Na contramão do que boa parte do mercado esperava, o Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (18), subir a taxa básica de juros para 15% ao ano. Com isto, a atratividade da renda fixa também sobe e a classe segue oferecendo retornos atrativos mesmo quando o risco é baixo. Mas algumas recomendações de alocação dos especialistas em títulos públicos e privados mudaram.
Com os juros ainda em patamares elevados, não investir em renda fixa significa aumentar o custo de oportunidade – termo que fala sobre o que pode ser perdido ao escolher uma alternativa em detrimento de outra – do portfólio, segundo Leonardo Araújo, especialista em investimentos e sócio da GT Capital.
Para especialistas entrevistados pelo InfoMoney, há oportunidades para todos os perfis de investidores nos títulos públicos e papéis emitidos por empresas. O erro, porém, pode estar no vencimento dos papéis ou no nível de risco contratado. Confira as recomendações de alocação em renda fixa após a manutenção da Selic:
Títulos públicos
A atratividade do Tesouro Selic, considerado o investimento mais seguro do Brasil e que remunera conforme a taxa básica de juros, aumenta após a decisão do BC. Essa opção “continua imbatível para quem quer liquidez, segurança e não quer oscilar”, diz Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital.
Diante de um cenário de incertezas e de uma Bolsa considerada barata, mas que tem os preços travados por diversos fatores macroeconômicos, o Tesouro Selic se apresenta como uma opção segura e rentável para quem quer o dinheiro rendendo enquanto espera pelo melhor momento de ir para outras aplicações.
Os títulos atrelados à inflação também seguem entre os favoritos dos especialistas. “Pós-fixados e atrelados ao IPCA são os nossos preferidos”, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da XP. Ela explica que o Tesouro IPCA+ protege contra a inflação “que continua desancorada”, além de oferecer juro real “bastante elevado”.
Dolle diz que a recomendação da XP nos títulos híbridos é de uma duration (prazo médio de recebimento) entre cinco e seis anos, algo parecido com a recomendação entre cinco e sete anos de Lucas Ghilardi, sócio da The Hill Capital. “Na nossa visão, a melhor ‘aposta’ é sempre em IPCA+, pois garante um ganho real de 7% acima da inflação no Brasil por um período estendido e costuma superar o CDI com folga em muito pouco tempo”.
A novidade entre os títulos públicos está na recomendação de investimento no Tesouro Prefixado. O título era o “patinho feio” da renda fixa enquanto os juros estavam subindo e o mercado não tinha pistas mais concretas sobre o início do ciclo de queda da Selic.
Agora, apesar da recente alta dos juros, os cortes já estão no horizonte. Araújo, da GT Capital, diz que “talvez este seja o melhor momento” para investir em prefixados”. Ele explica que “sempre que o mercado começa a sinalizar o fim do ciclo de alta de juros, os prefixados ganham atratividade, porque, ao travar a taxa agora, é possível garantir um retorno elevado por vários anos, mesmo que a Selic comece a cair nos próximos trimestres”.
“Atualmente, vemos prêmios atrativos nos prefixados de médio prazo, com taxas nominais acima de 13% ao ano em alguns vencimentos. Se o cenário se estabilizar, mesmo que lentamente, esses papéis podem entregar um excelente retorno, inclusive com valorização no secundário”.
Crédito privado
Nos títulos corporativos e bancários, a grande preocupação é com a saúde financeira das companhias. Afinal, o investidor precisa se preocupar com a capacidade das empresas de pagar as dívidas contratadas via debêntures, CRIs, CRAs, LCIs, LCAs ou CDBs. Para Luiz Christ, gestor de crédito da Principal Asset, “a principal questão é por quanto tempo o Banco Central vai manter os juros elevados, porque isso impacta a geração de caixa e o quanto sobra para pagar as dívidas”.
Camilla Dolle conta que o time de renda fixa faz um acompanhamento trimestral de 59 empresas que acessam o mercado de capitais e as companhias “continuam com bons indicadores de crédito”, apesar do patamar restritivo da Selic.
“O processo mecânico de que vai subir juros e as empresas vão quebrar mudou porque a dinâmica de quem concede crédito e quem é o credor daquela empresa, mudou. Em um cenário mais macro, o sistema financeiro brasileiro de mercado de capitais, de crédito privado no Brasil e securitizações como um todo, está muito melhor, está em muito melhor forma do que foi há 10, 20 anos atrás.”, afirma Samer Serhan, CIO e responsável pela área de crédito privado da JiveMauá.
Outra preocupação frequente dos investidores é em relação aos spreads – quanto as empresas pagam a mais na comparação com títulos públicos de referência. Com a Medida Provisória que taxa instrumentos antes isentos, como debêntures incentivadas, letras de crédito e certificados de recebíveis, os prêmios, que já vinham sendo considerados baixos, foram ainda mais comprimidos, com investidores correndo para comprar os papéis antes da incidência de Imposto de Renda, conta Dolle.
“Hoje, empresas de boa qualidade, de saneamento, no setor elétrico, de rodovias e até bancos via letras financeiras, estão pagando muito pouco”, diz Christ. No entanto, ainda há papéis com retorno ajustado ao risco, garante o gestor. Títulos de empresas com alavancagem “um pouco acima do normal” ainda oferecem boas taxas, diz o especialista. Mas ele pondera que encontrar essas oportunidades é difícil e mesmo a gestora não vem comprando muitas debêntures.
Para quem, como Marcelo Peixoto, gestor de crédito privado da Trígono, prioriza os fundamentos, os setores defensivos de bancos de primeira linha, saneamento e energia elétrica são opções para evitar qualquer tipo de susto. Ele conta que a casa “deu uma leve encurtada” na duration do portfólio.
Já para quem busca mais rentabilidade, os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) podem ser interessantes. “Temos focado mais nos FIDCs, eles vêm crescendo bastante e são mais diversificados do que as letras financeiras”, diz Christ. Ele destaca “prêmios atrativos, ótimo histórico de rentabilidade e baixa inadimplência”.
A recomendação da XP é “buscar empresas com boa qualidade de crédito, de preferência em setores não cíclicos, que não vão acompanhar a atividade econômica”, segundo Camilla Dolle.
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Fonte: InfoMoney