Os mercados financeiros se voltam nesta quarta-feira (7) para dois eventos que têm potencial de alterar o rumo dos investimentos no curto prazo: a decisão de juros do Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e do Comitê de Política Monetária (Copom), no Brasil. As expectativas estão relativamente bem ancoradas quanto ao conteúdo de cada reunião, mas o tom dos comunicados que sucedem as reuniões e as possíveis pistas sobre os próximos passos dos dois bancos centrais mantêm os investidores em estado de alerta.
No Brasil, a maioria dos economistas projeta um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, levando os juros básicos da economia para 14,75% ao ano, nível não registrado desde agosto de 2006. A decisão ocorre em um contexto de inflação persistente e de desconfiança em relação à condução da política fiscal, o que, segundo especialistas, aumenta a necessidade de juros mais altos para controlar os preços.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que o Banco Central tem como principal objetivo garantir que a inflação fique dentro da meta estabelecida, e para isso, adota uma série de medidas no campo da política monetária. No momento, a economia brasileira está aquecida, com níveis de atividade econômica elevados e uma inflação que se mantém acima do alvo. Isso coloca o BC em uma posição onde o uso de juros altos é necessário para conter a pressão sobre os preços, mantendo a economia sob controle. No entanto, esse quadro pode se tornar ainda mais problemático caso o ritmo de crescimento econômico continue sem desacelerar.
Se os dados econômicos futuros indicarem uma intensificação desse cenário, com inflação mais alta e atividade econômica mais forte do que o esperado, a tendência é que o BC precise adotar uma postura ainda mais contracionista. Isso significaria a elevação dos juros, com o intuito de esfriar a economia e garantir que os preços não escapem da meta. A política monetária, nesse sentido, precisa ser ajustada com base na evolução dos indicadores, o que exige do Banco Central uma análise constante do cenário interno e externo, para não comprometer o equilíbrio entre crescimento e controle inflacionário.
“Por outro lado, dados que mostrem o desaquecimento econômico e o arrefecimento inflacionário só modificarão a postura do BC (que não rege intempestivamente aos dados de alta frequência) se, a partir de um amplo conjunto de dados, sinalizarem expressamente a consolidação do desaquecimento econômico e a conversão da inflação rumo à meta”, diz Argenta.
Na mesma linha, o Itaú BBA aponta que o Brasil enfrenta uma desaceleração gradual da atividade interna, enquanto a incerteza externa pode gerar um impacto desinflacionário, exigindo cautela nas próximas decisões do Copom. Em relatório, os analistas indicam que as expectativas de inflação seguem desalinhadas, o que continua a pressionar as projeções do Banco Central. Para o BBA, o Comitê deve permanecer vigilante, avaliando se os ajustes na política monetária são suficientes para garantir a convergência da inflação à meta, evitando uma reversão prematura das medidas.
O banco também destaca que o ambiente econômico atual no Brasil apresenta semelhanças com crises passadas, como a Crise Financeira Global de 2008 e a Crise da Dívida Europeia de 2011. Embora as circunstâncias não sejam idênticas, o banco diz que o Copom pode adotar diferentes respostas, conforme o comportamento da inflação e das expectativas. Caso a atividade econômica surpreenda negativamente, o Comitê ainda tem margem para reduzir a taxa de juros porque a Selic não está próxima de seu limite inferior.
O que está em jogo na decisão do Fed
Nos Estados Unidos, o Fed deve manter a taxa básica de juros inalterada, entre 4,25% e 4,5% ao ano. O comportamento da inflação e suas perspectivas para o futuro têm sido os principais pontos de atenção nas decisões do Federal Reserve (Fed), com destaque para o nível de desemprego nos Estados Unidos, que continua historicamente baixo, e o crescimento dos salários, embora em ritmo decrescente.
