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Como as minhocas podem desafiar Darwin

Pesquisadores na Espanha descobriram que vermes marinhos sofreram uma reorganização radical em seus genomas. O fenômeno ocorreu há cerca de 200 milhões de anos, quando estes organismos começaram a migrar para ambientes terrestres.

A descoberta reforça a teoria do “equilíbrio pontuado”, segundo a qual a evolução ocorre em saltos rápidos, e não de forma lenta e contínua, como propôs Darwin. O estudo publicado no portal eurekalert traz uma nova visão sobre a evolução animal e a formação do DNA.

A pesquisa foi liderada pelo Instituto de Biologia Evolutiva (IBE), um centro vinculado ao Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha (CSIC) e à Universidade Pompeu Fabra. Pela primeira vez, cientistas sequenciaram com precisão genomas completos de diversas espécies de minhocas e os compararam com parentes próximos, como sanguessugas e poliquetas.

Estudo sobre o genoma das minhocas

Os pesquisadores conseguiram “voltar no tempo” e investigar como os ancestrais desses vermes se adaptaram à vida fora d’água. Segundo Rosa Fernández, líder do estudo, o que encontraram foi surpreendente, os genomas não mudaram gradualmente, mas passaram por explosões isoladas de reestruturação.

“O que vimos é muito mais compatível com a teoria do equilíbrio pontuado de Gould e Eldredge do que com o modelo gradual de Darwin”, afirma a pesquisadora. A transformação ocorre de forma muito mais “agressiva” do que acreditava Charles, os vermes “quebraram” seus genomas em milhares de fragmentos, reorganizando tudo de forma aleatória.

Como as minhocas podem desafiar Darwin
Imagem: Piyaset/Shutterstock

Uma possível explicação está na estrutura 3D dos cromossomos desses animais, mais flexível que a de vertebrados. Essa maleabilidade permitiria que genes deslocados continuassem a funcionar em conjunto.

Como aconteceu a transformação?

Essa reconfiguração genética teria sido essencial para enfrentar os desafios do novo ambiente, como respirar fora d’água ou resistir à radiação solar. Os cientistas também observaram a criação de “quimeras genéticas”, com genes separados se unindo para formar novas funções. Em vez de levar à extinção, esse caos genético pode ter dado aos vermes uma vantagem evolutiva.

O estudo chama atenção por desafiar ideias tradicionais sobre a estabilidade do genoma. Em muitos animais, como esponjas, corais e mamíferos, as estruturas genéticas permanecem praticamente inalteradas há milhões de anos. Nos vermes, o oposto ocorreu. “Talvez a estabilidade não seja a regra, mas sim a exceção”, sugere Fernández.

29 de junho de 2025 - 10:01
Imagem: Joao.Carraro/Shutterstock

Esse tipo de reorganização extrema já foi observado em células humanas com câncer, num processo chamado cromoanagênese. Mas enquanto, em humanos, isso leva a doenças, nos vermes representou uma solução evolutiva. O achado pode abrir caminhos para compreender melhor a tolerância genética e suas aplicações em saúde humana.

Teoria do equilíbrio pontuado

A teoria do equilíbrio pontuado foi proposta nos anos 1970 para explicar a ausência de fósseis intermediários entre espécies. De acordo com ela, as espécies passam longos períodos estáveis, alternados com fases breves de mudanças rápidas. Embora ainda controversa, a ideia ganha força com evidências como as encontradas agora.

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A líder do estudo destaca que o neo-darwinismo continua sendo um modelo eficaz para explicar a evolução de populações. No entanto, eventos excepcionais como a explosão de vida animal no Cambriano ou a migração do mar para a terra podem estar melhor representados pelo modelo de Gould. “Talvez ambas as visões sejam complementares”, diz Fernández.

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Fonte: Olhar Digital

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