de demissões e demissões adiadas.
Cortou bilhões em gastos no Serviço Postal dos EUA e planeja demitir até 10.000 pessoas.
Ao todo, o grupo de Musk eliminou mais de 200.000 cargos federais até março, de acordo com uma estimativa da empresa de recolocação Challenger, Gray & Christmas. De acordo com uma análise, os cortes de Musk acabarão custando aos contribuintes US$ 135 bilhões em perda de produtividade, recontratações e licenças remuneradas para milhares de pessoas.
Uma grande redefinição ocorreu em março. Em uma reunião de gabinete explosiva, Musk discutiu com o Secretário de Estado Marco Rubio, acusando-o de não fazer o suficiente para cortar custos. “Você não demitiu ninguém”, disse Musk.
Trump acabou defendendo Rubio e estabeleceu regras básicas: os chefes de gabinete comandariam seus departamentos e Musk seria um conselheiro. Foi o primeiro sinal claro de que o presidente estava disposto a impor limites ao poder do bilionário.
O que esperar a seguir: Musk pode estar prestes a dedicar menos tempo ao seu trabalho governamental, mas esperem mais cortes. O governo busca economias para compensar o impacto previsto da extensão dos cortes de impostos corporativos, nos quais o Congresso está trabalhando esta semana.
Reduções na força de trabalho federal podem aparecer no relatório de empregos de sexta-feira. Economistas esperam que cerca de 150.000 empregos tenham sido criados em abril, uma queda acentuada em relação aos 228.000 em março.
Ataque às instituições
Trump não atacou apenas as universidades e a profissão jurídica — o que por si só seria pouco convencional — mas também mirou em instituições específicas, atos que antes eram impensáveis.
Trump mirou em algumas instituições de ensino de elite. Um dos principais motivos que ele citou é o que chamou de fracasso no combate ao antissemitismo. Muitas, como a Universidade de Columbia, cederam às exigências na esperança de recuperar bolsas e contratos cancelados.
Na semana passada, Harvard se tornou a primeira universidade a processar o governo por causa da repressão. A universidade recebeu uma lista de exigências mais onerosas, e sua resistência pode ter ajudado a impulsionar uma coalizão de 400 líderes universitários a reagir. Em resposta, o governo Trump congelou US$ 2,2 bilhões em financiamento de bolsas e está avaliando a revogação do status de isenção fiscal de Harvard.
(Centenas de advogados têm deixado a divisão de direitos civis do Departamento de Justiça nos últimos dias, após serem instruídos a se concentrar em casos contra a Ivy League.)
Trump também atacou o setor de advocacia. Ele emitiu ordens executivas para revogar as autorizações de segurança de vários escritórios de advocacia, necessárias para a realização de grande parte de seus trabalhos.
Os escritórios se dividiram em dois grupos. Alguns, como Paul Weiss, negociaram acordos com Trump que incluem centenas de milhões de dólares em trabalho pro bono. Outros, como Jenner & Block, entraram com ações judiciais para bloquear as ordens.
Ambas as campanhas incluem esforços para interromper os programas de DEI [sigla para diversidade, equidade e inclusão]. As exigências de Trump a Harvard, por exemplo, incluíam “todas as preferências baseadas em raça, cor e nacionalidade”. O acordo de Paul Weiss exigia que o escritório reiterasse seu compromisso com “contratação, promoção e retenção baseadas em mérito” e contratasse um especialista externo para auditar suas práticas de recrutamento.
O que esperar a seguir: Agora a bola está nos tribunais. O processo de Harvard argumenta que o governo busca controle inconstitucional sobre a universidade e que ignorou o devido processo legal. Até o momento, não buscou uma liminar, um sinal de que acredita que o tribunal poderá agir rapidamente.
E na semana passada, dois juízes federais pareceram receptivos aos argumentos de dois grandes escritórios de advocacia, Perkins Coie e WilmerHale, de que as ordens contra eles deveriam ser bloqueadas permanentemente por violarem flagrantemente a Constituição.
O resultado desses casos pode ajudar a determinar se os ataques de Trump gerarão mudanças duradouras no funcionamento das instituições americanas — ou apenas manchetes.
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