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Com três mortes no estado, febre do oropouche infectou 1.597 pessoas no Rio

Com três mortes no estado, febre do oropouche infectou 1.597 pessoas no Rio

Com quatro mortes confirmadas no Brasil — três delas no Estado do Rio de Janeiro — e 1.597 casos também registrados em território fluminense, a febre oropouche acende o alerta entre as autoridades de saúde. Transmitido pelo inseto Culicoides paraensis, o vírus já soma 77 infecções na capital e, segundo o pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz, reproduz-se melhor em áreas rurais. No entanto, pode se tornar endêmico em áreas urbanas caso encontre condições favoráveis para a proliferação do vetor.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que, na última quinta-feira, cinco municípios concentravam 65% dos casos: Macaé (313), Cachoeiras de Macacu (235), Angra dos Reis (207), Guapimirim (163) e Porciúncula (117) — cidades inseridas no bioma da Mata Atlântica.

Das três pessoas que morreram pelo vírus no estado do Rio, duas são mulheres: uma moradora de Macaé, de 34 anos, e outra de Paraty, de 23 anos. Ambas apresentaram os primeiros sintomas em março deste ano, foram internadas e vieram a óbito dias depois. A primeira morte confirmada foi a de um homem de 64 anos, morador de Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana. Ele foi internado em fevereiro e morreu quase um mês depois.

O secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, diz que doenças transmitidas por mosquitos tendem a diminuir no inverno e ressalta que a preocupação da cidade no momento é a gripe:

— Sempre é um momento de alerta. Doenças por transmissão de mosquito no período de inverno tendem a diminuir, mas vamos ter um próximo verão que acende o sinal de alerta. Ainda é um número de casos muito menor do que a maioria das outras doenças, mas nos meses de inverno a preocupação é gripe — disse Soranz.

Mário Sergio Ribeiro, subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde do estado, explica que o inseto transmissor da febre oropouche tem como ambiente preferencial áreas silvestres, de mata e rurais. No entanto, nem mesmo a Região Metropolitana I — que inclui a capital, Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, entre outros municípios mais urbanizados — está livre da doença. Já são 205 casos confirmados na região, segundo painel do Centro de Inteligência em Saúde do Rio de Janeiro (CIS-RJ).

— Na área urbana, os casos só ocorrem se o inseto for transportado de alguma forma ou se a pessoa morar em regiões próximas à mata, onde há cultivo de plantas e falta de limpeza nos quintais. A matéria orgânica se acumula e pode se tornar um foco do vetor — explica.

Perfil do inseto

O pesquisador Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que o vírus da febre do oropouche é originário da Região Norte do país, especialmente da Amazônia, onde já circula há décadas. Segundo ele, no início de 2023, houve um aumento significativo de casos no Norte, seguido pela expansão do vírus para estados como Bahia, Piauí, Espírito Santo e, mais recentemente, o Rio de Janeiro.

O vetor da doença, o mosquito Culicoides paraensis, se reproduz em matéria orgânica em decomposição — diferente do Aedes aegypti, que prolifera em água parada. Por isso, plantações como as de bananeiras criam ambientes ideais para o inseto, tanto no clima quente e úmido da Amazônia quanto nas regiões mais amenas do Sul e Sudeste.

— O vírus chegou, encontrou um ambiente propício para se manter e começou a circular. Observamos que os locais onde ele aparece estão, em geral, associados a regiões de produção agrícola. No Sudeste, ele chega no início de 2024, provavelmente trazido por pessoas já infectadas. O inseto vetor encontrou condições para manter a transmissão, explicando o número elevado de casos — detalha Naveca.

Em relação aos sintomas, o pesquisador ressalta que há poucas diferenças entre a febre oropouche e outras arboviroses tropicais comuns no Brasil, como dengue e chikungunya. Por isso, ele destaca a importância de considerar não apenas os sintomas, mas também os locais por onde a pessoa circulou.

— Todas essas doenças têm manifestações muito parecidas. Por isso, é essencial avaliar também os dados epidemiológicos. No Acre, por exemplo, suspeitava-se de um grande surto de dengue, pois os sintomas relatados eram compatíveis. Mas, nos testes laboratoriais, poucos casos davam positivo para dengue. Isso acendeu o alerta de que poderia ser outra coisa, como a febre oropouche — contou o pesquisador.

