Se você mora em condomínio, já deve ter cruzado com uma dessas lojinhas compactas, abertas 24 horas, onde ninguém atende e tudo funciona com QR Code e confiança.
Os minimercados autônomos — também chamados de honest markets — viraram febre no Brasil nos últimos anos, impulsionados pela pandemia e pela busca por conveniência. E nesse universo, poucas empresas cresceram tanto quanto a SmartStore.
Fundada pouco antes da covid-19, a empresa surfou a onda da transformação no varejo e agora quer mais: sair dos atuais 311 milhões de reais para meio bilhão de reais de faturamento até 2030. Para isso, aposta em expansão internacional (incluindo países como Austrália, Chile e Argentina), tecnologia de inteligência artificial e uma obsessão por melhorar a performance de cada loja da rede.
“Já somos uma empresa multinacional em estrutura, processos e governança corporativa”, diz Oberdan Siqueira, diretor de operações da companhia.
A empresa atua hoje com 1.870 unidades, sendo 1.840 no Brasil, 10 nos Estados Unidos e 20 na Colômbia. A projeção é alcançar 3.000 lojas até o fim da década. Com presença dominante em condomínios residenciais, o modelo de licenciamento da SmartStore tem se expandido também para hotéis e empresas, além de explorar parcerias internacionais em países como Argentina, Chile, Austrália e Alemanha.
De Campinas para o mundo
A SmartStore nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, em 2019.
A ideia do negócio surgiu em um evento corporativo, durante uma dinâmica em grupo. O embrião da empresa foi desenvolvido por um dos sócios, Evandro Machado, que já atuava no setor de franquias. Oberdan entrou logo depois, como executivo responsável pela expansão.
“Comecei sozinho, negociando ponto a ponto. Hoje, meu departamento tem 25 pessoas e cobre tanto o Brasil quanto os projetos internacionais“, afirma.
O modelo ganhou tração com a pandemia. Com as pessoas isoladas em casa, a proposta de levar uma loja autônoma para dentro dos condomínios encontrou terreno fértil.
“Em 2020, terminamos o ano com 40 lojas. Hoje abrimos de 30 a 40 novas unidades por mês”, diz Oberdan.
Apesar de oferecer suporte similar ao de uma franqueadora, a empresa optou por operar por meio de licenciamento, o que permite mais flexibilidade no mix de produtos e na adaptação ao perfil de cada local. “Mesmo com essa flexibilidade, entregamos tudo que uma franqueadora tradicional oferece.”
Estratégia: crescer com qualidade
Mais do que quantidade de lojas, a SmartStore tem como foco a performance da rede.
Lojas com mais de 12 meses de operação são incentivadas a crescer entre 15% e 20% ao ano. Esse acompanhamento é feito por meio do SmartHealth, sistema proprietário que monitora todos os dados operacionais da unidade, como ticket médio, horários de pico, giro de produtos, NPS e abastecimento ideal.
“Se uma loja deveria faturar R$ 20 mil e está em R$ 10 mil, o sistema já aciona um alerta e nossa equipe de consultores entra em contato para entender o que está acontecendo e sugerir melhorias”, afirma o executivo. Quando necessário, a loja pode até ser repassada a outro operador. “Loja boa não é só a que vende, é a que é bem gerida.”
A tecnologia também ajuda a evitar perdas.
Enquanto o varejo tradicional lida com até 6% de perdas por furtos e quebras, a média da SmartStore é de 1,5%. Desses, 80% são recuperados por meio de identificação por câmeras e abordagens amigáveis aos clientes. “O ambiente dos condomínios facilita. A gente entra em contato com a pessoa e, na maioria dos casos, ela paga.”
A força da inteligência artificial
O SmartHealth é abastecido por IA — uma tecnologia essencial para escalar o modelo com eficiência. A rede processa mensalmente mais de 3,5 milhões de itens e cadastra cerca de 4.000 novos produtos. São cerca de 1,8 milhão de notas fiscais emitidas por mês, todas integradas ao sistema.
Sem a automação, diz Oberdan, cada loja precisaria de dois a três funcionários apenas para a parte administrativa. “Com a IA, o licenciado cuida da loja, da limpeza, do abastecimento e a tecnologia faz o resto.”
Além disso, a empresa está testando algoritmos que analisam padrões de comportamento para prever tentativas de furto, com base em vídeos e interações dentro das lojas. “É um recurso que deve tornar a operação ainda mais segura e eficiente.”
Um mercado em consolidação
Os minimercados autônomos se tornaram uma febre no Brasil após a pandemia. Hoje há mais de 10 mil unidades em operação, segundo estimativas do setor, com faturamento entre R$ 1,5 bilhão e R$ 3 bilhões anuais. A expectativa é que esse número chegue a 50 mil unidades e R$ 6 bilhões de faturamento até 2030. Ainda assim, apenas 10% dos condomínios do país têm lojas do tipo, o que mostra o potencial de crescimento.
Para Oberdan, o mercado tende a se consolidar em poucas marcas. “Acredito que, em breve, veremos quatro ou cinco marcas principais, algumas mais regionalizadas. Mas tem espaço. Condomínios continuam sendo construídos todos os dias e, além disso, estamos explorando novos nichos como hotéis e empresas.”
Com operações já em curso nos Estados Unidos e Colômbia, a SmartStore prepara sua segunda onda de internacionalização. A empresa está em negociações com parceiros na Austrália, Argentina, Chile e até Alemanha. “Nos EUA, enfrentamos barreiras regulatórias e o desafio de explicar o conceito ao americano, acostumado com vending machines. Mas hoje já temos dez lojas em operação lá e mais 10 a 15 em negociação.”
Na Colômbia, a adaptação foi mais tranquila. O foco agora é expandir para Bogotá, além de Medellín. “Nosso objetivo é que, até 2030, metade do nosso faturamento venha do mercado internacional. Estamos construindo para isso.”
Com uma estratégia afinada, base tecnológica robusta e um mercado ainda em amadurecimento, a SmartStore acelera em ritmo próprio — e com ambição de se tornar um player global do varejo de proximidade.
Fonte: Exame