O mercado de capitais brasileiro, em especial o segmento de crédito privado, tem descolado do cenário macroeconômico mais desafiador. A avaliação é de Samer Serhan, sócio e CIO de Crédito Privado e Infraestrutura da JiveMauá, que vê um “paradoxo” entre os fundamentos da economia e o ritmo das emissões no mercado.
“O Brasil está num paradoxo muito grande entre o que entendemos como macroeconomia e o que é o mercado de capitais”, afirmou Serhan, durante evento realizado pela TAG Investimentos nesta terça-feira (06), em São Paulo (SP).
“Apesar de a economia estar se comportando como há 40 anos, o mercado de capitais, principalmente no que se refere à renda fixa e crédito privado, está dez anos à frente”, continuou o especialista.
Leia também: Debêntures incentivadas podem assumir protagonismo com a ajuda das pessoas físicas?
Em 2024, as emissões de crédito privado somaram quase R$ 800 bilhões — o maior volume da série histórica, mesmo com a taxa Selic acima de 14% ao longo do ano, apontou Serhan. A expectativa era de arrefecimento em 2025, mas o primeiro trimestre contrariou as projeções.
“Começamos 2025 com todo mundo crente que ia ter um arrefecimento das emissões de crédito privado. Mas veio o primeiro trimestre com recorde histórico, superando os trimestres anteriores da série”, destacou o executivo.
Para Serhan, o movimento reflete um amadurecimento do mercado, apesar das fragilidades do cenário fiscal. “É indiscutível que estamos no momento macro mais sensível, com o fiscal mais no limite do que o governo e o país de fato aguentam”, afirmou. “Mas o que está acontecendo no crédito privado é muito saudável, principalmente nas companhias que acessam o mercado de capitais.”
Leia também: De empresas fechadas ao Bitcoin: as apostas de Larry Fink, da gigante BlackRock
Segundo ele, os resultados das empresas ajudam a sustentar esse apetite. “A economia real está num bom momento. Pelo menos no que diz respeito a balancete patrimonial e resultado das companhias, está muito melhor”, pontuou.
Ainda assim, o gestor ressalta que o momento exige cautela. “Num cenário macro tão ruim, todo mundo aqui está sendo seletivo e cuidadoso na hora de fazer as alocações. Mas ninguém é maluco.”
Essa seletividade, segundo Francisca Brasileiro, diretora de Investment Solutions da TAG Investimentos, é o que define a diferença entre retornos saudáveis e situações de estresse.
“A seletividade é a diferença entre um bom resultado no crédito e estresse. A gente tem uma aversão a risco muito maior no crédito do que na renda variável ou multimercado, porque crédito entra na renda fixa — e todo mundo espera que renda fixa seja fixa”, disse também durante painel do evento.
Leia também: Crédito privado é seguro em meio à onda de recuperações judiciais e juros altos?
Ela lembrou que, quando há problemas com ativos de crédito, eles ganham nome e repercussão. “Americanas, UniGel… parece que viram monstros. Como não era esperado que tivesse problema, quando tem, é muito difícil explicar, dá muito mais trabalho do que quando ações ou fundos multimercado vão mal”, afirmou.
Para ela, o amadurecimento do mercado e o aumento da sofisticação das gestoras trazem um novo padrão de exigência. “Estamos falando da seletividade do trabalho dos gestores.”
The post Crédito privado vive boom apesar do cenário macro delicado, diz CIO da JiveMauá appeared first on InfoMoney.
Fonte: InfoMoney