Mesmo assim, os mais de 1.500 casos registrados em apenas cinco meses deste ano acendem um alerta entre os cariocas. Para o pesquisador Felipe Naveca, a possibilidade de um surto no Sudeste não pode ser descartada — especialmente se o vírus alcançar áreas densamente povoadas, como São Paulo e Rio.

— Se o vírus encontrar ambientes semelhantes no meio urbano, com maior concentração de pessoas, há risco de um aumento expressivo de casos. Tudo vai depender da abundância do inseto transmissor. Esse é um grande desafio no caso da febre do oropouche. Ainda sabemos pouco sobre ela, diferente da dengue — destaca.

Medidas atualizada no Rio

A Secretaria de Estado de Saúde informou que, desde os primeiros casos de febre do oropouche no Rio, em 2024, atualiza os protocolos de vigilância e testagem no Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen-RJ).

Segundo o subsecretário de Vigilância e Atenção Primária, o estado possui capacidade laboratorial para analisar novos casos, com kits fornecidos pelo Ministério da Saúde desde que a doença se disseminou na Amazônia.

A SES-RJ ainda disse que monitora continuamente os casos pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS-RJ) e tem capacitado profissionais dos 92 municípios para melhorar a notificação e o atendimento aos pacientes, especialmente nos casos graves da doença.

Na capital fluminense, a Secretaria Municipal de Saúde reforçou o monitoramento da vigilância epidemiológica e ambiental dos casos confirmados. Segundo a secretaria, a testagem de oropouche foi ampliada nos laboratórios de saúde pública, permitindo maior monitoramento dos casos no último ano.

Quais são os sintomas da febre oropouche?

Os sintomas do oropouche são parecidos com os da dengue. O período de incubação é de quatro e oito dias. O paciente geralmente tem febre, dor de cabeça, dor nas articulações, dor muscular, calafrios e, às vezes, náuseas e vômitos persistentes por até cinco a sete dias.

Como prevenir a proliferação do Culicoides paraensis?

A Secretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde do estado e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio reforçam que, embora a prevenção não seja simples, algumas medidas podem ajudar a conter a proliferação do vetor da febre do oropouche:

  • Evite a exposição a áreas de mata e rurais, como plantações de bananeiras e cacau, que são habitats naturais do inseto.
  • Use óleos corporais e hidratantes ao frequentar regiões úmidas, rurais ou com vegetação densa, para formar uma barreira física contra o inseto.
  • Cubra as áreas expostas do corpo com calças, camisas de manga comprida, meias e sapatos fechados.
  • Instale telas de proteção de malha fina em janelas e mosquiteiros, com tramas inferiores a 1,5 mm.
  • Mantenha os terrenos limpos, principalmente aqueles com plantações, como bananeiras, evitando o acúmulo de matéria orgânica.
  • Evite o acúmulo de lixo e de folhas secas nos quintais.
  • Drene águas pluviais e instale telas em ralos para impedir a entrada de insetos.
  • Limpe regularmente locais de criação de animais, que também podem acumular matéria orgânica.

— A prevenção não é simples, e o cenário é bastante diferente do enfrentamento ao mosquito da dengue. Não temos mecanismos eficazes de controle do Culicoides paraensis. O estado, por exemplo, não pode simplesmente entrar em áreas de mata e eliminar plantações de bananeiras ou cacau, os quais são habitats naturais do inseto. Por isso, a principal forma de prevenção é evitar a exposição a essas áreas — explica o subsecretário.

No município do Rio, ele destaca que qualquer local próximo a florestas e reservas de mata — como Jacarepaguá, com grandes áreas preservadas, e a Zona Norte, onde fica a Floresta da Tijuca — pode se tornar um ambiente favorável ao vetor e, consequentemente, foco de novos casos.

— É importante lembrar que a própria população pode acabar criando ambientes propícios ao inseto. Ele não depende exclusivamente de áreas rurais e pode se estabelecer em quintais com árvores frutíferas ou plantações — alerta Ribeiro.

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Fonte: InfoMoney

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