Na manhã da terça-feira (13), as imagens da Cracolândia esvaziada, na rua dos Protestantes, na região central de São Paulo, chamaram a atenção. O que antes era um ponto de concentração de centenas de usuários de drogas apareceu vazio, em um cenário que dividiu opiniões entre autoridades e movimentos sociais.
O vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo (PL), comemorou o esvaziamento, parabenizando a atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e de outras forças de segurança. “Estamos vencendo essa guerra”, declarou em publicações nas redes sociais.
Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB) adotou um tom mais cauteloso, afirmando que ainda está tentando entender o que ocorreu. “Surpreendeu a prefeitura. Mas, obviamente, a gente já vinha reduzindo gradativamente. Todos os dias vinha reduzindo a quantidade de pessoas lá”, afirmou.

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Para onde foram os usuários?
Embora autoridades municipais celebrem o desaparecimento do “fluxo” — como é chamado o grupo de dependentes que circula pela Cracolândia —, movimentos sociais que acompanham a situação contestam a versão oficial. Segundo o Craco Resiste, projeto que monitora a região há anos, os usuários não deixaram de existir, mas apenas foram deslocados para outras áreas do centro da cidade, como o Minhocão, Santa Cecília e avenidas próximas.
A resposta pode estar relacionada com o aumento da violência nas abordagens da GCM. Usuários teriam sido vítimas de agressões físicas, spray de pimenta e perda de pertences durante ações de repressão. O movimento denuncia o que chama de “tortura a céu aberto”, com revistas vexatórias e dificuldades de acesso à água.
Profissionais de saúde e assistência social que acompanhavam os usuários também relatam dificuldades para encontrar pacientes que estavam em tratamento. Muitos perderam o contato, e a distribuição de medicamentos foi interrompida.
Cenário de conflito e disputa de narrativas
O esvaziamento da Cracolândia ocorre em meio a uma série de ações da prefeitura de São Paulo para “revitalizar” o centro da cidade, incluindo a construção de um muro na região, em janeiro deste ano. O local era considerado um ponto crítico, onde centenas de usuários se concentravam diariamente. Na época, a Defensoria Pública classificou o espaço como um “curral humano”.
A dispersão dos usuários, contudo, não significa uma solução, mas apenas o agravamento do problema, uma vez que eles se espalharam por outras áreas da cidade sem qualquer suporte.
O que dizem as autoridades?
O governo municipal defende que a redução no número de usuários é resultado de ações integradas de saúde e segurança, com o encaminhamento de dependentes para tratamentos e o retorno de alguns deles aos seus estados de origem.
“Estamos tentando dar uma solução para essas pessoas, oferecendo acolhimento e tratamento. Mas não é um problema que se resolve da noite para o dia”, afirmou o prefeito Ricardo Nunes.
A abordagem policial na região tem sido alvo de críticas, mas o vice-prefeito Coronel Mello Araújo defende a ação da GCM como necessária para garantir a segurança da população.
O futuro da cracolândia
O esvaziamento da rua dos Protestantes pode parecer uma vitória para o governo municipal, mas especialistas alertam que o problema da Cracolândia não se resolve com dispersão. Sem políticas públicas de saúde e reintegração efetivas, os dependentes químicos apenas migram para novas áreas, onde seguem enfrentando violência e exclusão.
O desafio agora é monitorar os novos pontos de concentração e garantir que os usuários tenham acesso ao tratamento necessário, enquanto o governo paulista e a prefeitura tentam definir uma estratégia de longo prazo para lidar com a questão.
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Fonte: InfoMoney