Especialistas afirmam que a autoridade monetária americana vem adotando uma postura mais conservadora desde o início do ano, com receio de que uma mudança prematura na política monetária reacenda pressões inflacionárias. Ao mesmo tempo, a pressão política para que o banco central comece a cortar os juros já está em curso — especialmente por parte de aliados do ex-presidente Donald Trump, que considera a política atual excessivamente restritiva para um país que busca sustentar o ritmo de crescimento às vésperas de um ciclo eleitoral.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, observa que a inflação dos EUA, apesar de não mostrar os mesmos índices elevados vistos no pós-pandemia, continua apresentando resistência, especialmente em setores como o de serviços, onde as pressões de preços são mais persistentes. Esses fatores tornam a tarefa do Fed mais difícil porque a autoridade monetária precisa ajustar as taxas de juros sem comprometer o crescimento econômico.
Pizzani também chama a atenção para o fato de que, embora o mercado especule sobre uma possível recessão, a economia dos Estados Unidos mantém sua capacidade de crescimento sustentado, especialmente impulsionada pelo consumo das famílias. Apesar da retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2025, que foi em grande parte causada pelo aumento das importações e pela redução dos gastos públicos, o economista afirma que o consumo interno e os investimentos privados continuam expandindo. Isso aponta para uma economia ainda forte, capaz de sustentar o crescimento, mesmo em meio a entraves globais.
Influências
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, os juros elevados nos Estados Unidos tendem a atrair investidores para os ativos de renda fixa do país, reduzindo o apetite por aplicações em economias emergentes como o Brasil. Essa movimentação de capital, segundo ele, reforça a valorização do dólar frente a outras moedas. Ao mesmo tempo, as taxas mais altas contribuem para conter a inflação americana, funcionando como um freio diante das pressões recentes causadas por elevações tarifárias sobre produtos importados.
Na avaliação de Igliori, a decisão do Federal Reserve de manter os juros estáveis em maio pode provocar um leve fortalecimento da moeda americana. No entanto, ele pondera que os movimentos do câmbio nos últimos meses estão sendo influenciados com mais intensidade por fatores políticos internos, ligados às diretrizes econômicas adotadas pelo novo governo dos EUA, do que propriamente pelas ações do banco central norte-americano.
O economista aponta que, embora a política monetária tenha seu peso, as sinalizações fiscais e comerciais da nova gestão têm alterado as percepções de risco e afetado diretamente o fluxo de capitais. Nesse ambiente, investidores passam a reavaliar suas posições com base nas taxas de juros e considerando a direção das políticas públicas e seu potencial efeito sobre a inflação, o crescimento e o comércio global.
Como o mercado deve reagir
Marcos Weigt, diretor de Tesouraria do Travelex Bank, diz que, se o Fed mantiver os juros e reforçar uma postura conservadora, o dólar pode se valorizar e as bolsas globais podem recuar. No Brasil, uma alta inesperada mais forte da Selic tende a valorizar o real no curto prazo, mas pode gerar cautela na bolsa diante do impacto nos custos financeiros das empresas.
Como a elevação da Selic e a manutenção da taxa de juros americanas já estão amplamente precificadas, Weigt avalia que o impacto imediato nos mercados tende a ser limitado. Segundo ele, mais do que a decisão em si, o foco recai sobre o comunicado que será divulgado após a reunião.
Investidores e analistas estarão atentos à linguagem do Copom para captar qualquer sinal sobre os próximos passos da autoridade monetária. “O alerta é se o Banco Central indicará o fim do ciclo ou abrirá margem para novos ajustes. A decisão consolida o esforço de ancorar expectativas inflacionárias e reforça o compromisso com a condução técnica da política monetária, o que pode contribuir para maior previsibilidade no curto prazo, sem gerar choques nos ativos domésticos”, explica.
Na mesma linha, Igliori, da Nomad, acredita que, caso a decisão não traga surpresas, a reação dos mercados deve ser contida. Segundo ele, a manutenção de uma linha clara e consistente por parte do Banco Central pode estimular uma leitura mais positiva dos investidores, embora os movimentos recentes dos ativos estejam mais associados às políticas econômicas do governo norte-americano e às respostas de países afetados pelas novas tarifas comerciais do que às taxas de juros em si.
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Fonte: InfoMoney